Leia a opinião de Ricardo Campelo:
Sofismas
As coisas seriam tão mais fáceis se os sofismas fossem verdadeiros... Como é cansativo discutir, construir argumentos, analisar posições contarias, assimilar, refletir, contra-argumentar...
Tudo isto seria desnecessário se um sofisma fosse verdadeiro. Se “aumento no preço” fosse igual a “aumento de receita”, tudo seria tão mais fácil... As empresas não precisariam contratar experts em finanças. “Problemas de caixa? Aumentem os preços”. Simples assim. Se isto fosse verdade, a Baixada estaria cheia já contra o Figueirense, a diretoria veria o Clube ter o tão sonhado aumento de receita, e a polêmica sobre o aumento dos ingressos sumiria gradativamente.
Seria tão bom se os 24 mil “apreciadores”, com dinheiro sobrando para gastar com futebol, realmente existissem. Se eles não fossem um delírio imaginado por um Presidente que parece não ter o mínimo conhecimento da economia popular.
É tão fácil falar genericamente que o futebol é caro, que o estádio do Atlético é de primeiro mundo, que o custo de mantê-lo é alto, mas privar o torcedor das informações completas sobre o que acontece com o dinheiro que entra e que sai do Clube.
É tão bom trabalhar com sofismas... dizer “torcedor, você tem que colaborar com o seu Clube”. É tão fácil dizer isto e “esquecer” de mencionar, por exemplo, o que a diretoria fez com os torcedores que compraram o “pacote” no ano passado em relação ao jogo cujo mando foi perdido. “Esquecer” de mencionar a desorganização que premiou os compradores dos “season tickets” na distribuição dos ingressos na semana passada.
É tão confortável a posição daqueles que ditam as regras do apoio que deve ser dado pelo torcedor e da contrapartida que este vai receber. Como é simples requisitar sócios para contribuir com a maior “mensalidade” (como queiram) do Brasil e cuja única contrapartida é o direito de entrar no estádio, enquanto Clubes realmente engajados com sua torcida oferecem diversas vantagens (revistas, camisetas, sorteio de viagens com a delegação, etc., etc., etc.) e por um preço menor.
Quem está realmente acompanhando a situação, e quem conhece a mentalidade dos atuais dirigentes do Atlético, sabe o quanto foi buscada uma solução alternativa para esta já irritante pendenga do preço dos ingressos. O quanto foi buscado um debate, um acerto, uma troca de idéias. Mas infelizmente, isto não é possível dentro, ou melhor, diante de uma ditadura. Ditadura de quem ostenta os seus sofismas e ignora a opinião de todos os demais. Ditadura que oprime, que apreende faixas de protesto, que afasta veículos de comunicação, que impede um torcedor com representatividade de figurar em um programa de televisão, que declara “assunto encerrado” uma questão que não agrada a ninguém senão aos seus próprios interesses.
Colaboração é uma via de mão dupla. Se o Clube quer torcedores que colaborem, tem que colaborar com eles também. Tem que ouvir os anseios destes, procurar oferecer algo que estes querem, dialogar, buscar união em prol de um bem comum. É assim que se conquista a colaboração, e não impondo as coisas de cima pra baixo, sem dar ouvidos a ninguém.
Duvidar da boa vontade da torcida atleticana é algo repleto de ingratidão, de falta de bom senso, e de hipocrisia. Se o torcedor não está colaborando, é em razão desta ditadura absurda que pretende impor um aumento de 100% no valor do ingresso sem permitir o mínimo de conhecimento analítico sobre os gastos do Clube e da destinação das receitas que ele aufere. Pois, embora fiel, burro o torcedor não é.
O que todos torcedores querem, tanto os que estão protestando, quanto os poucos que apóiam o aumento, é o bem do Atlético. Por mais que se pretenda cogitar um interesse político na ação judicial que ontem obteve êxito preliminar, é certo que maior do que qualquer coisa é a vontade dos torcedores que apoiaram esta medida. Vontade de ver um Atlético melhor, vontade de ter o direito de discordar dos mandos e desmandos dos ditadores que hoje o administram.
Graças a Deus (o verdadeiro), esta ditadura esbarrou, por enquanto, no estado de democracia que rege o nosso país. E tenho certeza de que a torcida continuará fazendo o que for preciso, seja recorrendo ao Judiciário, seja pedindo a renúncia de dirigentes, seja boicotando o ingresso, ou o que for, para fazer prevalecer o regime democrático.
Ricardo Campelo
Colunista da
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