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Entrevista | quarta-feira, 15 de dezembro de 2010, 00h16

A voz do capitão!

Por: Caio Derosso (Furacao.com)

Foto Destaque

Baier: "Só aqui que eu vi uma torcida fazendo isso" [foto: FURACAO.COM/Caio Derosso]

Após o último treino do Atlético na Arena da Baixada em 2010, o capitão atleticano Paulo Baier concedeu uma entrevista exclusiva à Furacao.com.

Baier foi o artilheiro rubro-negro no Campeonato Brasileiro, com dez gols. Seu último gol, contra o Avaí, foi também o último gol do Furacão na temporada. Ao todo, foram 87 gols marcados em Brasileiros desde 2003, quando o principal torneio nacional de clubes brasileiros passou a ser disputado no sistema de pontos corridos. O vice-artilheiro da era dos pontos corridos é o atacante Washington, do Fluminense, com 82 gols.

Muito se comenta que ele é o jogador que chega mais cedo aos treinos e o último a deixar o gramado. E isso foi comprovado na prática. Além de ficar treinando cobranças de faltas e pênaltis, Baier ainda concedeu várias entrevistas antes de ir ao vestiário.

De banho tomado e na companhia de Paola, a filha mais nova, o jogador de 36 anos falou sobre a renovação do seu contrato, o futuro fora do futebol após a aposentadoria, sua vontade de jogar, seleção brasileira e revelou um segredo: o medo de voar de avião!

Confira abaixo a entrevista exclusiva com o capitão Paulo Baier e sua mensagem para a torcida atleticana:

Até a metade do ano, o time sofreu com uma chamada “Baierdependência”. Você concorda com isso?
Não sei se era isso, mas é mais em relação à confiança dos outros atletas. Dentro de campo, eu passava uma confiança grande para um grupo jovem, que precisava de um jogador mais experiente para chamar a responsabilidade, para cobrar. Eu acho que era mais por causa disso.

Você passou por vários clubes e criou fortes laços de identificação no Goiás, Criciúma e agora no Atlético. Isso acontece por causa desse estilo de ser líder?
É, eu tenho essa personalidade meio forte em relação a cobrar dentro de campo. Fora de campo eu sou bem tranquilo, procuro tratar todo mundo bem. Dentro de campo eu meio que me transformo. Eu gosto de vencer, não admito perder. Às vezes eu saio meio chateado por causa disso, a gente perde e eu não gosto disso. Quero vencer, gosto de estar ganhando e isso reflete no meu perfil dentro de campo. Às vezes isso se reflete em uma identificação.

Essa experiência é utilizada fora do campo de jogo, aconselhando os jogadores mais novos?
Também, no dia a dia, os próprios jogadores vêm pedir o que devem fazer, o que precisam melhorar. E logicamente eu procuro orientar da melhor maneira possível, passar uma orientação boa, positiva e em relação mais ao trabalho. Às vezes ficamos um pouco depois do treino melhorando alguns aspectos, como cabeceio, chute, principalmente com os mais jovens. Eles têm que crescer, então é importante.

Esses jovens sonham principalmente com a Seleção Brasileira. Você nunca foi convocado, isso incomoda?
Não, não, de maneira nenhuma. Quando eu estive no Goiás, eu estava para ser convocado pelo [Carlos Alberto] Parreira, em um jogo contra o Peru em Goiânia, mas aí não deu. Isso não incomoda. Logicamente que era um sonho que eu tinha, mas não aconteceu.

Muitos comentam sobre a sua disposição em treinar. É o primeiro a chegar e o último a sair. Esse é o seu diferencial para estar jogando ainda?
Rapaz, eu sou meio chato para isso. Eu sempre fui um cara que se dedica muito em relação a treinamento, gosto de fazer a parte física, gosto de trabalhar. Às vezes eu vejo alguns meninos aí, eu fico revoltado. Eles podem dar um pouco mais, podem querer um pouco mais e às vezes eles deixam passar as oportunidades. Acho que você deve estar sempre se atualizando, se aperfeiçoando. Eu sempre fui assim. Tanto que estou com 36 anos e correndo bem. Chegando ao final de temporada bem, correndo 90 minutos. Além da dedicação, procuro me cuidar o máximo para estar bem sempre.

