Renato Gaúcho: discurso otimista na primeira entrevista [foto: FURACAO.COM/Joka Madruga]
O novo técnico do Atlético, Renato Gaúcho, foi apresentado no início da tarde desta quinta-feira à imprensa, na Arena da Baixada. Já vestindo uma camisa da comissão técnica com as iniciais RG, o treinador falou sobre o mau momento vivido pela equipe rubro-negra, que ainda não venceu no Campeonato Brasileiro e ocupa a lanterna da competição.
Ele recebeu também do diretor de futebol Alfredo Ibiapina uma camisa rubro-negra oficial, com o número 10 e seu nome às costas. Durante a conversa de pouco mais de uma hora com a imprensa, ele revelou seu estilo de trabalhar e assegurou que o Atlético sairá da situação em que se encontra na competição.
Acompanhe abaixo a íntegra das declarações de Renato Gaúcho durante a coletiva:
NEGOCIAÇÃO
“Quando saí do Grêmio eu tinha colocado na cabeça que iria ficar até dezembro sem trabalhar, já que nos dois últimos anos estou num pique violento e não estava dando tanta atenção a eles. Antes mesmo de chegar ao Rio de Janeiro recebi um telefonema do Alfredo me fazendo esse convite, conversamos durante dois ou três dias, ele tentando me convencer. Não que o convite não fosse bom, era ótimo, conheço a estrutura do Atlético, a torcida, só que eu queria parar um tempo. Mas ele conseguiu me convencer, não foi tão difícil assim, já que ele é uma pessoa boa de se relacionar, trocamos muitas ideias, conversamos bastante e no final das contas ele conseguiu me convencer”.
ELENCO E MÉTODO E TRABALHO
“Não falo de outros técnicos porque seria falta de ética, cada um trabalha de um jeito, não sei o que aconteceu, mas acho que a partir de agora com o meu trabalho, se vai dar certo ou não eu não sei, mas confio em mim e nas pessoas que trabalham comigo. O Alfredo me passou umas coisas, conheço um pouco do grupo e volto a repetir, eu sei e uma coisa muito boa aqui no Atlético, que é a sua torcida, e ela vai ser fundamental para que o clube saia dessa situação. Quando cheguei ao Grêmio ano passado falei a mesma coisa que vou falar agora, as dificuldades eram grandes também, mas não penso que vou chegar com uma varinha mágica e consertar tudo da noite para o dia. Confio no meu trabalho e sei que esse grupo vai voltar a jogar, mas não vai ser da noite para o dia. Vamos com calma e com apoio o torcedor o Atlético.
ESTRATÉGIAS
“Não tem como inventar. Uma casa não começa pelo teto, você começa pelo assoalho. A princípio o primeiro objetivo é tirar o time essa situação. O Atlético precisa ganhar fôlego e os jogadores precisam de confiança. Degrau a degrau. Não adianta chegar aqui, falar coisas que no momento não são propícias, falar em Copa Sul-Americana, Libertadores, seria suicídio. Precisamos viver a realidade, sem enganar ninguém e tirar o time da zona de rebaixamento”.
MOMENTO
“Quando cheguei ao Grêmio vi alguns problemas que estavam acontecendo e aos poucos fomos resolvendo. A principal característica negativa naquela época que hoje vendo no grupo o Atlético, que infelizmente, que é normal, é a falta de confiança. No futebol a confiança é tudo para você poder render. Então precisamos devolver confiança ao grupo e isso vai voltar a acontecer. Para isso é importante ter o apoio o torcedor. Em qualquer outro clube, no momento em que o time não ganha, qualquer torcedor não fica satisfeito. O objetivo do torcedor do Atlético é ver seu time subindo na tabela, assim como é o mesmo objetivo a diretoria e da comissão técnica. Então precisamos dar as mãos e juntar as forças, porque todo mundo têm mesmo objetivo. Não vejo esse desespero todo, claro que não é uma boa situação, mas com trabalho a gente vai colocar o Atlético no lugar dele”.
JOGADORES
“No momento em que um doente chega num hospital o médico sabe o que fazer com ele porque estudou. Eu sei o que está acontecendo com o grupo porque eu joguei 20 anos e sei o que o jogador gosta e o que não gosta de ouvir. Já passei por situações iguais a essa e nessa hora precisa dar um pouco de carinho a eles e isso vem junto com a confiança. Sei bem do diálogo que terei com eles, o torcedor pode ficar tranquilo. Não vai ter uma equipe 100% melhorada, mas no sábado alguma coisa diferente vai ter até porque precisamos mudar. Conheço muito bem essa situação, sei o remédio eles e vou procurar ajudá-los”.
REFORÇOS
“Se você perguntar ao Tite, técnico do time líder o campeonato, se ele precisa de reforços, ele vai dizer que sim. Se a diretoria puder me dar de reforços eles serão bem vindos. O campeonato é longo e você precisa se preparar para isso, ter um grupo bom e com jogadores que possam decidir uma partida. Vou analisar bem o nosso grupo, ver se tem condições de trazer reforços, e a partir daí no momento que eu tiver todo o grupo, saber o melhor esquema, tenho sim alguns na cabeça, mas só posso montar quando tiver essa peças.. Conversando com o Alfredo, já trocamos algumas ideias, dependendo do que ele puder me dar, vou montar meu quebra cabeça. Se não vier nenhum reforço vou procurar testar durante a semana, jogos treinos, para ver qual o melhor esquema. Não adianta chegar que vamos jogar assim se não tem essas peças ou se um jogador não se adapta a um esquema, por isso que falei que não será da noite para o dia”.
