[foto: FURACAO.COM]
Marcos Augusto Malucelli é conselheiro do Atlético Paranaense desde 1973. Porém, só foi fazer parte da administração e do dia a dia atleticano em 2000, quando aceitou um convite do então presidente Ademir Adur para assumir a coordenação jurídica do clube. Terminado o mandato de Adur, Marcus Coelho se tornou o presidente do Atlético e o cargo de coordenador jurídico passou para João Augusto Fleury da Rocha. Em junho de 2001, Coelho telefonou ao Dr. Marcos Malucelli e perguntou se o seu escritório de advocacia assumiria as ações cíveis do Atlético.
Desde então, ele é o responsável por esta área no Atlético Paranaense. No início de setembro, Malucelli assumiu uma nova função no clube: a de vice-presidente de futebol. Na prática, é ele quem toma todas as decisões do departamento de futebol atleticano, sendo assessorado por Luiz Fernando Cordeiro.
Na semana passada, a Furacao.com fez uma entrevista especial e exclusiva com o diretor jurídico e vice-presidente de futebol do Atlético. Confira a seguir trechos da entrevista realizada no último dia 26 de setembro, no escritório do Dr. Marcos Malucelli, no centro de Curitiba. A entrevista exclusiva à Furacao.com foi gentilmente cedida aos colaboradores Gustavo Rolin, Juarez Villela Filho e Maurício do Vale.
JURÍDICO
O senhor ainda é responsável pelo departamento jurídico do Atlético?
Eu acumulo as funções, continuo sim, junto com o Rui
(Ferraz Paciornik), o Gil
(Justen Santana) e a Regina
(Tânia Bortoli). Eles cuidam dos trabalhos lá, e as ações do clube eu toco aqui do escritório desde 2001.
Tem uma idéia do número de processos nos quais o Atlético está envolvido? Na esfera trabalhista, por exemplo.
Quem faz essa área trabalhista é o escritório do Dr.
(Diogo) Braz, nós trabalhamos por aqui somente com a área cível. Mas sei que nosso passivo trabalhista não chega a R$ 1 milhão. Nem sempre uma dívida dessas é só no futebol, temos uma estrutura com mais de 200 funcionários, de repente alguém lá é cozinheiro, um servente, sai do clube e vem sindicato e tudo cobrando hora extra, coisas assim, tudo coisa pequenininha. Mas são coisas que não podem ser deixadas para trás, senão acontece como no Paraná
(Clube), conforme a gente vê aí nos jornais.
Apesar do senhor estar envolvido na área cível, o senhor acompanhou as questões que envolveram Aloísio, Marcos Aurélio, Jancarlos, Dagoberto?
Acompanhei esses casos como preposto do clube em todas essas ações. Acompanhei todas essa ações, os casos do Aloísio e do Marcos Aurélio foram arquivados, não existem mais ações cada um teve seu destino, foi para o clube que queria ir. A ação do Jancarlos teremos a sentença agora em novembro, será proferida a decisão, e a do Dagoberto já está no TST
(Tribunal Superior do Trabalho) o nosso recurso e o dele. Nós temos um recurso de revista e ele tem um agravo porque o recurso de revista dele foi negado o provimento e tem o depósito em juízo de R$ 5,4 milhões na época, que era o valor da multa rescisória se considerado o valor do contrato original. Se nós conseguirmos aquela prorrogação que havíamos pleiteado, que obtivemos vitória em primeira instância, essa multa deve passar para algo como R$ 15 milhões.
No caso do Dagoberto, as negociações foram mais difíceis com ele ou com os procuradores dele?
Com ele e com os agentes. Com todos eles foi muito ruim. O Dagoberto, na verdade, participou de umas duas ou três reuniões talvez, depois todas as outras reuniões eu só fiz com os procuradores, os agentes dele.
O senhor acha que este caso dele pode abrir um precedente benéfico de proteção aos clubes no Brasil?
Não mais. Porque nós demos sorte que quando ele assinou o contrato conosco estava em vigor um decreto que previa essa possibilidade de progressão. Esse Decreto veio a ser revogado, mas quando foi revogado ele já havia se contundido. Então difere, como por exemplo, o caso deste menino do Coritiba, o Keirrison, que eles não estão nem cogitando fazer prorrogação porque ele está fora do prazo que constava no Decreto, e nós tivemos a sorte de estarmos dentro deste prazo. Então nós tivemos um apoio legal quanto a isso. Foi reconhecido em primeira instância e não em segunda, então nós corremos e recorremos para recuperar isso para recebermos a multa contratual do período, que deve ir dos R$ 5,460 milhões para quase R$ 15 milhões.
