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Entrevista | terça-feira, 04 de maio de 2004, 01h39

O craque do Atletiba de 1945

Por: Furacao.com

Foto Destaque

Lolô ajudou na compra do PAVOC

Em 1945 o Atlético foi Campeão Paranaense em cima do Coritiba. Os dois primeiros jogos da decisão terminaram empatado, mas no terceiro valeu a raça rubro-negra: vitória na prorrogação para a alegria do povo que lotou o Estádio Belfort Duarte. Um jogador que fez a diferença foi Ayrton Cornelsen, ou simplesmente Lolô. Lateral-esquerda habilidoso, foi eleito o melhor atleta da decisão contra os coxas. Mesmo com um futuro promissor dentro do futebol, decidiu largar a bola e foi estudar no Rio de Janeiro, onde formou-se arquiteto.

Lolô projetou diversos estádios pelo mundo, entre eles o Mineirão e o Maracanã e também foi o criador da caixa de brita, da Fórmula 1. Graças ao craque de 1945 que o Atlético conseguiu adquirir o antigo PAVOC, depois vendido ao Governo do Estado e com o dinheiro o clube comprou o CT do Caju. Confira a entrevista com um jogador que não é muito lembrado nas conversas atleticanas, mas sempre vestiu o nosso manto sagrado com carinho e respeito.

Como o senhor começou a torcer pelo Atlético, já que a família Cornelsen é tradicionalmente coxa-branca?
Na minha infância eu era coxa-branca, toda a família era. Depois que comecei a freqüentar a escola-universidade, vi que estava errado, tinha que ir para outro clube. Sempre respeitei o Coritiba por causa do meu pai e da família, mas não era meu ambiente. A gente tinha uma turma onde eu era o mais jovem, o mais moço. Onde eles iam eu ia atrás. Aí o Arion (irmão de Lolô) brigou com os coxas e foi para o Juventus. Eu fui junto. O Tobias de Macedo era diretor do Juventus e levou um monte de gente para lá. Levou o Lino, eu, o Arion, o Karam, que era bom de bola, o Lívio, turma de estudante, tudo universitário. Quando o Arion voltou para o Coritiba, o Tobias me levou para o Atlético. E aí fiquei!

Em qual categoria?
Amador. Eles chamavam de aspirante, sub-18, mas eu já era um cavalão.

Como eram os campeonatos na época?
Eram menos jogos. Era turno e returno. Não tinha clubes do interior. Só tinha da capital. Era o Palestra, o Britânia, Savóia, Água Verde, o Atlético, o Coritiba. Eram uns sete, oito clubes. Vocês sabem que era tudo amador, não tinha o porquê de treinar. O Caju, que era o mais profissional, tinha emprego. Eu, por exemplo, recebia em material do Atlético para jogar.

Nessa sua história dentro do Atlético você era considerado a ovelha negra da família?
Acho que eu era a ovelha branca, eles que eram as negras (risos).

Como foi a final de 45?
No primeiro jogo tomei uma garrafada no braço. Fui pegar a bola e um coxa-branca me deu uma garrafada e me quebrou um osso. Eu continuei jogando, com braço quebrado e uma dor desgraçada. A gente estava perdendo e conseguimos empatar. No segundo jogo, um cara do meu time pegou o goleiro do Coritiba que era careca e complexado. Nós fizemos gol e ele não perdoou: pegou o gorro do goleiro e mostrou a careca do cara pra todo mundo ver (Nota: Lolô refere-se ao jogador Cireno). Nesse jogo o farmacêutico não queria dizer que estava quebrado senão não me colocavam no time. Aí o Pushineker, que era o farmacêutico, engessou e me deu uma injeção para ir jogar e joguei até o fim. Eu não podia jogar, porque se levasse uma bolada, matava. Mas no final, fui o melhor. O juiz era de fora e depois no vestiário ele queria me levar para o Botafogo. Mas eu continuei aqui.

Do que o senhor tem mais saudades do Atlético?
Eu não tenho nenhuma saudade do Atlético. Eu tenho mágoa do Atlético.

