Ricardo Pinto, ídolo de uma geração [foto: arquivo]
Uma vez ídolo, sempre ídolo. Um dos maiores jogadores que passaram pelo Atlético e que encarnou o lema que "a camisa rubro-negra, só se veste por amor", Ricardo Pinto, deu entrevista exclusiva à Furacao.com nesta semana. Sempre solícito e atencioso, o ex-goleiro falou sobre seu relacionamento com Petraglia e Malucelli, a homenagem feita pela torcida Os Fanáticos, a falta de jogadores identificados com a torcida e, de quebra, deu dicas para a atual diretoria atleticana. "Não precisa se preocupar com o patrimônio do Atlético, que é maravilhoso. Tem que arrumar dinheiro e contratar bons jogadores para poder trazer alegria pra torcida, que é o maior patrimônio que o Clube tem", resumiu.
De 1995 até 1997, o goleiro foi uma das maiores unanimidades da história do Atlético e um dos símbolos do acesso à primeira divisão e da bela campanha na Série A no ano seguinte. Acompanhe os comentários do ídolo a seguir:
Como era seu relacionamento com Petraglia? Você conhece o Malucelli? Qual é o seu relacionamento com eles?
Foi o Petraglia que me trouxe pro Atlético. Ele foi o causador da minha vinda pra cá, ele e o Ademir Adur, na época. Nós temos que considerar que ele foi o homem que teve peito e coragem de fazer tudo pelo Atlético. Tudo o que o Atlético é hoje, com certeza foi o arrojo dele que levou a acontecer. É uma pessoa com a qual eu tenho um relacionamento muito distante. Era distante, mesmo na época em que eu jogava, também depois como treinador de goleiro, mas é uma pessoa em quem eu confio e gosto muito, principalmente pelas obras que ele fez, né? Em relação ao Malucelli, o próprio nome dele já diz alguma coisa. É uma família muito vitoriosa, é uma pessoa muito séria, é um cara atleticano, dentro de uma família de coxas-brancas, como a gente sabe. É um cara apaixonado pelo Clube. Eu acho que a competência dele e, sobretudo, o amor que ele tem vão fazer com que o Atlético cresça muito mais na mão dele.
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Ricardo Pinto recebeu homenagem da torcida [foto: JORNAL DO ESTADO/Franklin de Freitas] |
Você recebeu uma homenagem na reta final do Campeonato Paranaense, o bandeirão com a sua foto, feito pela Torcida Os Fanáticos. Onde você estava quando soube, o que você sentiu ao ver tamanho carinho com a figura do Ricardo Pinto?
Eu estava trabalhando em São Paulo até três semanas atrás, no Red Bull. Nós tínhamos jogado no sábado, no domingo eu estava lá no horário do jogo. Aí o telefone não parava de tocar. Eu atendia e as pessoas diziam “pô, que bacana, que legal isso, parabéns”, e eu não tinha entendido ainda, perguntavam se eu estava dentro da Arena. Aí o meu filho, que é sócio, vai a todos os jogos, tirou uma foto e mandou pra mim. Depois minha mulher mandou o link e eu fiquei todo bobo. Mostrei pra todo mundo lá
(em São Paulo).
Você se aquecia com a camisa da Torcida Os Fanáticos. Até por isso, o Ricardo Pinto tinha uma identificação muito grande com os torcedores do Furacão. No elenco atual, há algum jogador que tenha essa mesma empatia com a massa rubro-negra?
Foi uma coisa que não foi pedida, não é? Nem por mim nem pela torcida, mas uma coisa espontânea, criada. Acho que deu certo por causa disso. Eu fazia o aquecimento com a camisa da Torcida Os Fanáticos e, sinceramente, tinha alguns jogos que eu me sentia mais emocionado ao entrar em campo pra fazer o aquecimento do que pra jogar. Eu tinha mais alegria, me sentia mais motivado, me arrepiava mais do que entrar pra jogar. Eu pensava:
“Puxa vida, esse jogo tá uma porcaria, vai ser um problema esse jogo”. Porque a gente sabia que tinha jogo que não ia bola. Aí eu lembrava que tinha o aquecimento antes, ia lá e me esbaldava. Era um momento muito ímpar. Eu acho que na história do futebol brasileiro isso nunca aconteceu. Eu trago isso comigo, é pouco divulgado, mas tem certas coisas que acontecem conosco que ninguém tira de nós, e isso é uma delas.