E quem complementará esse depósito, essa diferença de quase R$ 10 milhões: o jogador ou o São Paulo?
A obrigação inicialmente é do atleta, porque em tese quem deposita a multa é o atleta, não o clube que o contrata. Previamente fizemos uma citação ao São Paulo, por escrito, dando ciência a eles que nós iríamos continuar a demanda e que se houvesse ganho de causa na fiança nós chamaríamos solidariamente o São Paulo na obrigação. Então eles estão justificados que iremos atrás deles e do Dagoberto depois.
Com relação ao Aloísio e Marcos Aurélio, o Atlético recebeu algum tipo de indenização?
Nenhuma. Nenhuma indenização nem no caso do Aloísio e no do Marcos Aurelio só recebemos de volta o que tínhamos depositado em juízo que era para pagar os direitos econômicos dele que eram do Bragantino, mas como perdemos a causa, apenas resgatamos esse dinheiro. É vida que segue...
E sobre o Jancarlos, é semelhante ao ocorrido com o Leandro Amaral (atleta do Vasco que negociou com o Fluminense mas teve que, por decisão judicial, voltar ao clube cruzmaltino)?
São casos diferentes. O Jancarlos nós simplesmente prorrogamos o contrato dele porque havia uma cláusula contratual que nos dava esse direito de prorrogar. Ele não aceitou, foi à Justiça e conseguiu a liberação, que nós prorrogamos unilateralmente, mas a convenção para esse prorrogação foi assinada. A do Leandro Amaral difere porque tinha um contrato com o Vasco que não foi reconhecido, teve qualquer coisa de assinatura que não batia, outras coisas que não têm nada conosco, mas aqui não teve absolutamente nada disso. Então é uma pendência que agora em novembro, não está marcado ainda o dia, para a leitura da sentença.
Na visão do Atlético, o que deveria ser modificado na Lei Pelé, protegendo mais os clubes, mas dando também ao profissional a oportunidade de escolher a melhor proposta e lugar para trabalhar, mas diminuir a interferência de terceiros no processo?
Olha, tem um Projeto de Lei que está no Congresso que está sendo agora objeto de discussões, encontros de colóquios e nós temos participado. Nós queremos mudar basicamente a questão da formação, da garantia. Não é mudar a Lei Pelé na parte que fala sobre a indenização ao clube, clube que detém os direitos federativos, acho até que o atual cálculo de multa está correto, mas acho que talvez tenha que mudar é a questão do deságio que se faz ano a ano, que começa com 10%, vai pra 20%, depois 40% e no último ano de contrato para 80% do preço da multa sobre o contrato. Isso agora deve mudar, se alterar. Mas a Lei Pelé no todo não é ruim, é boa. O problema é que nós temos que proteger os clubes na formação desses jogadores, naquela parte em que você investe no jogador. Tem clubes que investem bastante, como o Atlético, e ficam sujeitos ao menino chegar na idade do profissional e simplesmente ir embora e te deixa sem nada. Nesta parte da formação nós temos interesse sim que haja uma mudança. E há uma conversa, um projeto de regulamentar um período para que o jogador possa ir embora, um assunto discutível que fala sobre o direito de ir e vir, mas contamos inclusive com o apoio do Ministério dos Esportes.
Entretanto há uma parte nisso que até a Constituição fala sobre a liberdade do cidadão, na sua escolha de poder optar por onde quer trabalhar...
Mas veja, até o Governo mostra interesse que essa relação mude, através do Ministério do Esporte, para que a gente estabeleça uma idade mínima, porque hoje com 13 ou 14 anos os meninos já estão indo embora. Não pode trabalhar, tudo bem, levam os pais como se eles fossem trabalhar no exterior e o garoto é que vai jogar futebol!
Como aconteceu com o Messi (atleta argentino que joga desde a adolescência na Espanha), agora o Milan contratou um garoto mexicano de 9 anos de idade...
Então, é isso, um absurdo. Vejam, o menino perde toda a identidade, a identidade do seu país. Você vê aí os jogadores brasileiros que você nem sabia que estavam no exterior ou que ainda eram jogadores e não têm mais identidade nenhuma com o Brasil. Vejam tudo isso virou um mercado, a própria FIFA está preocupada com isso. Essa questão de naturalização é um mercado, a própria Seleção Brasileira sem identificação, agora há pouco jogou aqui no Engenhão, pouco público. Seleção Brasileira que não jogava aqui no Brasil há muito tempo e principalmente no eixo Rio-São Paulo e não tinha público no Engenhão, sem identidade, o que nos motiva a ver a Seleção Brasileira? Quem é o ídolo nosso, do povo brasileiro? Não tem!
