Engenheiros Rebouças

Pouca gente poderia imaginar que aquela antiga distribuidora de cerveja e chopp fosse tornar-se sede do maior time de futebol do Paraná.

A distribuidora, diga-se, era bastante freqüentada, principalmente em dias de jogos do Atlético. Mas a história atleticana teve início ali em 1997, logo no início do ano, quando a Comissão Gestora pôs abaixo o antigo Joaquim Américo para erguer a majestosa Arena da Baixada.

O casarão foi alugado pela diretoria rubro-negra e serviu de sede até que a parte administrativa do Furacão pudesse ser transferida para a sede atual, na Rua Petit Carneiro.

No fim da Engenheiros Rebouças, foi criada a primeira loja de venda produtos do Atlético. Era a inauguração de uma loja exclusivamente atleticana, com chaveiros, botons, camisas, camisetas, bandeiras e muitos outros artigos relativos ao Atlético. Lá também era feita a venda antecipada de ingressos, com filas que iam até quase a sede da Torcida Os Fanáticos, como nas finais de 1998.

Nesse verdadeiro QG atleticano, pagava-se o carnê de sócio torcedor e também foi assinado o contrato de jogadores que se tornaram ídolos, como Cocito, Gustavo e Lucas.

Mas talvez o fato mais marcante do Casarão da Rebouças, foi a resistência atleticana em meados de 1997. Após as acusações mostradas pela tv de que, entre outros times, o Atlético também estava dentro de um esquema de corrupção de árbitros, comandado pelo Diretor da Comissão de Arbitragens da CBF, Ivens Mendes, e posterior suspensão das atividades do Furacão por um ano, o Casarão virou o centro das manifestações pró-justiça.

Todos os movimentos foram coordenados ali, desde a coleta de mais de 100 mil assinaturas pedindo a revisão do caso, como protestos com caminhão de som e presença de centenas de torcedores.

Em frente ao Casarão da Rebouças, um torcedor usando máscara, acorrentou-se a uma árvore, entrou em regime de greve de fome e disse que só sairia daquele estado após o STJD da CBF anular a decisão, que suspendia as atividades do Atlético por um ano e impedia terminantemente que o então presidente Mário Celso Petraglia tivesse ligações com o futebol.

Foi uma árdua luta, uma grande batalha em que o Atlético ainda conseguiu sair vencedor, graças a força de sua torcida que não se calou frente a tamanha injustiça, indo inclusive ao Rio de Janeiro quando foi julgado o recurso impetrado pelo departamento jurídico atleticano.

Desde setembro de 1999 o Atlético deixou o Casarão. Depois, seu pátio serviu de estacionamento para veículos em dia de jogos e atualmente está em reformas onde dará lugar a um conjunto de escritórios.

Pinheirão

Foram exatos oito anos de sofrimento, angustia, tensão e vários momentos difíceis. É disto que a torcida atleticana mais lembra quando se toca no assunto Pinheirão, estádio que nos acolheu durante oito anos. A distância do centro da cidade, o frio, a pouca visibilidade, as péssimas condições de acomodação para a torcida e a falta de segurança foram os principais pontos que afastaram a maior e mais fiel torcida do estado do clube, tanto que a média de público nos jogos do Atlético era de 970 pagantes.

No ano 1992, quando já eram passados seis anos de sofrimento para a torcida atleticana no Pinheirão, o então presidente José Carlos Farinhaque percebeu o equívoco que havia sido cometido em levar o Atlético e a sua imensa torcida para o estádio da Federação. Farinhaque e toda a diretoria rubro-negra resolveram que o Atlético voltaria para sua casa e aproximaria novamente a torcida do clube.

Passados dois anos da decisão tomada, o Atlético voltou a mandar seus jogos no Estádio Joaquim Américo. Com muito esforço por parte da diretoria e do apoio incondicional da torcida, em 1994 o Atlético estava de volta a baixada, porém não de forma definitiva.

Mais tarde voltaríamos a mandar alguns de nossos jogos no estádio da Federação (mesmo contra a vontade da maioria da torcida rubro-negra), pois estávamos construindo o que consideramos nosso templo sagrado, a Arena da Baixada.

