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Entrevista | quarta-feira, 21 de outubro de 2009, 11h12

Claiton: "Não dá mais para comemorar que não caiu"

Por: Monique Silva (Furacao.com)

Foto Destaque

"A torcida quer títulos", diz o Predador [foto: Georgia Andrade]

Ele voltou para o Atlético com status de ídolo. Depois de vários meses de espera, a torcida atleticana finalmente pôde celebrar o retorno do Predador. Mas a certeza da raça em campo se transformou em angústia. Seis dias depois de ter acertado a sua volta ao Furacão, Claiton rompeu o tendão de Aquiles direito durante um treinamento e, após cirurgia, iniciou um trabalho intenso de fisioterapia para voltar aos gramados. Agora, três meses depois, o volante vive a expectativa de finalmente voltar a pisar no gramado do Joaquim Américo e vestir a camisa rubro-negra, que tanto encarnou com raça e determinação.

Nesta terça-feira, Claiton fez uma visita à sede da Torcida Os Fanáticos e concedeu uma entrevista exclusiva à jornalista Monique Silva, abaixo reproduzida. Na conversa, o jogador não escondeu a ansiedade em voltar a jogar e dar alegrias à torcida rubro-negra.

Você saiu do Atlético em um momento complicado da equipe no ano passado. Na condição de líder, você era peça fundamental no esquema do técnico Ney Franco e era ídolo da torcida. Sem a sua presença, o time deixou escapar a chance de ser campeão paranaense na Baixada e ainda foi eliminado na primeira fase da Copa do Brasil. Você se arrependeu de ter saído naquela situação?
Eu até comentei sobre essa situação com o (presidente) Malucelli essa semana, que quando começaram as negociações eu não queria ter saído. Na época, chamei o (Alberto) Maculan para fazer um acordo e rever o meu contrato, que estava acabando. Comentei que poderíamos ter renovado para mais dois anos e, na época, a diretoria achou que não tinha como. E isso ficou complicado pra mim em termos financeiros. Mas sempre deixei clara a minha vontade de ficar. Depois, já no primeiro contato que o pessoal do Atlético fez comigo, em janeiro deste ano, o presidente me chamou e eu fiz o maior esforço para voltar. Até briguei no Japão, eu estava com moral lá, era capitão e a torcida gostava muito de mim.

Claiton não vê a hora de voltar a jogar pelo Furacão [foto: Giuliano Gomes]

E quais as principais diferenças que você encontrou no ambiente do clube desde o seu retorno?
O Atlético é um clube que está sempre crescendo, mas parece que nunca saí daqui. Voltei para a minha casa! Não vi nenhuma diferença, o clube continua evoluindo, mudaram poucas coisas no CT. O clube continua sendo de primeira linha nesse sentido. Mas dentro de campo ele precisa disputar as posições lá em cima. O São Paulo é outro clube que tem boa estrutura, no entanto é tricampeão brasileiro.

Falando nisso, você jogou em tradicionais times do Brasil, como Internacional, Santos e Flamengo. Quais as maiores diferenças de trabalhar nesses clubes e no Atlético?
Comecei a jogar futebol no Inter, tive esse privilégio ao começar em um time grande e de massa. Depois passei pelo Vitória, Bahia, Santos, Botafogo e Flamengo, então não vi dificuldades para trabalhar em grandes clubes, sempre foi tranquilo.

Tirando a parte estrutural e patrimonial, que outra vantagem você vê em jogar num clube que não está no centro do futebol nacional?
Tive a oportunidade de jogar em grandes clubes de São Paulo e Rio de Janeiro, e realmente a imprensa dá maior ênfase aos clubes destes estados. Mas a vantagem de jogar aqui no Atlético é por ser um clube de família, muito bom de se trabalhar, que tem uma torcida empolgada e emocionada. Tudo isso faz com que qualquer jogador queira vir jogar no Atlético ou que não queira mais sair, como é o caso do Paulo Baier. É um jogador que já passou por várias equipes e quer encerrar a carreira aqui, como eu. Encontramos o lugar perfeito.