E atletas que estão fora do Brasil há muito tempo?
Veja o nosso caso, recebemos direto currículo, vídeo de jogador brasileiro atuando fora e que quer voltar, o jogador já está há cinco anos na Europa e acha que tem que voltar. Mas vamos ver a idade e ele tem 21, 22 anos, ou seja, foi para lá com 16, 17 anos de idade! Porque quando você vê que jogou quatro, cinco anos na Europa você imagina que tem ali seus 27 ou 28 anos, mas a maioria tem pouco mais de 20 anos! Não dá, como é que vamos trazer só para encher prateleira? Nós já temos aqui uma quantidade suficiente, né? Então, trazer por trazer só para justificar “ah, estamos trazendo, vamos melhorar”, mas melhorar o que se mal conhecemos o jogador?
ADMINISTRATIVO
O senhor aprovou as novas cotas de TV que o Clube dos 13 acertou com a Rede Globo para os próximos anos?
Nós teremos um incremento mesmo de valores, mas só a partir do próximo ano, lógico. Hoje temos uma cota em torno de R$ 12 milhões, mas esse valor é bruto porque ele não se refere ao direito de imagens dos jogadores que está embutido, mas é descontado direto, tem a taxa de administração do Clube dos 13, então você recebe menos, o líquido fica algo em torno de R$ 10 milhões. Esta cota deve subir e nós devemos receber algo em torno de R$ 15 milhões a partir do ano que vem.
Isso responde a proporcionalmente quanto das receitas do Atlético Paranaense?
Se você considerar que nosso orçamento anual é mais ou menos R$ 40 milhões anuais, então se nós recebemos hoje do Clube dos 13 cerca de R$ 12 milhões são uns 30%. Os outros 70% a gente tem que ir buscar com patrocínios, com renda de associados, agora que tivemos uma resposta boa do nosso torcedor, veja que hoje temos praticamente 20 mil cadeiras vendidas, o que corresponde a mais ou menos 19 mil sócios, então se fizer uma média de R$ 40, pois tem os sócios que pagam R$ 50 e os de fora que pagam R$ 25, são R$ 800 mil por mês. Então são mais R$ 10 milhões, mais os R$ 12 milhões da TV são R$ 22 milhões. Estão faltando R$ 18 milhões ainda! De maneira que, se você não vender dois jogadores por ano, é vermelho, é déficit! Não tem clube brasileiro que sobreviva sem venda de jogadores, não tem.
Nem o São Paulo, o Cruzeiro, sempre tratados como clubes organizados e bem financeiramente?
Nem o São Paulo que, veja, agora pouco vendeu o Alex Silva. Ele não era do São Paulo, eles tinham lá um percentual, mas já ajuda para cobrir um possível déficit e sem isso não sobrevive. Se não vender jogador é déficit no final do ano.
Por isso o clube tenta encontrar fontes de rendas alternativas, como por exemplo cobrar pelas transmissões das rádios? Como está esta questão?
A questão é deve ou não deve pagar e esse debate é salutar e veio em boa hora. As próprias rádios admitem que deve cobrar. Nós estivemos na Associação dos Cronistas Esportivos de São Paulo e eles apoiaram a cobrança. Os outros clubes também querem isso. Eles ficam na retaguarda, nós demos a cara. Igual a questão de subir ingresso, setorizar o estádio. Essa questão das rádios ainda vai evoluir, eles obtiveram uma liminar, mas o mérito não foi julgado ainda. Nós vamos lutar nisso e vamos tentar cobrar.
O Atlético espera apoio de outros órgãos, como a Futpar ou o Clube dos 13, nessa questão?
A Futpar não tem tanta força assim, é muito local. E o Clube dos 13 é complicado porque tem um jogo de interesses, o comando também é discutível, queriam formar um G4, G5, então eu não sei se eles se disporiam a isso.
Gostaríamos que o senhor falasse um pouco sobre a importância da Timemania para os clubes, em especial, é claro, o caso do Atlético.
É muito boa para os clubes, há quem não tenha gostado, sempre escuto. Mas para os clubes foi bom. Nós, por exemplo, o Atlético tinha dívida dos anos 80, anos 70, nós limpamos tudo. Nós não temos hoje dívida com qualquer órgão público. Nós temos hoje uma obrigação de impostos mensal em torno de R$ 25 mil. A nossa dívida com esses impostos não passa de R$ 6 milhões. A Timemania dá para nós uma parcela de R$ 100 mil por mês. Isso faz bem para o clube, a própria Caixa já paga os impostos e a diferença quita essa dívida interna. Na nossa projeção em três anos e meio nossa dívida estará quitada e aí esse R$ 100 mil vem limpinho direto para o clube. Qual clube da Série A consegue pagar em três anos como nós? E para o Atlético fica interessante, porque a gente deixa de pagar R$ 25 mil que saía do caixa todo mês e temos uma perspectiva de mais para frente recebermos o dinheiro integral da Timemania.