Mas nem tudo o que se refere ao estádio da Federação pode ser considerado ruim. No Pinheirão conquistamos títulos e vitórias inesquecíveis. Quem não se lembra do Campeonato Paranaense de 1988, conquistado em cima do Pinheiros, quando a equipe ainda era treinada por Nelsinho Baptista? E o início de Campeonato Brasileiro arrasador em 1991, quando enfiamos 3 a 0 no Flamengo?

No período mais recente em que estivemos utilizando o estádio da Federação, podemos destacar entre outros títulos, o de Campeão Paranaense de 1998 em cima do Coritiba. Com direito a pênalti cobrado para fora pelo goleiro Régis do Coritiba, que nos garantiu o título daquele ano. Outro momento que se tornou inesquecível para a nação rubro-negra, no Pinheirão, foi à sonora goleada pelo aplicada em cima de nosso maior rival no ano de 1997, quando após estarmos perdendo por 2 a 0, viramos a partida de forma espetacular para 5 a 2.

Colombo

No dia 2 de setembro de 1970, os principais jornais paranaenses noticiavam a inauguração da sede campestre do Atlético, sendo a primeira etapa que corresponde à concentração dos jogadores, localizada no 15 km da estrada Curitiba-Colombo. Num reconto bonito e aprazível, a sede possuía uma casa em forma de “U”, com quase 300m² de área construída, possuindo ampla sala para refeições, sala-de-estar, copa-cozinha, despensa, sete dormitórios (com capacidade para três pessoas cada um), três banheiros, uma sala destinada ao Departamento Médico, massagens, rouparia e descanso. Havia também, várias churrasqueiras no bosque de entrada da sede.

A sede da área campestre do Atlético continha 11 alqueires e foi adquirida no mês de abril, por escritura de compromisso de compra e venda, pelo preço de Cr$ 130.000,00. A compra, conforme deliberação do Conselho Deliberativo do Atlético, teve por finalidade garantir os direitos dos adquirentes dos títulos da ex-chácara situada na estrada Curitiba-Ponta Grossa, que tinha uma área com cerca de quatro alqueires. Vale lembrar que a aquisição foi idéia do presidente Rubens Passerino de Moura.

Isso representou uma melhoria importante no patrimônio do clube, mesmo porque o terreno possuía luz elétrica, água encanada, com três construções, sendo que a primeira havia sido entregue uma semana antes. Já a segunda serviu de residência para um chacreiro e, por fim, a terceira, de alvenaria, teve a sua construção finalizada algumas semanas depois. Esta, uma casa com 300 m², que foi destinada para ser a sede social, tinha uma cobertura de lage de concreto, onde faltou apenas, num primeiro momento, a colocação de tacos e vidros, além da pintura. A sede também ofereceu recreação para os sócios, com os campos de pelada, canchas de bocha e parque infantil.

Ginásio

Quando assumiu o Atlético, em 1947, o presidente João Alfredo Silva tinha como uma das metas aumentar o patrimônio do clube. Incentivado pelo filho, Jofre Cabral e Silva, idealizou e iniciou a construção do Ginásio de Esportes da Baixada. Jofre era muito ligado às atividades amadoras atleticanas e amante do basquete. A comissão de obras ficou sob responsabilidade de Aníbal Requião que, o lado de Jofre, se constituiu num dos maiores responsáveis pela concretização do espaço. Porém, a falta de incentivos financeiros emperraram o início das obras. Apenas em 1949, no ano em que o Furacão encantava os quatro cantos do estado, o clube começou a erguer o ‘Gigante', como carinhosamente era chamado o local.

Em 1950, no dia do aniversário do Atlético, o governador Moisés Lupion concedeu empréstimo de Cr$ 100.000,00 ao rubro-negro para auxiliar nas obras. Mesmo assim, o espaço só foi inaugurado em 1956, com a realização do Campeonato Brasileiro Feminino de Basquete, vencido pela Seleção do Rio de Janeiro. Em homenagem ao seu idealizador, o local foi batizado de “Ginásio de Esportes João Alfredo Silva”, mas ficou popularmente conhecido como “Ginásio do Atlético”.

