Atleticanos campeões de 1943
No próximo domingo, Atlético e Coritiba começam a decidir o título do Campeonato Paranaense de 2016. Será a 16ª vez que os dois mais tradicionais clubes do futebol paranaense disputam uma final de Estadual.
Dos quinze confrontos anteriores, o Rubro-Negro levou a melhor em sete e saiu derrotado em oito ocasiões. Nos dias que antecedem o início da decisão, a Furacao.com relembra a série "Atletibas memoráveis", com todos os clássicos que o Furacão saiu com a taça.
É uma maneira de fazer os torcedores voltarem as atenções para as glórias do passado enquanto esperam pelos feitos do presente.
1943: o primeiro título numa final de Atletiba
A primeira decisão Atletiba relembrada é sensacional. O Atlético foi campeão paranaense de 1943 depois de derrotar o rival Coritiba em dois jogos decisivos. Esta disputa foi bastante representativa, pois reuniu uma série de fatores que viriam a marcar a história dos clubes e forjar o caráter atleticano. Teve de tudo: viradas espetaculares, superação em momentos difíceis, craques estrangeiros, raça, atuações fantásticas de Caju e até o Coritiba reclamando da derrota no tapetão.
Para saber como foram os Atletibas decisivos do Paranaense 43 é preciso voltar um pouco antes no tempo. Àquela altura, o Rubro-Negro já era o time mais popular de Curitiba (a Gazeta do Povo se referia ao Atlético como "o grêmio mais querido da cidade") e contava com seis títulos estaduais. Dois anos antes, havia sido derrotado pelo Coritiba na primeira decisão de campeonato disputada entre os dois clubes. O alviverde venceu também o campeonato de 42, o que o colocava na condição de favorito para ficar também com o troféu de 43.
Mas o espírito guerreiro contagiou a gente atleticana. Manoel Aranha foi eleito presidente e iniciou uma revolução no futebol paranaense. Dentre as várias inovações, implementou a concentração antes dos jogos decisivos e contratou jogadores estrangeiros - algo inédito em nosso estado, mas que virou uma marca do Atlético nas décadas seguintes. O paraguaio Ruben Aveiros, destaque de sua seleção no Sul-Americano do ano anterior, chegou para reforçar o Atlético. Foi o primeiro não-brasileiro a vestir a camisa rubro-negra, hoje tão bem envergada pelo colombiano Edwin Valencia. Para as finais, foi contratado o também paraguaio Ibarrola, que acabou sendo decisivo para o título.
O primeiro Atletiba
Como o Coritiba havia vencido o primeiro turno e o Atlético conquistado o segundo, os dois times disputaram a final numa melhor de três. O primeiro jogo, no Estádio Belfort Duarte (hoje Couto Pereira), foi espetacular. O Atlético saiu na frente com um gol do meia-esquerda Lilo, que arriscou um chute de longa distância e marcou um belo gol, sem chances para o goleiro Sandro. A vantagem atleticana não durou muito. Neno, que viria a fazer parte do Furacão de 49, empatou o jogo.
No segundo tempo, o ponta-esquerda Altevir virou o jogo para o Coritiba. O gol desestabilizou os atleticanos. O Coritiba cresceu na partida e começou a pressionar, mas brilhou a estrela do goleiro Caju, que realizou defesas incríveis e evitou a goleada. Refeito do susto, o Rubro-Negro mostrou por que é conhecido como o “clube da raça”.
Os heróis de 1943. Em pé: Batista, Lupércio, Lilo, Aveiros e Ibarrola / Agachados: Urias, Zanetti, Pizzato, Caju, Nilo e Joanino. [foto: GPP]
O paraguaio Ibarrola, que fazia sua estréia, aproveitou um cruzamento do ponta Batista e empatou o jogo. Minutos depois, o mesmo Ibarrola aproveitou um rebote do goleiro Sandro e colocou o Atlético novamente em vantagem. Mesmo tendo treinado poucas vezes com seus companheiros, o ponta-esquerda Ibarrola deixou uma ótima impressão e confirmou a fama de craque.
Aos 41 minutos, porém, o árbitro Moacir Gonçalves marcou pênalti em um lance no qual o zagueiro atleticano Urias colocou a mão na bola. Altevir cobrou e Caju defendeu de modo espetacular, garantindo a vitória e recebendo os cumprimentos de todos os companheiros. Nos vestiários, Urias chorou copiosamente, em um misto de tristeza pelo pênalti e de alegria pela defesa de Caju.