Os planejamentos financeiros, administrativos do Atlético são feitos por etapas?
O Atlético, em 1995, fez um projeto de 10 anos. Reviu este projeto quando estava no quinto ano e agora fizemos um novo projeto com uma empresa de auditoria de planejamento até 2014. O Atlético trabalha com projeções bem para frente.
Com a situação financeira do clube, o senhor acha que o Atlético pode partir para vôos mais altos ou ainda não é o momento?
Uma coisa é um clube estar financeiramente bem, não devendo para ninguém. É o nosso caso. Outra situação é o clube estar financeiramente bem, com dinheiro em caixa. Não é o nosso caso. Nós não temos dívida, mas não temos dinheiro em caixa, pois tudo que tivemos de resultado foi aplicado em patrimônio. O que nós temos hoje é um patrimônio estimado em mais de 100 milhões de dólares. E com a vontade de não ter um centavo sequer de dívida. É um patrimônio limpo. É algo que talvez o atleticano nunca sonhou ter.
FUTEBOL
O Atlético tem priorizado contratar quantidade em detrimento à qualidade. Hoje o Atlético é o clube que tem mais atletas inscritos no BID e tem também uns "clubes-satélites" que acabam fazendo com que esses atletas joguem. Não seria o momento de repensar e enxugar o elenco, e com isto sobraria mais dinheiro para pagar melhores salários para melhores jogadores?
A idéia é essa mesma: diminuir a quantidade e melhorar a qualidade. Temos muito pouca produção. Eu acho que é o momento de repensarmos isso e eu estou fazendo isso lá. Isso não se limita ao futebol profissional; nós temos também o futebol amador. Por isso temos essa quantidade: são atletas de 16 anos para cima já profissionalizados. Eu acho que é muita gente! Mesmo em grupos separados: juvenil, juniores, profissionais, sub-23, grupo principal. E podemos dizer que são de qualidade duvidosa, pois se não fossem de qualidade duvidosa não estaríamos nessa situação.
Um dos problemas que parecem ter atrapalhado o trabalho dos treinadores anteriores do Atlético pode ter sido justamente esse excesso de atletas no elenco, com o comando não tendo nem chance de ver todos em ação. O senhor concorda que isso pode ter atrapalhado e deveria mudar?
Sim, há essa dificuldade. O treinador vai fazer um treinamento com 22
(jogadores) num grupo de 40, você vai fazer o que com os outros 18? Não dá! Vai fazer o que, treinar em separado os outros 18, fica complicado, quem é que vai acompanhar esses 18? O ideal é trabalhar com 30 jogadores, e agora estamos exatamente com 30 dos quais efetivamente sempre uns 28 porque sempre tem alguém no departamento médico por exemplo. O Geninho trabalha hoje com 30 jogadores e alguns deles também treinam no nosso time sub-23 como o Willian, o Eduardo Salles, o Choco, jogadores que estavam lá no profissional, mas que dificilmente teriam chances de jogar, então é melhor deixá-los jogando do que fiquem parados só treinando, para ali terem chance de jogar, ter ritmo e quem sabe até serem chamados para voltar ao grupo A novamente. Outros a gente fez voltar ao sub-23 porque tem juniores que vão direto para o profissional, ainda sem base forte, pulam etapas, então é melhor que tenham mais condições, pois chegam no profissional e não jogam. Isso gera inclusive uma decepção no atleta, é difícil lidar com isso.
Mais ou menos como o caso do Rogerinho?
Sim, um caso como o dele. Não se firmou no profissional, não ficou nos juniores, foi bem no sub-23 e acabamos de fazer um bom negócio com ele. Um caso também é do Alex Sandro, um menino com muito talento, mas que foi precipitadamente colocado pelo ex-treinador
(Roberto Fernandes) no profissional. Viu o garoto, gostou dele, colocou para treinar no profissional, mas ele não ia ter chance. Então, colocamos ele de volta nos juniores para se aprimorar, para continuar a jogar e ele vai ser sim um grande lateral. Mas nas circunstâncias que estamos não dá para queimar o menino, precisamos ganhar tudo agora e poderíamos queimar um bom jogador.
É como se um bom piloto de kart, um fenômeno fosse colocado direto na F-1, sem fazer todas as etapas entre elas...