Palco das mais variadas atividades sócio-esportivas, o ginásio se notabilizou por lutas de boxe, nos áureos tempos de Caninin, campeonatos de basquete, até circo e, principalmente, o carnaval. Por vários anos, o tradicional Clube Curitibano alugou o espaço para a realização dos bailes da Festa do Momo. Nos anos 80, o “Carnaval do Atlético” era considerado o mais popular de Curitiba.

Durante muitos anos, a rivalidade entre Atlético e Coritiba saiu dos limites dos gramados e invadiu, também, as quadras. Os jogos de basquete geraram verdadeiras guerras da dupla Atletiba, entrando para a história do esporte do estado.

Em 1963, o então presidente atleticano José Pacheco Neto decidiu implantar no ginásio o conceito de “multifuncionalidade”. No dia 15 de novembro, o espaço foi reinaugurado, depois de passar por uma série de reformas. Além da implantação de um departamento de fisioterapia, que durante muito tempo foi referência no Paraná, o local dispunha também de um Instituto Hidroterápico, com saunas, duchas e salas de massagens. Para garantir o conforto de todos, foram construídas salas de jogos, bar, um restaurante e a principal sensação da época: o “gelorama”. Para inaugurar a pista de gelo do Atlético, foi convidada para uma apresentação a famosa patinadora inglesa Pamela Ash Worth.

Nos dias 02 e 03 de junho de 1968, a alegria que sempre prevaleceu no Ginásio do Atlético deu lugar a uma súbita tristeza, com o velório de Jofre Cabral e Silva. Ele, que foi o mentor de toda aquela estrutura, teve como palco de despedida uma de suas maiores realizações. Coberto com a bandeira atleticana, Jofre foi reverenciado por milhares pessoas, no maior enterro que Curitiba já presenciou.

Mesmo sem a supervisão de seu criador, o ginásio continuou imponente, sendo palco de partidas das equipes amadoras do Atlético, além de ser a casa do time de futsal do clube, de onde saiu grandes jogadores, como Paulo Rink. O ginásio foi mantido até 1995, quando foi demolido para dar lugar à arquibancada móvel da velha Baixada.

PAVOC

Concebido para ser uma Vila Olímpica e fruto da idealização de um pai e de seus filhos esportistas, o PAVOC foi usado como moeda para a construção da nova Baixada e do seu Centro de Treinamento do Caju, no Umbará.

A história começou quando Emilio Cornelsen doou uma grande área de terra, situada na velha estrada que conduzia ao aeroporto Afonso Penna. Enquanto isso, Aryon, Alcir e Ayrton já faziam parte da história do futebol: os dois primeiros foram campeões pelo Coritiba, e Lolô pelo Atlético Paranaense, em 1945. Eleito para a presidência do Coritiba, Aryon permaneceu por sete anos no cargo, até que em 1958, iniciou a concretização do sonho de seu pai e de seu irmão mais velho Alcyr, o Cezico. A idéia era transformar as arquibancadas de madeiras do Estádio Belfort Duarte, castigadas pelo tempo, em um gigante de concreto armado: o Couto Pereira.

No ano de 1963, Emilio Cornelsen faleceu, sendo vítima da leucemia. Como herança, Aryon recebeu a área do PAVOC e adquiriu os lotes vizinhos, completando 400 mil m². Um ano depois, solicitou os trabalhos de Lolô para realizar um projeto que viabilizasse a primeira Vila Olímpica brasileira em forma de clube social para a sua Organização Aryon Cornelsen (OARCO). Assim, a vila passou a fazer parte da estrutura esportiva do Coritiba, com campos treinamento e uma sede de campo de apoio. A partir de 1966, o PAVOC se tornou uma referência curitibana, a partir do projeto de Lolô, que em 1974, veio de Portugal para expor o projeto para o então prefeito Jaime Lerner.

