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Geral | quarta-feira, 06 de junho de 2012, 14h16

O sorriso rubro-negro na luta pela vida

Por: Monique Silva (Furacao.com)

Foto Destaque

Lucas esbanja esperança e dá de goleada quando a partida é pela vida [foto: FURACAO.COM/Monique Silv

Em fevereiro de 2009, o chão se abriu para Carla Cordaço e João Carlos Cordaço, pais de Lucas. A família de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, recebeu a notícia de que o segundo filho havia sido diagnosticado com leucemia linfóide aguda, tipo de câncer que se origina na medula óssea e atinge as células do sangue. Já são três anos de luta contra a doença, com altos e baixos, uma história de conquistas e persistência pela vida. Depois de nove meses de adiamento, o menino, de oito anos, agora se prepara para receber o transplante de medula óssea no Hospital de Clínicas, em Curitiba.

Torcedor apaixonado do Atlético Paranaense, Lucas recebeu a visita da equipe Furacao.com no último sábado. Dias antes, seu primo Rodolfo Vianna havia enviado um email para o site solicitando a divulgação de um pedido de doação de sangue antes do transplante. Caso não conseguisse o número de doadores, o menino podia perder seu doador e voltar ao início da fila. Porém, o pedido foi prontamente publicado e divulgado e, no dia seguinte, o número mínimo de doadores foi atingido.

Sensibilizada com a história de Lucas, a equipe do site resolveu proporcionar alguns momentos de alegria ao garoto antes do transplante. Com muita alegria e bom humor, Lucas ganhou presentes e mostrou que tem na paixão pelo esporte a chave para não desanimar ou perder a confiança em sua própria recuperação.

Ao lado do primo Rodolfo, Lucas também recebeu presentes da Fanáticos [foto: FURACAO.COM/Monique Silva]

Bastaram apenas alguns minutos para perceber o quanto seu otimismo contagia a todos ao redor. Mesmo passando por muitos momentos difíceis e diagnósticos desanimadores, Lucas esbanja esperança e dá de goleada quando a partida é pela vida.


Uma história de superação

Nascido em Campo Grande, Lucas morou no Equador depois que o pai, engenheiro industrial, foi transferido a trabalho. Conviveu com 74 famílias de várias nacionalidades e, ao lado de seu irmão Nicholas, de 12 anos, foi alfabetizado em italiano e espanhol. Em 2008, a nova casa foi a Venezuela, onde ficaram até o ano seguinte. E foi lá, no período escolar, que Lucas começou a apresentar os primeiros sintomas, prestes a completar quatro anos. Carla levou o filho caçula ao médico e recebeu diagnósticos pouco precisos. No final de 2009, o avô de Lucas sofreu um derrame e o menino surpreendeu o pai com um pedido:

“Pai, preciso ir ao Brasil”.
“Mas por que, se você não gosta de lá”?
“Porque estou morrendo”.


Ali começou a saga da família Cordaço. A mãe pediu uma dispensa de 20 dias na escola e voltou ao Brasil para rever o pai, doente. Dois dias antes de voltar à Venezuela, Lucas sentiu dores no abdômen e, em seguida, apresentou febre. Pensando ser uma virose, a mãe levou ao médico, que solicitou exames de sangue. No mesmo dia, a hematologista dava o diagnóstico: 98% de chances de leucemia. “Foi muito difícil porque quando alguém ouve essa palavra já pensa em óbito. Ali mesmo fizemos uma pulsão lombar e três dias depois o diagnóstico se confirmou”, relata.

Desde então, Lucas passou por dois anos intensos de sessões de quimioterapia. Em dado momento, a leucemia reincidiu e o tratamento voltou a ser pesado, até que a medula voltasse a ficar limpa. O menino se debilitou e já não andava quando um dos médicos informou que a quimioterapia seria dobrada. Foi naquele momento que os pais decidiram buscar tratamentos alternativos. Assinaram papéis, responsabilizaram-se pela situação e buscaram tratamento natural com terapias e alimentação orgânica. Três meses depois, Lucas respondeu positivamente ao tratamento e, logo depois, refez os exames e o organismo voltou ao normal, como se nunca houvesse tido leucemia. “A doutora nos parabenizou e disse que tínhamos uma criança perfeitamente saudável normalmente”, conta a mãe.