Mais ou menos isso. Há casos como o Rhodolfo, não que seja um fenômeno, mas é um jogador muito bom, com qualidade, que já veio direto e que ninguém tem dúvida quanto a sua capacidade de ficar no profissional. O Chico é um que foi, passou por um período de adaptação, fez alguns jogos, depois não quis descer, ficou chateado mas depois ele viu que era para a melhor formação dele e hoje é um bom jogador dentro de campo.
Com relação aos critérios de contratação, o Atlético sempre teve as parcerias, seja com o Uniclinic, fizemos um esforço e trouxemos o Wallyson do ABC, por exemplo. Um jogador que se destacou no Campeonato Paulista deste ano, o meia Renato, era da Ferroviária, uma equipe que mantém essas parcerias com o Atlético, por que então não conseguimos trazer ele para cá (está atualmente na Ponte Preta)?
O Atlético se interessou sim por ele. Mas não é tão simples como vendo de fora parece. Ele não é da Ferroviária. O problema é que hoje jogador é tudo fatiado. Você começa a conversar com o clube e daí descobre que o passe dele é de meia dúzia de pessoas físicas, jurídicas, clube de futebol ou não. Aí você tem que negociar com cada um deles, por vezes interesses conflitantes. E o Renato nós tentamos, fomos conversar, mas não deu porque cada um já tem um interesse, já tem um clube para mandar, cada um já tem um empresário que é amigo, hoje está difícil isso, nós temos que cuidar aqui, dos nossos, da nossa base, dos jogadores formados e que pertençam ao Atlético, que a gente saiba que são nossos mesmo.
E essas outras parceiras como o Atlético já fez com o Sport, Náutico, Fortaleza, ajudando esses clubes a subirem de divisão ou serem campeões, o que trazem de beneficio para o clube?
Na verdade não há parceria com esses clubes. O Atlético faz um negócio como qualquer outro, empresta atletas que eles tenham interesse e pronto. Mas como a maioria desses clubes não tem como nos pagar depois este empréstimo acaba nos dando a escolha de trazer algum jogador deles, algum destaque ainda novo como forma de pagamento. Nós revertíamos esse empréstimo na garantia de ir lá e poder escolher um jogador deles, como agora temos no final do ano a escolha de um jogador do Fortaleza, que tem nossos lá o Erandir e o Simão. Então, na verdade, não é uma parceria, se eles tivessem dinheiro eles teriam pago, como não têm, fazemos esse tipo de negociação.
Particularmente o senhor é a favor de parcerias do clube?
Não acho que seja uma coisa que dê muito certo, não. Principalmente parcerias de muito longe como nós tínhamos com o Uniclinic, de lá trouxemos o Rogerinho e mais 12 atletas jovens e desses temos hoje somente cinco aí, tudo no juvenil, juniores e que nós ainda estamos avaliando. Ou seja, desses é capaz de a gente ficar com um ou dois. Ou seja, depois de quase cinco anos, não sei se vale a pena. Veja, depois desse tempo tiramos o Rogerinho, que não é mais nosso, acabou de ser vendido e mais dois, será que vale a pena? Será que não vale mais a pena investir aqui, nos garotos que vem por conta própria daqui mesmo? Acho melhor nós investirmos em nós e não nos outros.
Desse elenco inchado, muitos jogadores já estão há bastante tempo no elenco e constantemente os noticiários dão conta de uma possível venda de jogadores até contestados pela torcida como Alan Bahia (provável ida para o Colônia, da Alemanha) ou o Danilo (suposto interesse da Fiorentina). O clube pretende negociá-los ao final do ano, até que ponto isso é verdade?
Não há verdade nenhuma nisso. Não tem proposta nenhuma pelo Alan Bahia e se tiver o Alan sairá, porque não temos o interesse de segurar ninguém em primeiro lugar. Em segundo lugar precisamos vender, como já disse antes, para dar equilíbrio ao nosso caixa, o futebol é deficitário e a gente tem que vender. E em terceiro lugar, nós não vamos segurar ninguém, nós temos que vender, e o Alan Bahia está com a gente já há sete ou oito anos, seria um prêmio para ele e uma boa para o clube.
E outros casos que foram falados na imprensa como da ida do Danilo...
Não tem proposta nenhuma, o pessoal se ilude muito com especulação, se tivesse na janela européia a gente teria negociado até porque ele tem inclusive passaporte comunitário. Não tem proposta e isso é ruim porque chega no ouvido do jogador, a gente não negocia porque na verdade não tem proposta, ele pensa que a gente não quer que ele vá e o jogador fica bravo com a gente! É só especulação, é muita gente especulando, muito empresário, muito atravessador, muito procurador....
Numa venda como a do Rogerinho, qual a porcentagem que coube ao Atlético?