Você é o artilheiro do Brasileirão nos pontos corridos, mas sempre jogando como lateral ou meia. Como analisa isso?
É verdade, joguei muito tempo de ala no Goiás e em outros times que passei. São quatro anos que jogo de meia. Desde 2003, eu estou com 87 gols marcados, já passei o Washington. É motivo de orgulho, satisfação, porque tem tanta gente boa que temos no país e eu estou sendo o maior artilheiro. E para o clube é importante manter isso aí. É importante ter o maior artilheiro dos pontos corridos.

"Às vezes eu vejo alguns meninos aí, eu fico revoltado" [foto: FURACAO.COM/Caio Derosso]


Tem alguma meta? 100 gols?
Fazer gol é uma coisa positiva, que eu gosto de manter, mas o mais importante são os três pontos para o Atlético. Se tiver a oportunidade de dar o passe e a gente ganhar é melhor, mas se puder fazer o gol, melhor ainda. Então aí vai aumentando, mas não é uma coisa que eu fixo. É uma coisa natural. Se aparecer a oportunidade tem que caprichar.

O Rhodolfo nos confidenciou que você tem medo de viajar de avião, é verdade?
Nossa! Se eu tenho medo, imagine ele (risadas). Ele chega a se grudar na poltrona, mas eu tenho mesmo. Tanto que eu peço para viajar na frente, porque lá balança menos.

Isso vai ser um dos motivos que vai impedir você de continuar no futebol depois de aposentado?
Não, se não já tinha parado. Lógico que tem aquela ânsia, o medo é coisa normal, senão não tinha assinado mais dois anos.

Mas pretende continuar depois?
Depois que se aposentar? Não quero nem ouvir falar. Só ir assistir aos jogos e de carro (risadas).

Seu ídolo é o Zico, por quê?
Pelas cobranças de falta e pela dedicação. Por tudo que ele representa para um clube, a imagem dele dentro e fora de campo. Acho que ele é o exemplo para mim em relação a tudo. Não adianta ser exemplo só dentro de campo. Tem que ser fora também. Tratar bem a pessoas, mesmo que elas te critiquem. Tem de ser normal.

Como analisa essa profissionalização cada vez mais cedo?
Evoluiu muito o futebol, antes não era assim. Eu lembro no ano passado e em alguns jogos deste ano, jogamos com nove jogadores da categoria de base. Antigamente jogava um, no máximo dois, quando não ficavam no banco. Isso evoluiu muito e a tendência é essa. Tem que ter os jovens, mas também deve ter os jogadores mais experientes para coordenar e manter o equilíbrio.

Falando em equilíbrio, como se portar em campo como capitão?
Eu já fui muito explosivo, depois fui aprendendo. Hoje com o árbitro é você saber conversar direito. Acho que não pode chegar gritando, abrir os braços. Todos os árbitros com que eu converso eu procuro ter uma educação, pois é ele que está apitando e é ele que manda. A gente tem que ter esse equilíbrio para conversar e não tomar um cartão de graça.

Muitos jogadores tentam não falar de aposentadoria, como você encara isso?
Normal, uma hora a gente tem que parar. É uma coisa natural. Depois que você chega a uma certa idade, é tudo questão de motivação. Se você perder a motivação de vir para treinos, de vir para jogo ou concentrar, aí pode parar. Não vai se motivar para ajudar o clube. Eu sou totalmente diferente. Estou totalmente motivado, jogando e treinando com alegria e vou continuar esses próximos dois anos no Atlético assim.

