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Torcida | quarta-feira, 06 de julho de 2016, 23h36

Clima tenso divide organizada e diretoria atleticana

Por: André Wuicik (Furacao.com)

Foto Destaque

Fanáticos está proibida de usar qualquer adereço nos jogos na Baixada [foto: FURACAO.COM]

Desde as últimas décadas, é impossível separar o Atlético de sua torcida. Mesmo quando o time não vai bem, não há torcedor no Brasil que duvide da força da torcida atleticana, liderada, muitas vezes, pela organizada Os Fanáticos. Só que o clima hoje entre clube e organizada não é dos melhores, com reclamações de ambas as partes divulgadas pela imprensa e redes sociais, chegando ao estágio da proibição imposta pelo clube de qualquer item alusivo à organizada nos jogos na Baixada e uma carta em apoio ao fim das torcida organizadas - e, como contra-ataque, a decisão da Fanáticos de não frequentar mais os jogos na casa atleticana.

A troca de farpas entre as duas partes tem gerado protestos e a manifestação da diretoria do clube favorável à extinção das organizadas. Tal situação tem dividido a opinião entre os atleticanos. Em recente enquete promovida pela Furacao.com, 52,7% dos participantes não concordaram com a postura do Atlético em banir as organizadas, enquanto 47,3% se mostraram favoráveis às restrições. De um lado, os argumentos favoráveis à organizada pregam uma grande perda da mística da torcida com a falta da Fanáticos, enquanto os que concordam com o clube ressaltam uma crise no atual modelo das torcidas organizadas.

No ambiente conturbado dos bastidores do clube, os dois lados criticam a falta de diálogo para tentar resolver a situação. Formadores de opinião e torcedores do clube também apontam esse caminho para que a situação se resolva o mais rápido possível. No entanto, nenhuma das partes diz ter sido procurada para conversar sobre o assunto.

Festa no título Paranaense não amenizou o clima entre diretoria e organizada [foto: FURACAO.COM/Joka Madruga]

Representante da Assocap, grupo de apoio ao Atlético e sua diretoria, Doático Santos argumenta que desde o início a organizada se manteve irredutível em suas ideias.“Por parte da torcida não houve nenhum disposição de diálogo, desde a primeira punição [quando alguns integrantes publicaram um vídeo ameaçando o atacante Walter]. A resposta foi por pressão, desrespeito à diretoria do clube, achando que vão ganhar no grito”, ponderou.

Outro ponto abordado por Doático foi o atual modelo das organizadas no Brasil, justificando que a bateria, por exemplo, não está proibida na Baixada, mas sim os adereços alusivos à organizada.“Temos que compreender o papel afetivo que o grupo organizado sempre teve, mas temos que compreender a falência do modelo de torcida organizada no Brasil. Foi capturado pela cultura de gangue e violência. Aquele vídeo gravado por dirigentes da TOF em sua sede, xingando o Walter, foi fruto da cultura da violência”, disse.

Já a Fanáticos, por meio de seu representante de relações públicas Renato Martins, diz não ter sido procurada pelo clube, apesar da vontade em dialogar. “Desde meados do mês de abril estamos tentando diariamente resolver esta situação, mas nunca obtivemos respostas. A princípio imaginamos que era uma punição e, em um segundo momento, fomos surpreendidos com a postura do clube em querer a extinção das organizadas, usando para isso motivos anteriores à eleição de dezembro de 2015, motivos pelos quais a Torcida e os envolvidos já cumpriram com as penalidades impostos pelo Ministério Público e Poder Judiciário”, explicou – nas eleições do ano passado, a Fanáticos apoiou a chapa CAP Gigante, liderada por Mario Celso Petraglia.

Renato também comentou que, apesar de o clube liberar a bateria, a organizada só volta a frequentar a Baixada quando todos os seus adereços forem liberados. “As pessoas têm que compreender que a bateria, assim como as faixas e bandeiras que tem apenas o símbolo do Atlético, fazem parte da torcida organizada, e a partir do momento que o clube queira a extinção da torcida, ele está querendo a extinção destes itens que são da torcida”, disse em entrevista exclusiva à Furacao.com.

Em recente entrevista à Rádio CAP, o presidente do Atlético, Luiz SallimEmed, não falou diretamente sobre a organizada, mas pregou pela união dos torcedores. “Temos que parar com essas agressões, essas ofensas”, ressaltou, mas sem deixar muito claro como fazer para o clima de paz e a festa nas arquibancadas, enfim, voltarem a ser regra no Caldeirão.

Entenda a disputa entre clube x organizada

As divergências entre a Fanáticos e a diretoria do Atlético começaram em abril deste ano. Na partida pelas quartas de final do Paranaense, contra o Londrina, o atacante Walter ficou no banco de reservas, decidiu não ficar durante todo o segundo tempo no banco e foi mais cedo para o vestiário e, no caminho, discutiu com torcedores e mostrou o dedo do meio. No mesmo dia a Fanáticos respondeu com um vídeo, xingando e ameaçando o jogador. Foi o estopim para uma série de restrições serem impostas pela diretoria aos torcedores.

Desde então, o clube proibiu a entrada de materiais e adereços típicos da organizada dentro da Arena da Baixada. No jogo contra o Brasil de Pelotas, dia 13 de abril, a Fanáticos fez sua primeira manifestação após a proibição. Descaracterizados e sem bateria, os membros da organizada se negaram a cantar por boa parte do jogo e fizeram protestos diretos à diretoria e aos torcedores que tentaram puxar as músicas mesmo sem a liderança da organizada.

Com a conquista do Campeonato Paranaense, a situação acalmou, mas no Campeonato Brasileiro o atrito voltou a ganhar força. Na partida contra o Santa Cruz, pela 6ª rodada do Brasileiro, no dia 06 de junho, a Fanáticos estendeu nas arquibancadas uma faixa em que dizia: “MCP não é homem de palavra”, em crítica ao presidente do Conselho Deliberativo, Mario Celso Petraglia.

O clima de divergência só aumentou nas últimas semanas. Em 24 de junho, o Atlético publicou uma nota apoiando o fim das torcidas organizadas no Brasil. No dia seguinte, o clube organizou para o público uma festa junina, mas ao fim de um evento, foi registrada uma invasão e a diretoria alegou que os invasores eram membros da Fanáticos, que teriam xingado e agredido a diretoria e os participantes do evento. O ápice da briga aconteceu na última partida contra o América-MG (02), quando a organizada não entrou no jogo e ficou do lado de fora protestando contra a diretoria atleticana, situação que a Fanáticos promete se repetir nos próximos jogos na Arena.




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