Por quê?
Porque ninguém entende mais de estádio do que eu. A mágoa minha é por não ter feito o estádio da Baixada, ou pelo menos participar da comissão que fez a Arena.

O senhor faria alguma modificação na Arena da Baixada?
Não faria aquilo, faria um outro troço, uma arena mais arena. Não boto defeito nenhum, não quero nem pensar nisso, mas faria de outro jeito, com outra personalidade.

Dava para fazer uma coisa bem melhor do que está?
Bem melhor do que está, apesar de estar muito bom assim. Mas a mágoa minha é de não ter participado, nem ter dado conselho para ver como é que seria feito, qual é o melhor. Porque pegar fotografia e “vamos fazer” não tem nada a ver com nossa personalidade. O ambiente lá na Europa é um e aqui é outro. Não quero botar defeito nenhum porque eu me sinto orgulhoso em torcer para o Atlético. Mas eu tinha feito um parque... Tem uma planta que fiz da praça que teria um estacionamento que sairia lá dentro do Atlético. Tenho o projeto pronto, não sei onde que está. É uma garagem para 700 carros, é subterrâneo, que resolveria o problema e talvez seria o estádio mais completo do mundo.

Lolô foi o grade destaque do Atletiba decisivo de 1945

O senhor fez muitos estádios pelo Brasil. Qual foi o que mais lhe orgulhou?
O Mineirão foi o estádio para o Tancredo Neves e ele pediu um troço para dar repercussão. Eu já tinha feito o estádio do Coritiba, que é mais ou menos semelhante, apresentei para ele e fizemos. Mas o estádio que mais me deixa impressionado mesmo e orgulhoso foi o Maracanã. Fui eu que fiz. Eu estava estudando lá e fizeram uma seleção de estudantes da escola de engenharia e um amigo meu era diretor de patrimônio da prefeitura da Guanabara e o general Mendes de Morais era o prefeito. Eles não sabiam como terminar o estádio, havia uma crise danada e não tinham planos para terminar. Eu já tinha feito o projeto de Curitiba, em 48, era o estádio Moisés Lupion, aonde é a PUC. Fiz um plano econômico, criei a renda de cadeiras, que nunca ninguém tinha pensado. Aí estava falando com o Expedito, meu amigo lá do Rio, que era o diretor de patrimônio, disse que tinha uma solução e perguntei qual era o dinheiro que precisava para acabar o estádio. Fizemos as contas e disse que se vendêssemos cinco mil cadeiras nós terminaríamos o estádio. Tivemos a autorização e fizemos.

Então o senhor participou diretamente da construção do Maracanã?
Eu participei da comissão para fazer o estádio.

Como é que o PAVOC foi parar nas mãos do Atlético, sendo que o seu irmão, Aryon, tinha oferecido o terreno para o Evangelino?
Os coxas menosprezaram o PAVOC. Aquela área que hoje é o Batalhão da Polícia Florestal era da minha família. O Aryon tentou fazer uma negociação com o o Coritiba, mas eles nem quiseram saber. Eu entrei no rolo, conversei com todos os Cornelsen e falei que era melhor negociar com o Atlético. E foi isso que aconteceu: o Atlético adquiriu a área, fez uma transação com o Governo Estadual e com o dinheiro construiu o CT do Caju.

O senhor tem contato com alguém da atual diretoria?
Nem sei quem são os diretores. Nunca me convidaram pra nada, nem pro Conselho.

Agora voltando a década de 40. Quem era o melhor jogador?
Os maiores jogadores que eu colocaria na seleção do mundo de todos os tempos eram o Cireno e o Caju. Esses eu botava na seleção de todos os tempos. Eles eram fantásticos, foras-de-série.

É verdade que foi o senhor quem projetou as letras estilizadas do CAP, do atual símbolo?
Sim, fui eu que projetei. O distintivo do Atlético era um CAP, parecido com o Flamengo. Daí eu mesmo pintei nas camisas o CAP, isso em 44. Aí melhoraram, mas botaram-no dentro do círculo. Em letras góticas. Isso daí eu tirei do Palestra Itália.

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