E teve algum momento que você pensou em parar antes?
Sim. Eu tive vários fatores que me fizeram pensar nisso. Faz tempo já. Uma vez eu fui pego no doping. Eu tomei um remédio no Criciúma, clortalidona, que serve para baixar a pressão e aí eu fui pego e fiquei 29 dias suspenso. Aí bate o desespero, quer largar tudo, não é fácil. A outra vez foi quando eu fiquei seis meses parado, briguei com o empresário, tinha saído do Vasco e as oportunidades não apareciam e eu ficava com vontade de parar.

Quando se aposentar vai virar fazendeiro?
Vou. Lá em Ijuí, minha cidade. Tenho umas terrinhas lá e eu gosto disso. Minha família sempre fez isso e quando vou para lá ajudo, vivo em cima do trator, faço churrasco e fico com os amigos. Coisas de que eu gosto.

"Nós conseguimos resgatar o que é o Atlético" [foto: FURACAO.COM/Caio Derosso]


Esses dois anos são os últimos?
Acredito que sim. Tem que ver como vai, não posso dizer eu vou parar, mas tem que ver como vou estar fisicamente. Se eu achar que tiver condições de estar jogando e ajudando, não só pelo nome, aí dá para continuar. Então se as pernas não aguentarem mais, eu paro.

Você disse que não ser convocado não te decepcionou e a falta de títulos?
Não incomoda nada. Conquistei dois estaduais [Goiás e Sport] e uma Série B [Criciúma]. São coisas que eu fico tranquilo. Fui artilheiro de um Campeonato Goiano com 12 gols, está bom já.

Quais os planos para o Atlético em 2011?
Nós temos quatro competições. Pelo que eu vejo, a diretoria está se mobilizando para contratações e para manter o time base. Tem evoluído muito. Nós temos um time bastante forte e se chegarem mais alguns jogadores de qualidade nosso time vai ficar muito bom. Então acho que a diretoria está se agilizando e tende a melhorar cada vez mais.

E você participa de alguma forma na montagem do elenco?
Não. Hoje eu sou só atleta de futebol. Logicamente, se precisar de ajuda, de informação e a diretoria pedir, tudo bem. Mas sobre eu ajudar oficialmente não tem nada conversado.

Essa identificação com a torcida atleticana fez você se associar ao clube…
Sim, e por outros motivos também. Tem amigos que vêm lá do Rio Grande do Sul assistir aos jogos, familiares, várias situações. É importante também a gente estar ajudando. É mais tranquilo ter as duas cadeiras.

E vai manter as cadeiras depois que se aposentar?
É bem possível que sim. Depois que parar a gente vai assistir a alguns jogos. Vou vir de carro, quem sabe avião, vamos ver o que vai dar.

No jogo contra o Grêmio Prudente você perdeu um gol claro e mesmo assim a torcida gritou seu nome. Qual foi a sensação?
Nossa, eu fiquei bastante emocionado. Ia ficar um peso muito grande se o jogo terminasse 1 a 1. Ia ser uma responsabilidade muito grande sobre mim, mas ainda bem que ia ser para mim, porque se fosse com outro jogador poderia ser bem pior. Então eu ia aguentar firme. Graças a Deus eu tive mais uma oportunidade e consegui fazer. Fiquei bastante feliz com o gol e pude ajudar. Aí sim a torcida pode gritar com mais vontade. Só aqui que eu vi uma torcida fazendo isso.

Deixe uma mensagem de final de ano para os atleticanos.
Nós conseguimos resgatar o que é o Atlético, pois nos últimos anos o time vivia para não cair. Esse ano resgatamos e deixamos em uma situação que é um dos primeiros clubes do país. Tem que dar os parabéns ao nosso torcedor, que incentivou em todos os momentos. Nessa campanha chegamos longe por causa também da torcida. Quero desejar um feliz Natal, um próspero Ano Novo e saúde e paz para todos.

Colaboração: Paulo Perussolo (Furacao.com)

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