Petraglia voltou a conceder entrevistas depois de oito meses [foto: arquivo]
Desde que deixou de exercer um cargo administrativo dentro do Atlético Paranaense, o ex-presidente do clube, Mario Celso Petraglia, tem evitado falar com a imprensa. Mas neste mês de agosto ele é o entrevistado da Revista Ideias. A reportagem de capa traz a manchete: “Petraglia rompe o silêncio”. E ao falar com os jornalistas Fábio Campana, Nêgo Pessôa e Denise Mello, o ex-dirigente não deixou de trazer ideias inovadoras e um tanto quanto polêmicas. A principal delas: a criação da “Arena Atletiba”.
Para justificar essa proposta, Petraglia cita o exemplo da Copa da Alemanha, com a cidade de Monique. A Allianz Arena, construída para abrigar jogos da Copa, é o estádio oficial dos TSV 1860 Munique e Bayern de Munique. “Com uma cobertura de resina inflável, que recebe luz por dentro, ela fica ela fica azul quando joga o TSV 1860 e vermelha quando joga o Bayern”, explica Petraglia.
Confira os principais pontos abordados na entrevista com Mário Celso Petraglia à Revista Ideias. A íntegra da entrevista pode ser conferida na edição da
Revista Ideias, à venda nas bancas de Curitiba, ou no
Blog da Baixada, que publicou todo o conteúdo.
REALIDADE DO FUTEBOL PARANAENSE
“Temos 12 clubes considerados grandes, respeitados no Brasil. Temos quatro do Rio de Janeiro, quatro de São Paulo, dois de Minas Gerais e dois do Rio Grande do Sul, que se desenvolveram graças à economia e política desses estados. O resto não existe.
Eu vejo o futebol paranaense com viabilidade, principalmente o da capital. O resto esqueça. Não acredito mais nessas competições estaduais, estão falidas. Alguns clubes já participam da terceira e quarta divisão, e porque não criar a quinta e a sexta? Esse é o caminho. Com a disputa de torneios regionalizados, restritos ao território próximo, ligados a um todo.”
O PREÇO DO FUTEBOL NA ATUALIDADE
“Você encontra técnicos ganhando salários absurdos. Eu nunca aceitei isso. O grande problema é você contratar um técnico não qualificado pagando o que o qualificado ganha. Pagar R$ 200 mil para o Geninho, por exemplo, é um grande erro. Mas é o mercado... Então eu prefiro não ter, do que pagar para quem não merece. Felizmente, conseguimos nesses anos conduzir o Atlético Paranaense de maneira que o nível de endividamento foi decrescente, praticamente zerou. Agora nos outros clubes que continuaram as suas loucuras essa curva foi absurda, com crescimento das dívidas, fiscais, trabalhistas... E eu não vejo solução, nem com Timemanias, que resolva isso aí.”
FIM DOS CAMPEONATOS ESTADUAIS
“Se, no Paraná, eliminarmos os campeonatos estaduais, fizermos uma grande campanha do paranismo para que os filhos desse estado torçam para clubes daqui, eliminarmos absurdos como esse do Corinthians Paranaense, que é a entrega do nosso mercado para marcas paulistas, e unirmos as forças maiores do estado, teremos melhores condições de buscar esse crescimento e desenvolvimento. Se continuar a autofagia, autodestruição, e um querendo trucidar o outro, continuaremos pequenos.”
Imagem da capa da Revista Ideias deste mês [foto: Travessa dos Editores]
COPA DE 2014 EM CURITIBA
“Todos sabem as dificuldades, a briga com a Federação, com o Pinheirão, tudo isso para que a Copa do Mundo viesse para Curitiba. O envolvimento do poder político para trazer a Copa foi muito pequeno, não foi no mesmo nível que em outros estados. O trabalho e a existência da Arena, do Atlético Paranaense, possibilitaram a vinda da Copa para Curitiba. Agora começa para valer. Em agosto, as cidades escolhidas terão que apresentar ao governo e à Fifa as suas viabilidades econômicas. Fontes e origens dos recursos, garantias, tomadores, investidores, quem vai pagar a conta. Ou seja, até agora, passamos no vestibular, estamos na universidade, mas precisamos comprar os livros, pagar a matrícula, precisamos fazer a lição de casa do segundo momento.”
DIFERENCIAL DA ARENA
“O que nos possibilitou ser escolhidos é que a Arena é uma iniciativa privada, que é o que a Fifa prega. A grande preocupação da Fifa é o legado, é o depois que a Fifa for embora, em julho de 2014, terminada a Copa, o que sobrou? Manaus ficou com um estádio de 60 mil pessoas, fará o que com aquilo? Virou elefante branco. Na Coreia, temos estádios construídos para 2002 que já foram demolidos, porque não serviam para nada. Quando é privado o dono tem o compromisso da solução e como é de um clube de primeira, terminada a Copa o Atlético continuará jogando e a população se servindo, ou seja, tem o depois.”
VERBA PARA CONCLUIR O ESTÁDIO
“O Atlético Paranaense não tem condições nem o direito de que nenhum dirigente proponha terminar a Arena ao seu prejuízo, ao seu sacrifício. O nível de exigência do caderno de encargos da Fifa é leonino. (...) Eu tenho feito a seguinte analogia, é um Stock Car e uma Fórmula 1. O campeonato do mundo e os estádios eram uma corrida de carros reformados, velhos, adequados e hoje, com as novas exigências da Fifa, são uma Fórmula 1, uma Ferrari. Quem vai pagar essa Ferrari? Quem é o beneficiado deste espetáculo? É o estado, é a cidade, não é o clube. Porque o Atlético não precisa de uma Ferrari para depois da Copa disputar o campeonato estadual. Dentro dessa comparação, nossa realidade é a Stock Car. E aí? O que fazemos com a Ferrari? O Atlético já decidiu: não põe um tostão para a satisfação das exigências da Fifa. Para quê? Não tem nem razão, nem motivo.”
ARENA ATLETIBA
“Temos defendido que Minas Gerais tenha um estádio para Atlético e Cruzeiro. São Paulo deveria ser uma só arena para os três, e assim por diante. Uma só Arena para Atlético e Coritiba. Por um lado, a adequação para os jogos da Copa, na Arena do Atlético, está estimada em mais ou menos R$ 100 milhões. Por outro, o Coritiba precisa revitalizar a praça dele, tentou algumas alternativas, mas não se viabilizou. Porque não unirmos os interesses dos dois em uma só praça esportiva? Cada um fica com seu centro de treinamento, com a sua administração do futebol, e o nome seria Arena Atletiba. Eles vendem o Couto Pereira, pegam esse dinheiro e a gente termina a arena. Aí o estádio fica exclusivamente privado. Quando um joga fora o outro joga dentro, quando um joga sábado o outro joga domingo. Teremos 70 datas por ano para
viabilizar.”
“VOLTA PETRAGLIA” AO ATLÉTICO
Isso não existe, não tem a menor possibilidade. (...) Eu acho que já passou, já virou a página. O que eu tinha que contribuir já contribuí. Já está aí o legado, nos 14 anos de trabalho: a vinda da Copa, a construção e conclusão da Arena, o campeonato brasileiro, o vice-campeonato da Libertadores, um clube sem dívidas, uma marca reconhecida, um case nacional e mundial. Já fiz a minha parte.”
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