Com a resposta positiva, a família retornou à Venezuela e Lucas retomou suas atividades. Fazia natação e seguia com o tratamento para manter a imunidade alta. Em julho de 2010 voltaram ao Brasil no período de férias escolares e, durante a viagem com destino ao Mato Grosso do Sul, o menino apresentou febre. Na chegada, o diagnóstico mais temido dava as caras novamente: a leucemia tinha reincidido agressivamente. “Recomeçamos o tratamento e o hematologista foi claro conosco: disse que ele não iria suportar nem a primeira sessão de quimioterapia. Lucas estava nos meus braços naquele momento e ouviu tudo, mas me disse: ‘Mãe, fique tranquila. Eu não vou morrer”.

Depois de algumas sessões, em novembro daquele ano fizeram uma nova pulsão lombar em Lucas para ver o resultado dos procedimentos, mas infelizmente nada funcionou. Com a resposta dos médicos que nada mais poderia ser feito, os pais de Lucas entraram em contato com parentes que moravam em Curitiba, que se mobilizaram para que o menino pudesse ser tratado no Hospital de Clínicas. Ali, outra barreira: a família não tinha o código de transição exigido pelo Estado e informado pelo SUS. “Não tínhamos como entrar no HC, mas viemos com a cara e a coragem, no final de janeiro 2011. Fomos recebidos de maneira especial por todos do hospital, desde as recepcionistas. Eu vim pela fé”.

Dava-se início a mais uma etapa na luta contra a doença. A situação de Lucas era delicada. “Vi muitas crianças que não reagiam, nada dava certo. Não queria que o meu filho continuasse sofrendo. Ele perguntava muito porque aquilo estava acontecendo com ele. Mas ele mesmo se dava a resposta. Ele dizia: ‘Eu sou guerreiro, né, mãe? Se eu tenho que passar por isso, vou passar”, conta Carla. Lucas realizou quimioterapia durante cinco dias e ficou mais 15 internado. Sofrendo reações como anemia, náuseas e cansaço por conta das sessões, no dia 8 de abril a notícia esperada: a medula estava limpa e zerada novamente. O próximo passo seria buscar um doador para o transplante. Sem doadores compatíveis na família, Lucas passou a integrar o banco mundial de doares de medula. Quatro meses depois, novo alívio com a confirmação de que o menino tinha um doador, através de um cordão umbilical disponível nos Estados Unidos.

O recebimento do transplante foi primeiramente cogitado em setembro de 2011, mas adiado para novembro devido a problemas físicos na estrutura do HC. Em janeiro de 2012, a família descobriu que o governo federal não havia autorizado o transporte do cordão umbilical para o Brasil. Sendo assim, o procedimento foi remarcado. No dia 29 de março, Lucas foi fazer mais uma sessão de quimioterapia quando um novo exame de sangue acusou que a doença havia reincidido pela terceira vez. “A doutora não acreditava no que estava acontecendo. O exame acusou 46%, praticamente uma perda total, sendo que o transplante já estava marcado para o dia 11 de maio. Simplesmente voltamos à estaca zero. Tudo que passamos por dois anos não tinha valido nada naquele momento”.

Sem poder fazer o transplante naquelas condições, Lucas passou por novas sessões e, três dias depois, novos exames mostraram que a taxa havia caído para 2%, surpreendendo os médicos. Com a medula novamente limpa, marcaram a internação para o último dia 22 de maio, mas problemas na conciliação do anestesista para que Lucas pudesse receber um novo cateter adiaram o transplante para o próximo dia 15 de junho, além da greve de funcionários do HC.

Antes do dia mais aguardado dos últimos anos, Lucas ainda passará por novas sessões de quimioterapia e radioterapia, tudo para preparar seu corpo para aceitar uma nova medula. Após o transplante, ele ainda precisará ir ao hospital diariamente por um período de 100 dias para lavar o cateter e receber medicações.

O sonho de Lucas é apenas um: voltar à escola, ter seus amigos e viver como uma criança comum. E, claro, continuar torcendo e acompanhando o Furacão. Mas os ensinamentos diários para quem tem o prazer e o privilégio de conviver ao lado dele vão continuar, como conta a sua mãe: “Ele me ensinou a valorizar os pequenos detalhes, como um sorriso, um abraço, além de viver um dia de cada vez. Um nunca mais espero para amanhã o que posso fazer hoje, assim como também não deixo que nada me derrube”.

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