No caso dele foi 75% para o Atlético e 25% para o Uniclinic. Como, aliás, todos os jogadores que vem do Uniclinic são com esses percentuais.
E as demais parcerias?
No caso do PSCT é 60% a 40%. Temos também jogadores em parceria com o Porto
(Caruaru-PE) que é 75% a 25% também. Assim como é essa a porcentagem com o CAPA, o time que é responsável pelo nosso infantil. Mas é difícil negociar assim, mudamos há pouco com o PSTC que era 50% a 50%, mudamos para 60% a 40%, mas eles ainda são os que nos dão o melhor resultado. Agora mesmo trouxemos seis jogadores de lá, todos com bastante capacidade e já estão muito bem nos nossos juvenis e juniores.
A torcida acha que o Atlético passa por uma “crise de revelação de talentos”, após a geração Jadson, Fernandinho, que fizeram sucesso e foram bem vendidos para o exterior, tivemos o goleiro Guilherme, que foi negociado bastante cedo, tivemos o zagueiro Rhodolfo e mais ninguém. O que o senhor acha disso?
Não, temos aí o Chico, temos aí o Pimba. Já o viram jogar? O Choco, o Douglas Maia. Houve aí um intervalo, mas teremos já no ano que vem um time todo feito na nossa base.
A vinda do Geninho foi algo mais emergencial, para nos tirar do sufoco, mas o Atlético já pensa alguma coisa para 2009, contratações, comissão técnica?
Pensado sim, mas colocado em prática não. Estamos num momento que temos que nos dedicar exclusivamente da situação que nos encontramos, não podemos desviar o foco em nada. Desde o momento que assumi o Departamento de Futebol é somente esse nosso pensamento, cheguei lá e eram 14 jogos que faltavam e é nesses 14 jogos que a gente pensa o tempo todo.
E sobre a contratação do Geninho?
A contratação do Geninho foi da noite para o dia. Nós perdemos para o Goiás
(4 x 0 no Serra Dourada, ainda sob o comando de Mário Sérgio) e na mesma noite o Mário
(Celso Petraglia) e o Fleury me convidaram, insistiram para eu assumir o Departamento de Futebol porque estavam desgastados, não iriam mais estar nisso, muita pressão e resultados que não vinham. Eu aceitei à noite, fiz contato com o Geninho, na quinta-feira eu já estava em São Paulo, nos reunimos no aeroporto, nem saímos do aeroporto, conversamos ali a tarde toda, discutimos ali no local, num restaurante, e às 19h eu tinha fechado com ele e voltei para Curitiba. Então foi tudo emergencial, tudo rápido, não podemos hoje desfocar do nosso objetivo. Temos que pensar no nosso futuro também, temos, mas não podemos é ficar pensando no ano que vem se ainda temos esses
(então) 12 jogos pela frente este ano. Mas existe sim a vontade de com a gente folgando um pouco na tabela este ano já ir conversando com o Geninho sobre o futuro do time, pensando no ano que vem. Ele está contratado por 90 dias, termina o campeonato termina o contrato dele, precisaremos sentar e conversar conforme o que acontecer até dezembro.
Alguma idéia já?
Sem essa quantidade! Até agora só o treinador foi contratado e ele só pediu quem estava aqui já, o Gustavo, até pelo fato de ele ser um líder, porque nós não temos essa figura de uma liderança dentro do elenco. Eu senti: os jogadores não falam, ninguém assume uma liderança e o Gustavo é de uma geração vencedora, foi campeão aqui e a torcida gosta dele. Do grupo campeão de 2001 ele é o único que está aí, tem o Rodriguinho que entrou alguns jogos aquele ano, mas foi pouco, então a gente precisava de um cara como o Gustavo no elenco para ajudar a gente.
E sobre novas contratações?
Ofertas, vocês não imaginam quantas! Mas daí a gente cairia no mesmo erro que comentamos antes, trazer por trazer, só encher a prateleira, quantidade e não qualidade. Então, trazer por trazer, a gente tem 50 aí dentro já. Então a gente resolveu só trazer o Gustavo.
Sobre esse lapso que o senhor falou anteriormente, uma época em que não conseguimos revelar bem, há uma comparação direta com o Coritiba, que revelou nos últimos tempos alguns bons jogadores como Henrique, Pedro Ken, Keirrisson, esticando mais um pouco o Rafinha, Miranda, Adriano. Por que o Atlético não consegue, mesmo com mais estrutura, revelar tão bem?
