A pedido da
Furacao.com, o jornalista Diogo Finelli, de Belo Horizonte, analisou o desempenho do técnico Levir Culpi, que foi contratado ontem pelo Atlético. Finelli acompanhou de perto a trajetória de Levir nos clubes mineiros, tendo a oportunidade de conferir o trabalho do treinador no dia-a-dia e seu desempenho durante os jogos do Cruzeiro e do Atlético Mineiro.
Confira o texto de Diogo Finelli:
A trajetória de Levir Culpi no futebol mineiro
O INÍCIO
O paranaense Levir Culpi teve quatro passagens pelo futebol mineiro, sendo duas pelo Atlético (1994/95 e 2001/02) e duas pelo Cruzeiro (1996 e 1998/99). Apesar de o Galo ter dado ao treinador a primeira oportunidade de trabalhar em Minas Gerais, foi justamente na Raposa que ele conseguiu os títulos mais importantes.
Levir chegou ao Atlético Mineiro no 2º semestre de 1994, e logo de cara fez o time se livrar do rebaixamento, após disputar uma repescagem, e chegar à fase semifinal do Campeonato Brasileiro, sendo eliminado para o Corinthians. No ano seguinte, o treinador obteve seu primeiro título no clube, o de campeão mineiro.
DO OUTRO LADO
Em 1996, Levir Culpi retornaria ao futebol mineiro para fazer história no Cruzeiro. Sob o seu comando, a Raposa conseguiu o título do Campeonato Mineiro, além de ser campeã da Copa do Brasil pela segunda vez. A conquista da Copa do Brasil ficou marcada para os cruzeirenses, uma vez que o time eliminou o Vasco da Gama (com uma goleada de 6 a 2 em São Januário), Corinthians e Flamengo, até chegar à decisão contra o Palmeiras, de Cafu, Djalminha, Rivaldo, Luizão, entre outros. A equipe paulista era comandada por Vanderlei Luxemburgo, e não havia perdido para ninguém até enfrentar o Cruzeiro de Levir Culpi, que tinha o meia Palhinha como destaque.
O primeiro jogo da decisão foi no Mineirão, e terminou com um empate de 1 a 1. Jogando em casa, no Parque Antarctica, e com todo o favoritismo, o Palmeiras precisava apenas de um empate sem gols para garantir o título. A equipe de Luxemburgo ainda saiu na frente, fez 1 a 0 com Luizão, mas levou a virada, com gols de Roberto Gaúcho e Marcelo Ramos. O Cruzeiro de Levir Culpi fez a festa na casa do adversário, conseguiu o título da Copa do Brasil, e garantiu presença na Copa Libertadores da América de 1997 (que também conquistou, sob o comando de Paulo Autuori).
Ainda em 1996, Levir Culpi fez com que o Cruzeiro fizesse a melhor campanha na primeira fase do Campeonato Brasileiro, o que lhe deu o direito de enfrentar a Portuguesa nas quartas-de-final, atuando em casa na segunda partida. Mas a Lusa, que terminou a primeira fase em oitavo lugar, surpreendeu e eliminou a Raposa do Brasileirão. O time de Levir também foi muito bem na Supercopa daquele ano, mas perdeu a decisão para o Vélez Sarsfield, da Argentina. Então, o treinador acabou trocando o Cruzeiro pelo Cerezo Osaka, do Japão.
LEVICE
Sempre lembrado pela torcida cruzeirense, o nome de Levir Culpi ganhou forças para retornar ao clube e apagar a frustração após a perda do Mundial Interclubes, em Tóquio, em dezembro de 1997, quando a Raposa comandada por Nelsinho Batista (e “reforçada” na última hora pelo zagueiro Gonçalves e os atacantes Donizete e Bebeto), foi derrotada por 2 a 0 para o Borussia Dortmund, da Alemanha. Levir voltaria ao Cruzeiro em 1998, para outro ano de muitas decisões... e poucos títulos. A Raposa conseguiu o título do Campeonato Mineiro sobre o rival Atlético, mas perdeu outras três decisões naquele ano: Copa do Brasil, para o Palmeiras; Campeonato Brasileiro, para o Corinthians; e a Copa Mercosul, novamente para o Palmeiras.