Um dos objetivos do projeto era fazer com que a Vila Olímpica se tornasse auto-sustentável com o fluxo de turistas, ou seja, as divisas seriam fundamentais para a sua manutenção. Na terceira fase do empreendimento, caso fosse desenvolvida dentro dos planos estabelecidos, se resumia na construção de um hotel de categoria internacional, com 260 apartamentos de luxo e 50 suítes. Posteriormente, novos desejos foram incrementados ao projeto: a construção de um restaurante de 70m de altura, tendo um piso giratório e um cinema ao ar livre para 1.300 espectadores.

A Vila Olímpica possuía cinco campos de futebol construídos: um com medidas oficiais e drenagem, tendo como característica principal a grama importada do Uruguai; e dois de pelada - um deles com areia. A série de campos foi completada com outros dois com 40 x 60, com piso de grama, mas que se prestava aos associados que não se identificavam com a área para praticar o futebol. Um outro campo seria construído e serviria para treinamentos do Coritiba, com duas arquibancadas em volta do gramado, uma pista de atletismo e caixas para salto. Tudo de acordo com as normas exigidas pelo comitê do esporte olímpico. Canchas de basquete (uma delas coberta), stand para tiro ao alvo, arco e flecha, futebol de salão, vôlei, tênis, mini golfe, entre outros esportes, complementariam o conjunto da Vila Olímpica.

Por fim, Aryon Cornelsen fez de tudo para que o Coritiba recebesse o clube PAVOC, chegando até a planejar a venda dos carnês e das cotas para associados. Porém, motivos internos do clube alviverde, restou a Aryon levar a mesma proposta ao Atlético Paranaense. Segundo o contrato, Aryon se responsabilizava pela venda de carnês para sócios, durante sete anos. Terminando o prazo, independentemente do que acontecesse, a propriedade ficava para o clube. Foi quando se descobriu a cláusula de transferência de propriedade que as vendas caíram. Aryon não conseguiu arrecadar o necessário para viabilizar o projeto, e terminado o tempo de contrato, o PAVOC acabou indo inteiramente de graça para o Atlético.

Após uma negociação com o Governo Estadual, hoje a área pertence ao Batalhão da Polícia Florestal.

Rua XV de Novembro
O Clube Atlético Paranaense nasceu oficialmente no coração de Curitiba, em plena Rua XV de Novembro. No início dos anos 20, o local já era considerado a artéria principal da cidade, abrigando bancos, estabelecimentos comerciais e até mesmo a sede da Gazeta do Povo, vizinha do Internacional. Tudo de importante acontecia por lá, sendo o ponto de encontro da elite e dos intelectuais da época.

As primeiras discussões sobre a fusão de Internacional e América aconteceram no Café do Commercio, local preferido de importantes e tradicionais figuras curitibanas daqueles tempos. Como americanos e internacionalistas mantinham suas sedes na Rua XV de Novembro (a do América no número 386 e do Internacional, no 416), naturalmente a primeira sede do clube recém-nascido seria por lá.

Em 21 de março de 1924, no número 416 da Rua XV de Novembro, nasceu o Atlético. O clube, apesar de manter seus jogos na Baixada do Água Verde, manteve a sede administrativa no centro da cidade. Nos primeiros anos de existência, ocupou o andar superior da Casa das Meias, da família atleticana do ex-deputado Jorge Nasser. Além de importantes decisões a respeito dos rumos do novo clube, o local servia para intermináveis jogos de cartas, popular entre a elite curitibana da época.

Muitas decisões aconteceram também nos bares que povoavam o centro da cidade, como o Bar Paraná (ao lado da Casa das Meias) e o Bar Americano (na esquina com a Marechal Floriano). Como as sedes normalmente eram alugadas, o Atlético peregrinou por muito tempo por toda extensão da rua, ocupando diferentes imóveis.

Mais tarde, a sede do Atlético foi transferida para a avenida Marechal Floriano. Nos anos 60, o presidente Aníbal Requião decidiu construir a sede administrativa do clube anexo ao Ginásio da Baixada e o Atlético abandonava, definitivamente, a XV de Novembro, mudando o endereço para a rua Buenos Aires, no Água Verde.