Bem, o Miranda já faz tempo
(foi negociado em 2005 pelo Coritiba, mesmo ano que o Atlético vendeu Fernandinho, por exemplo), isso é coisa de quatro ou cinco anos já. O Pedro Ken ninguém sabe o que vai ser, jogou aí uma segunda divisão, um Estadual, mas ninguém sabe como vai jogar contra adversários de qualidade, ainda não disputou uma Série A. Uma coisa é se destacar na Série B, outra diferente é jogar bem na Série A. Então não é tanto assim, é mais mídia. E o retorno para eles pouco deu, mesmo assim. Porque se o retorno fosse bom mesmo eles não estariam aí com dívidas como a gente vê direto sendo noticiado, dívidas que nós não temos. Então, na verdade, sem tirar o mérito dos jogadores deles, eles não tiveram tanto disso, se você pegar esse período e comparar você vai ver que eles revelaram alguns jogadores, mas que nós também revelamos alguns bons jogadores, alguns que foram embora como você lembraram do Guilherme, antes mesmo de fazer 30 partidas pelo clube, uma venda que precisávamos fazer pois perdemos uma ação que se arrastava desde 1983, que quem tocava era o escritório do Dr. Justen, uma ação que chegou a R$ 3 milhões, então esse é um jogador que acabamos tendo que vender prematuramente. Tem alguns jogadores, mesmo novos que a gente negociou mais para trás, houve sim uns dois anos que não vendemos assim, mas vendemos alguns e também temos um bom valor de venda de jogadores.
O mercado para venda mudou muito?
Hoje o mercado é outro! Não existe mais de vender um jogador como nós vendemos o Lucas, por US$ 20 milhões, você não vende mais assim, só um fora de série, um Robinho assim. Mas aí é um jogador que joga no Santos, ou o Gago que estava no Boca, mas de um time como o nosso assim não se vende mais, não. Olha o caso do próprio Henrique, saiu daqui por um valor uns R$ 6 milhões que já não é grande coisa, jogou somente uns meses no Palmeiras, valorizou e saiu de lá por 8 milhões de euros.
Qual seu maior ídolo na história do Atlético?
Meu maior ídolo é o Sicupira.
CENTRO DE TREINAMENTOS
O senhor acha que os resultados práticos do CT do Caju poderiam ser melhores?
Não tenho dúvida! Poderiam, pela estrutura que tem lá, ele foi feito para produzir mais, por isso que estou dizendo para vocês que temos que cuidar mais do que nós temos aqui do que o que vem de fora.
A vinda do Moraci Sant´Anna é um indicativo de que o Atlético queria mudanças nesse sentido?
O Moraci não está na área técnica e nem envolvido com problemas no CT. Ele veio por causa do nosso problema físico, um problema sério, é só ver que o nosso time com 10 ou 15 minutos do segundo tempo o adversário passava por cima de nós. Isso mesmo dentro de casa, fora já passavam antes! Nós tivemos um problema sério de preparação física. Mas ele coordena somente o profissional do Atlético, até porque não tem como agora ele tentar supervisionar os outros setores. Nós tínhamos quase 50 jogadores no elenco principal, estamos com 30, a grande maioria com algum tipo de problema físico, alguns com alto percentual de gordura, tudo isso ele tem que trabalhar, além de ter ficado uns 15 ou 20 dias só trabalhando com aqueles que estavam no Departamento Médico para apressar o retorno deles a campo, e todos estão em condições.
É o caso do Wallyson?
O Wallyson está à disposição, está jogando no sub-23. É um jogador que “perdemos” o ano inteiro com ele. É a contratação mais próxima daquela época do Adriano Gabiru, mas veja que mesmo com ele a gente demorou para colocá-lo em campo. O Wallyson veio com má formação, problema no púbis, estava lá jogando na série C
(foi artilheiro e ajudou o ABC de Natal a subir para a Série B este ano), era artilheiro, ídolo, mas chega aqui é tudo diferente, é outro nível. Neste ano que ele está aqui conosco ele encorpou 7 kg de massa, são 7 kg de músculos. Vejam como era a deficiência física desse jogador. Isso que o CT tem que preparar bem, dar essa formação, pegar um jogador desse, suprir essa deficiência e deixar em condições. O Wallyson voltará para o ano que vem um outro jogador.
O Atlético não teria interesse em emprestá-lo novamente ?
Até dia 18
(de setembro), véspera do encerramento das inscrições, o pessoal do ABC pedia para liberar, liberar ele, pegar ritmo de jogo, mas daí eles fazem como faziam, infiltra, joga, não joga, nos devolvem o garoto com problemas para gente gastar mais seis meses para recuperar? Não dá, né! Nós temos que preservar o nosso patrimônio. Esse é um jogador que tem muito crescimento ainda, tem só 19 anos.