Apesar das excelentes campanhas nas três competições, o treinador acabou ganhando a fama de “Levice”, concedida pelos seus críticos, provando que a cultura do futebol brasileiro valoriza apenas aquele que é campeão. Além disso, o treinador ficou famoso por reclamar de arbitragens e pelas "desculpas" após os maus resultados.
Mesmo perdendo as três competições, Levir foi mantido no cargo e teve a oportunidade de dar seqüência ao trabalho no comando do Cruzeiro. No primeiro semestre o treinador conseguiu conquistar os títulos da Copa dos Campeões de Minas, e a Copa Centro-Oeste (em 1999 as equipes mineiras disputaram o regional com equipes do Centro-Oeste, uma vez que a Copa Sul-Minas só foi realizada a partir de 2000, substituindo a Copa Sul-Brasileira).
Mas no segundo semestre, o treinador acabou não obtendo sucesso no Campeonato Brasileiro, mesmo depois de terminar a fase de classificação em segundo lugar, atrás apenas do Corinthians. Nas quartas-de-final o Cruzeiro, mesmo com a vantagem de dois empates, acabou derrotado duas vezes pelo Atlético Mineiro e foi eliminado. A eliminação para o maior rival colocou um fim na segunda passagem de Levir Culpi na Toca da Raposa.
DE VOLTA AO GALO
Depois de passagens por Cerezo Osaka, do Japão, São Paulo (onde foi campeão paulista em 2000) e Sport, Levir Culpi retornou ao Atlético Mineiro para comandar o time no Campeonato Brasileiro daquele ano. Apostando em jogadores experientes, com quem já havia trabalhado anteriormente no Cruzeiro (como o zagueiro Marcelo Djian e o meia Valdo), o Galo chegou até a semifinal e foi eliminado pelo São Caetano. Aquela semifinal foi disputada em jogo único no estádio Anacleto Campanella, no ABC Paulista. Sob muita chuva e atuando em um campo literalmente alagado, o Atlético chegou a estar vencendo por 1 a 0, gol de Valdo, mas sofreu a virada com dois gols de cabeça do atacante Magrão.
A campanha do Galo no Brasileirão de 2001 foi uma surpresa, uma vez que poucos acreditavam que o time tinha condições de disputar a competição e brigar pelo título. Mas o técnico Levir Culpi conseguiu montar um time forte, indicou atletas que confiava, e terminou o ano como herói.
A boa campanha fez com que grande parte do elenco fosse mantido para 2002, e o treinador também permaneceu no clube. Mas o Atlético não conseguiu uma regularidade na Copa Sul-Minas, e a eliminação para o Brasiliense-DF nas semifinais da Copa do Brasil foi decisiva para a saída do treinador.
POLÊMICAS
Vale lembrar que no primeiro semestre de 2002, Levir Culpi não aceitou as reivindicações do meia Ramon Menezes, que havia sido adquirido junto ao Vasco da Gama no ano anterior por cerca de R$ 3 milhões. O jogador, que voltava de uma contusão, queria ser titular do Atlético, e bateu de frente com o treinador. Na época tanto o atleta quanto o técnico “discutiram” via-imprensa, e Levir acabou chamando Ramon de “QI de Alface”.
O meia foi afastado do grupo, treinou em separado, e acabou ingressando na Justiça do Trabalho contra o Atlético, alegando que fora impedido de trabalhar. Ramon ganhou seus direitos na Justiça, e quem ficou com o prejuízo foi o clube mineiro.
Ainda no Galo, Levir teve alguns problemas com o volante Cleisson e com o meia Alexandre, este último que na época acabou emprestado ao Botafogo junto com o lateral-direito Cicinho, fora dos planos.
Diogo Finelli
Jornalista, ex-correspondente do Portal Terra e repórter do Portal Uai - Superesportes
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