Depois dessa vitória histórica, o Atlético foi para o segundo jogo da final precisando de apenas um empate para ser campeão. Mesmo assim, o time não deixou escapar a oportunidade e voltou a vencer o rival.
Vencendo o Coritiba em final pela primeira vez
Uma semana depois do primeiro jogo da final, Atlético e Coritiba voltaram a campo para decidir o título da competição. Para ficar com a taça, o rubro-negro precisava apenas de um empate. Uma vitória coritibana provocaria um terceiro jogo. O jogo atraiu grande atenção dos curitibanos. O público registrado no Joaquim Américo (atual Arena da Baixada) foi o maior de uma partida de futebol no Paraná até então, mesmo com a chuva que atingiu a cidade durante todo o domingo do jogo. O campo encharcado foi um obstáculo a mais a ser vencido pelos jogadores das duas equipes.
Coincidentemente, a seqüência dos gols foi exatamente a mesma da primeira partida. O Atlético saiu na frente, o Coritiba virou e o Rubro-Negro garantiu a vitória, confirmando sua superioridade. Mesmo chutando desequilibrado, Lilo abriu o marcador para o Atlético. No início do segundo tempo, Rubinho empatou o jogo para o Coritiba, que virou aos 23 minutos com um gol do ponta Babi. Logo depois, o ponta-direita Batista se machucou. Como não havia substituição, ele trocou de posição com Ibarrola e ficou encostado na ponta-esquerda.
Porém, a camisa rubro-negra é capaz de operar milagres. Mesmo machucado, Batista conseguiu marcar o gol de empate, cabeceando um cruzamento de Ibarrola. Para se ter uma idéia da gravidade da lesão de Batista, basta dizer que ele passou duas semanas internado em um hospital com a perna engessada em virtude da pancada que levou durante a partida. Mesmo assim, fez um gol importantíssimo na final.
A raça do ponteiro machucado parece ter inspirado os companheiros, que não abdicaram em nenhum momento da busca pela vitória. Aos 41 minutos, Ibarrola cruzou para o artilheiro Lilo, que mandou de voleio e marcou um golaço, garantindo o título de 1943. A escalação do Atlético na decisão foi a seguinte: Caju; Zanetti e Urias; Pizzato, Nilo e Joanino; Batista, Lupércio, Lilo, Aveiros e Ibarrola.
A festa do título
A conquista atleticana foi comemorada de maneira entusiástica, como nunca se havia visto na história do futebol paranaense. A torcida invadiu o campo do Joaquim Américo e abraçou os jogadores, que foram carregados como verdadeiros heróis. Fogos de artifício e uma revoada de pombos abrilhantaram ainda mais o título. A imprensa classificou aquele como o melhor Campeonato Paranaense já realizado até então.
Os jogadores foram homenageados com um bicho extra: correu uma lista entre torcedores para arrecadar uma quantia a ser rateada pelos atletas. Para a diretoria e torcedores, a festa ficou por conta da chamada “semana da vitória”, que contou com um banquete oferecido ao presidente Manoel Aranha na Sociedade Thalia e uma grande festa no Cassino Ahú. A semana foi encerrada com um churrasco no Joaquim Américo, durante o qual os jogadores participaram de uma animada pelada entre casados e solteiros.
Nessas comemorações, surgiu a primeira versão daquele que se tornaria o hino oficial do clube. O compositor gaúcho J. Cibelli musicou uns versos criados por Zinder Lins por ocasião do título de 1930. No baile do Cassino Ahu, os torcedores receberam a letra da nova música e se divertiram a noite toda cantando a homenagem ao Atlético.
Além dessa música, outra embalou as comemorações atleticanas, essa mais provocativa ao Coritiba. Tratava-se de uma paródia da música francesa “Alza Manolita”, grande sucesso no país na época: “Alza, alza Coritiba / Vai tua mágoa espalhar / O Rubro-Negro tem sangue na / Veia e no pulso / Este sangue é enxertado / Com sangue de russo".
Fontes: Hot site dos 80 anos (Furacao.com), Atlético: a paixão de um povo (Heriberto Ivan Machado e Valério Hoerner Júnior) e Futebol do Paraná (Heriberto Ivan Machado e Levi Mulford Chrestenzen)
Matéria originalmente publicada na Furacao.com em 21 de abril de 2008 e adaptada para a final do Paranaense de 2016
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