O que o Atlético deve começar a fazer, a partir de agora, para termos um 2010 melhor no futebol?
O Atlético é um clube que preza muito as categorias de base e revela muitos jogadores, mas isso dificulta um pouco na hora de disputar com grandes clubes do eixo Rio-SP. Então eu acho que é preciso fazer uma mescla como está acontecendo agora, alguns jogadores da base e outros já rodados, com mais nome, para dar mais sustentação aos meninos. No momento em que o Atlético conseguir equilibrar isso ele vai se firmar como uma das melhores equipes do Brasil.

Até porque a nova safra de jogadores é promissora... você destaca algum novo valor?
Sou suspeito para falar porque sou um jogador que sempre valorizo os jogadores da base. A molecada me adora muito no Atlético. E eu acho que o clube tem uma base muito forte. Hoje posso destacar vários, se eu disser somente um vou acabar sendo injusto. Tem o Manoel, que entrou na equipe e está jogando muito bem, o Ronaldo, que não vinha jogando, mas entrou no sufoco e está correspondendo, e gosto muito do Patrick também, que ainda vai ser importante ao time. Enfim, todos são muito bons. Tem outros também que subiram ao time principal quando cheguei aqui, em 2007, como o Rhodolfo, então o Atlético continua fazendo um trabalho muito bom com a base. Quando ele conseguir mesclar esses jogadores novos com outros mais experientes, mas que cheguem aqui em um nível bom, o Atlético vai ser muito feliz.

Paulo Baier, Marcinho e Alex Mineiro são jogadores experientes. Você também vivenciou diferentes situações em diversos outros clubes. Como você contribui com os jogadores mais novos?
Sempre converso que eles têm que entrar em campo e fazer o que fazem nos treinos, sem pressão e jogando com tranquilidade. Eles sabem que têm o apoio da diretoria. Eu, mesmo sem jogar, estou participando bastante, eles me procuram para conversar e saber mais das coisas. Eu, o Paulo e o Alex sempre estamos em contato com eles. Nessa semana mesmo nós três estávamos conversando sobre o ano que vem, que o Atlético precisa começar pensando grande, em ser campeão paranaense, ser campeão da Copa do Brasil e voltar a jogar uma Libertadores. O planejamento tem que começar desde já e ser fechado ainda esse ano. Em janeiro precisamos começar com um grupo fechado para fazermos uma boa temporada e dar alegrias à torcida.

Atualmente, o Atlético tem jogado com Valencia e Rafael Miranda. A disputa por uma posição será boa. Além de segundo volante, qual outra posição poderia ser ocupada por você?
A posição que gosto de jogar é como segundo volante mesmo, foi para isso que vim jogar no Atlético. Mas é importante termos jogadores com nível bom. Essa parte é com o Lopes, só quero voltar logo a jogar e dar alegrias à torcida.

Falando um pouco mais sobre o Antonio Lopes, o que você tem a dizer sobre a filosofia de trabalho dele?
O Lopes é um treinador muito experiente e disciplinador, com um nome forte no futebol Brasileiro. Além disso, ele está fazendo um ótimo trabalho no Atlético.

E qual o foi o melhor técnico com quem você já trabalhou até agora?
Fica complicado citar apenas um, mas alguns treinadores marcaram a minha carreira, como o Muricy Ramalho, o Vanderlei Luxemburgo, o Emerson Leão e o Paulo Autuori. Mais recentemente o Ney Franco, com quem trabalhei no Flamengo e aqui no Atlético.

