- Lúcia! Traz mais um pouco de álcool que o carvão não tá dando conta.
- Mas pai, essa já é a segunda garrafa.
- Fica quieta e passa o litro pra cá. Costela a gente tem que manter o fogo direto senão fica uma porcaria.
- Que horas a gente sai de casa, pai?
- Meio dia tá bom. A gente desce na Rui Barbosa e vai andando.
- Vai dar tempo?
- Claro que vai. Eu fazia muito isso quando não pagava R$15.
- Não, pai. Tô falando da costela. Vai dar tempo da gente comer e ir?
- Claro, filha. Ainda são 10h30. Mais uma hora e a gente se esbalda. Sofia!!! Traz mais uma cerveja.
- Eita lá. Vai devagar, homem. Lembre que o Juninho e a Lúcia vão hoje com você.
- Fica sossegada, meu anjo. Só tô com medo da fila pra entrar. Cadê aquele nosso rádio que a gente ganhou no casamento?
- Eu não ia falar, mas agora vou. O Edvaldo quebrou na semana passada. Foi subir no armário e virou tudo.
- Tem problema, não. Queria saber do movimento lá pelo centro. Hoje vai tá bonito.
- Quer mais uma cerveja?
- Traga, amor, traga. É a última antes da gente comer. Já vai chamando a gurizada.
- Lúcia!!! Juninho!!! Edvaldo!!! tá na mesa.
- Tá muito boa essa costela, pai.
- Era pra ficar assim mesmo. Desde às 6h fazendo essa carne.
- Vâmo, apurem! Se a gente não pegar o Colombo-CIC de 12h45 a gente se atrasa. Cuida da louça, Sofia?
- Isso não é novidade. Bom divertimento pra vocês.
- Pai, você viu que a tarifa do ônibus baixou?
- Vi sim, Lucinha. Pelo menos isso. Quer sentar, Juninho?
- Não, prefiro ficar em pé pra se acostumar com daqui a pouco. Hoje vai ter festa, né pai?
- Vai sim, filho. Vai sim.
- Pra qual lado a gente vai agora, pai?
- Andamos umas cinco quadras nessa direção e já chegamos. Que estranho, pensei que ia ver bastante gente na rua. Não tem ninguém. Vamos mais rápido.
- Pai! Não tem nem camelô aqui por perto.
- Tô achando que aconteceu alguma coisa, mesmo. Veja se o pai não se enganou no dia do jogo.
- Não. Tá escrito no ingresso que Atlético e Flamengo jogam hoje, 25/05, na Baixada.
- Mas tá tudo fechado. O que será que houve?
- Não sei, mas eu tô com medo, pai.
- Medo do quê, Lucinha?
- De tudo... não tem ninguém aqui.
- Esperem aqui na frente, crianças, que eu vou reclamar.
- PRA QUEM, PAI. PRA QUEM?
Sérgio Tavares Filho
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