Até pouco tempo nós tínhamos o Claiton e o Alan Bahia no Furacão como ídolos. Jogadores que vibravam e chamavam a torcida pra entrar em campo. Você acredita que há alguém no Atlético, hoje, que tenha essa mesma identificação que você e eles tinham?
No Atlético, hoje, alguém que tem essa característica é o Geninho. O próprio Bolinha, que é uma figura espetacular. Porém, dentro de campo, eu não vi ainda. É como eu disse, tem que ser uma coisa natural. Não adianta ninguém pedir, não adianta alguém forçar. Então, tem que esperar, porque disponibilidade há. Tanto de um lado quanto de outro. A torcida espera alguém assim. Os jogadores precisam disso, da torcida. Daqui a pouco vai surgir alguém e, obviamente, esse jogador vai ocupar este espaço.
Galatto e Vinicius são goleiros para o Atlético? Qual goleiro em sua opinião tem se destacado no Brasil?
Sem dúvida, o destaque nacional é o Lauro, do Internacional. O Bruno
(Flamengo) é bom goleiro, o Felipe
(Corinthians) também é bom goleiro. Em relação ao Galatto e ao Vinicius, e o Vinicius chegou a trabalhar comigo, é um goleiro com muito potencial. O Galatto também a gente percebe que tem muita qualidade, pela história que ele tem. Agora, são goleiros que ainda estão desabrochando. Não têm a experiência e nem a vibração necessárias. Acredito que pra jogar no Atlético tem que ter um algo mais. Não adianta só você treinar, dizer que gosta, dizer que vai bem. No Atlético você precisa deste algo mais. E isso significa que sempre tem de se doar mais: vibrar. participar, se entregar totalmente, estar interado de tudo o que acontece. Não sei se é uma coisa muito profissional deles, que eles não conseguem expor. Se alguém conseguisse mostrar isso, seria interessante. A torcida está necessitando disso. O momento está aí. O Brasileiro, um grande jogo que fizemos contra o São Paulo. Poderia ter sido melhor, ou pior também, não sei. Então, nesse jogo em casa, agora (contra o Náutico, amanhã), tem que ter alguém que apareça, que bata na camisa, que chame a torcida. Tem que ter alguém que inflame, que ponha fogo, porque está quase virando brasa é só soprar um pouquinho que, com certeza, vai pegar fogo.
Você pretende continuar a carreira de treinador? Já recebeu alguma proposta?
Ainda não, mas eu pretendo continuar. Tenho me preparado pra isso, estudado bastante. Agora estou dando uma descansada porque eu estava longe de casa, dois anos já que eu estava vindo e ficava 15, 20 dias. De qualquer forma eu estou aí, devo continuar, e estou me preparando. Tem gente que sonha com a seleção, a gente sonha com o Atlético. Entretanto, tudo tem seu momento, tem sua hora.
Pra finalizar, qual o seu recado pra torcida e diretoria atleticanas?
O Furacao.com é um canhão que a gente tem que usar. Eu acho que tem que ser respeitado, é respeitado, e a gente tem que usá-lo da melhor forma. O Atlético não é de ninguém, é de todos nós. Todo mundo que ajuda e participa, que está lá vibrando, o site, os sócios, os jogadores, ex jogadores, a diretoria, todo mundo tem o mesmo valor porque cada um coloca um grãozinho nessa enorme areia, nessa praia que é o Atlético Paranaense. Não pode ter vaidade, tem que contratar, o Brasileiro é difícil, a torcida espera. Tem bons jogadores dando sopa, baratos, basta ter gente pra olhar. Não pode ter vaidade, empresário... coloca alguém simples pra procurar no interior de São Paulo. Tem muitos e eu digo isso porque estava lá. A torcida quer isso, mas não tragam jogadores que só jogam futebol. Tem que trazer jogador que extrapole, grite, vibre, participe. Não adianta, o Atlético não é o São Paulo, o Santos ou o Fluminense. O Atlético é o Atlético, é time de massa de vibração e alegria. O que os dirigentes, o que o Malucelli tem que fazer? Ter humildade para dar continuidade naquilo que é bom. Não precisa se preocupar muito com o patrimônio do Atlético, que é maravilhoso. Tem que arrumar um dinheiro e contratar bons jogadores para poder trazer alegria pra torcida, que é o maior patrimônio que o Clube tem.
Colaboração: Monique Silva
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