Você retornou ao Atlético em julho, depois de muita negociação com o Consadole Sapporo. Naquela ocasião, o site deles disse que você havia sido liberado porque tinha uma lesão no tendão. Então você chegou aqui dizendo que não estava lesionado e uma semana depois acabou rompendo o tendão. Como você explica isso?
A gente fez um acordo. Realmente eu estava com uma tendinite e lá no Japão, por eu ser querido, a gente fez um acordo com o Atlético para que eu saísse de lá para vir tratar aqui no Brasil. Foi uma maneira de explicar à torcida, que sempre me adorou muito e encheu o aeroporto no dia da minha despedida. Então cheguei aqui, fiz alguns exames e o (Edílson) Thiele mostrou que não tinha lesão, que eu podia tratar a tendinite e jogar. Mas, durante um treino, em um lance normal, tomei uma pisada do Pimba e chamou a lesão. Mas tudo isso só estourou porque eu havia chegado em uma fase turbulenta do Atlético, estava tudo dando errado. Saiu treinador, afastaram jogadores, enfim, era uma semana turbulenta e aconteceu a lesão. Estávamos passando por uma fase ruim e eu cheguei nesse embalo. Mas o importante é que estou tratando e me esforçando ao máximo para voltar bem e ajudar o time.

Você foi liberado pelo departamento médico há alguns dias e foi dito que você poderia voltar ao time já no mês de novembro. É isso mesmo?
A previsão médica dessa operação que eu fiz, de rompimento total do tendão, é de quatro a seis meses para um atleta normal. Mas estou me esforçando muito, os fisioterapeutas se impressionaram com a minha vontade e dedicação. Tenho grandes esperanças em voltar agora em novembro e participar dessa reta final do Campeonato Brasileiro.

O que a torcida pode esperar do Claiton em 2010?
Podem esperar muita vontade, aquela mesma do Claiton que saiu daqui em 2008. A mesma dedicação e respeito à camisa do Atlético que sempre tive. Podem ter a certeza disso. Uma das exigências quando voltei era a de que o Atlético tivesse um grupo forte para disputar títulos. Não dá mais para comemorar que não caiu para a segunda divisão, fico muito triste por isso. A torcida quer o time brigando lá em cima.

Esta semana a Torcida Os Fanáticos está completando 32 anos de história, sempre fazendo grandes festas nas arquibancadas e apoiando o time em qualquer momento. O que você tem a dizer sobre a organizada?
Só tenho a agradecer a todos pelo que continuam fazendo pelo Atlético e sempre fizeram. Mesmo em situações de dificuldades que o clube vem passando nos últimos anos, só tenho a pedir que continuem com essa força e dando espetáculos nas arquibancadas. Já joguei muito aqui contra o Atlético e é algo que não tem quem não comente. Essa festa que a torcida faz chama muito a atenção. Já joguei em grandes clubes e vi grandes torcidas, mas o que a Fanáticos faz é algo fora do comum. Espero que continuem sempre apoiando o time, porque é essa força que faz com que os jogadores melhorem e deem o máximo em campo, que é a nossa obrigação. Lembro quando cheguei aqui, em 2007, conversei com todo o grupo porque muitos jogadores tinham receio de jogar na Baixada, tinham medo das vaias e tudo mais. E isso melhorou muito, hoje não vejo mais isso. Eles cantam e apoiam do início ao fim. Se é pra vaiar, que seja quando o juiz apita o final do jogo. Se a torcida continuar assim, do lado do time, dificilmente vamos perder.

E nas partidas fora de casa, como você vê o apoio da torcida?
É de fundamental importância, nem que sejam dez pessoas e uma faixa. A gente sabe das dificuldades pelas quais a torcida passa quando viaja para acompanhar os jogos fora, isso é sensacional. É ruim entrar em campo e não ter ninguém. Então nem que sejam duas pessoas, que estejam lá, acreditando na gente, dá mais confiança e obrigação para a gente dar o máximo em campo. Agora teremos um Atletiba, na casa do adversário, e a torcida tem que estar ao lado do time. Lembro em 2008, quando ganhamos de 2 a 0, entramos no gramado e a torcida do Atlético estava lá, lotando a parte adversária, uma loucura! Mesmo em minoria, parecia que nós estávamos jogando na Baixada, foi algo de arrepiar e muito impressionante. Então tem horas que você está fisicamente cansado, mas esse apoio da torcida dá uma força muito grande e faz com que o jogador dê um pique, um chute a mais.

Agradecimentos: Mauricio do Vale, Juarez Vilella Filho, Rogério Andrade, Silvio Toaldo Junior e Torcida Os Fanáticos.


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