Renato Gaúcho recebe camisa personalizada do diretor Alfredo Ibiapina [foto: FURACAO.COM/Joka Madruga]
O TIME E MUDANÇAS
“Não adianta ficar aqui expondo A, B ou C, se o problema é a defesa, meio ou ataque, isso fica no papo do treinador com o grupo. No geral precisa melhorar em todos os sentidos um pouco, o Atlético tem que ser outro em campo, ter o apoio maciço da torcida. Já joguei aqui várias vezes, sei da força da torcida do Atlético e precisamos e toda essa força. O grupo vamos conversando, mudando, trocando ideias e se acertando. Pior que está pode ter certeza que não vai ficar. Por isso a tendência é melhorar. Vou escutar um pouco o Leandro
(Niehues), trabalhei com o Madson, lancei ele no Vasco, conheço o Wagner Diniz e outros. Temos pouco tempo de trabalho até sábado, mas podem ter certeza e que vontade e luta não vão faltar”.
DISCIPLINA
“O jogador precisa de comprometimento. Vou procurar saber de que maneira eles estão usando a caixinha deles em termos de multas. No Grêmio trabalhei de uma forma e lá as multas eram pesadas. Vou ver quais são as regras deles e implantar mais algumas. Não sou de ficar cuidando do que o jogador faz na vida particular deles, mas me informo do que eles faz e cobro aqui dentro. Ele precisa dar a resposta durante os treinamentos e os jogos. Se eu vir que o desempenho do jogador não está sendo legal e está exagerando na via particular aí eu me meto. Jogador tem direito e viver a vida dele, não é escravo, mas desde que não atrapalhe a profissão dele. Se ele estiver exagerando lá fora, nenhum deles vai me enganar nesse sentido, eu leio o pensamento deles. Já passei muito por isso
(risos). Conheço alguns jogadores, já trabalhei com eles, esse diálogo que vou ter sobre esse comprometimento, eles vão ter mais o que nunca”.
CONTRATO
“No meu contrato fiz questão de não botar nenhuma multa. Me mandam embora a hora que bem entenderem ou saio. Vou procura cumpri-lo até dezembro. Essa parte política não é só aqui no Atlético mas em qualquer clube, não me meto, não é problema meu, meu problema é no campo. Não pensei em nada para o futuro, meu pensamento agora está voltado para o grupo e tirar o time dessa situação”.
JOGO CONTRA O INTER
“Vi alguns defeitos, algumas coisas boas, normal pela situação. Isso é um papo meu com o grupo, mas vi uma equipe brigando. A situação não está ajudando muito e a confiança é tudo no futebol. Às vezes o jogador erra um lance, um chute, por falta de confiança nesse momento. Vou conversar bastante com eles, vou resolver os problemas com o grupo e implantar o meu trabalho”.
ESTILO
“Gosto de brincar no meu contato com a imprensa, mas a hora e o dia não são propícios. E o que mais gosto no meu grupo é a alegria, jogador rende mais quando trabalha com alegria. É lógico que ninguém vai chegar aqui na câmera e ficar rindo numa situação dessa, mas os jogadores se entregando, trabalhando e tendo confiança ele vai render muito mais. Se eu sou uma pessoa simpática ou não no dia a dia vocês vão conhecendo melhor”.
CATEGORIAS DE BASE
“Eu gosto de trabalhar com garotos e sei que tem que ter muito cuidado nessa hora para não queimá-los. O garoto tem que ser lançado na hora certa. É uma hora meio delicada. Não que eles não tenham condições de jogar. Já lancei vários garotos, gosto de trabalhar com eles, gosto de lançá-los, não tenho medo, é só eles me mostrarem qualidade. Foi assim lá no Grêmio, onde o Leandro era um jogador que às vezes até era reserva no júnior, fizemos alguns coletivos contra o júnior, descobri esse jogador, botei para jogar e ele foi bem, fomos lançando ele aos poucos. Fui buscar um garoto de 16 anos, o Mamute, estava trazendo ele agora para o profissional do Grêmio. Então, eu não me apego na idade, no nome ou no salário do jogador, eu me apego pelo que ele apresenta dentro de campo. Gosto de trabalhar com garotos, agora, a gente numa situação dessa tem que tomar muito cuidado. Eu faço muitos coletivos dos profissionais contra os juniores justamente para observar esses garotos. Quem vai me dar a resposta se tem ou não condições de jogar no profissional é o próprio jogador, é o próprio garoto. Eles podem ficar tranquilos. Hoje mesmo vai ter um coletivo contra eles. Eles podem ficar tranquilos que eu cuido bastante do jogador, e além do mais eu vou buscar algumas informações de dentro do clube"
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