Com a saída do cientista Antonio Carlos Gomes, o professor Cordeiro é que está no seu lugar? É algo emergencial, até o final do ano, ou há um projeto sobre essa parte do CT?
Não é bem assim que estão as coisas. Com a saída do professor Antonio Carlos quem assumiu não foi o Cordeiro, quem assumiu foi o mesmo que trabalhava na área, o Oscar
(Erichsen). O Cordeiro continua na área de coordenadoria dele e me auxilia no Departamento de Futebol. Como eu não tenho condições de todo ir todo dia ao CT e tampouco passar o dia todo no CT, então ele vai atendendo e transmitindo via telefone, via rádio, por e-mail aquilo que precisa ser providenciado na hora e depois no final do dia que eu passo lá, aí nós discutimos alguns assuntos pendentes, aí ele me passa o que foi feito, mas sem abandonar as coordenadorias que ainda são responsabilidade dele.
Como ele tem lá três garotos que auxiliam ele, eles estão trabalhando mais para que o Cordeiro me auxilie no departamento de futebol profissional.
O senhor tem mais contato com a comissão técnica, diretamente no departamento de futebol? Por que essa sempre é uma crítica na maneira como o Atlético levou esse setor dentro do clube...
Antes quem fazia esse trabalho era o
(Alberto) Maculan. Então, ele que era o diretor de futebol. Talvez ele fosse visto como não sendo da administração, por isso ficou essa imagem de direção de um lado, comissão técnica de outro, mas não, era o Maculan quem fazia isso. Agora eu porque talvez tenha uma ligação mais direta com a administração pareça que é uma coisa mais direta, mas não é, estou nessa direção de futebol. Ao presidente do Conselho
(Deliberativo), Mário Celso Petraglia, ou ao presidente do Conselho de Administração, o Fleury, não cabe, não são eles que vão tratar do futebol, como já não era antes, embora tivessem influência. Mas quem tratava era o Maculan.
O senhor sente um clima diferente hoje no Atlético?
Sem dúvida, com a chegada do Geninho melhorou muito! Melhorou, ele viu as necessidades do plantel, tem agora uma quantidade certa de jogadores, os próprios jogadores assumiram a condição de que eles que vão levar esse time até o final, sabem quem está no profissional, quem não está, sabem que é com eles que nós vamos contar, explicamos que não iríamos trazer absolutamente ninguém, somente se chegasse um centroavante desses que chega hoje, treina e joga amanhã.
Mas mesmo se fosse caro?
Mesmo se fosse, valeria o esforço , mas não tem! Trazer por trazer não adianta, nós já trouxemos tantas nessas condições. Não tem! Um caso como o D´Alessandro, do Internacional, veio por R$ 7 milhões, quem o trouxe foi o investidor, o Grupo Sonda, fica com os direitos econômicos, passa, fica com direito de participação de jogadores depois, isso nós não queremos! Podemos ter uma parceria, mas ceder jogadores nossos não. Não temos nenhum jogador que foi vendido e que possam falar que o Atlético não ficou com nada, ficou com 10%. Negativo! Temos no máximo dividido jogadores meio a meio com parceiros. Normalmente é esse percentual que eu falei antes ali, 75% dos direitos.
Mas o senhor não acha que o retorno para o clube não deve se ater somente ao aspecto financeiro, mas o retorno do jogador em campo também?
Também, retorno em campo também. Tem que dar o retorno financeiro porque hoje não adianta se iludir, essa época do romantismo já foi embora do futebol. Jogador nenhum joga por amor à camisa, época de Sicupira, Nilson Borges acabou. Hoje ele está jogando aqui porque você paga mais do que ele estaria ganhando ali. Porque senão ele vai para ali.
Como no caso do Robinho, que saiu naquele que talvez seja o maior clube de futebol do mundo para jogar num time de subúrbio na Inglaterra só pelo dinheiro?
Sim, e veja, lembrem o que ele fez para sair do Santos aquela época. Então, veja, você tem que ter o retorno dentro de campo, mas tem que ter o financeiro também.
O senhor não acha que o Atlético tem dado mais valor ao retorno fora do que dentro de campo nos seus jogadores? Um exemplo é o zagueiro Paulo André, um ótimo jogador, ainda novo, bem no time e que foi vendido logo sem nem sequer ter ganho nada com a camisa atleticana. Não valeria tê-lo convencido, inclusive financeiramente, a ficar mais um pouco no clube?
Foi uma boa venda, mas eu queria ver algum de vocês quando tivesse o jogador na frente com uma proposta que fosse intermediar para nós e convencer ele a continuar no clube. Surge uma proposta aí para o Danilo, a proposta que for, vá pedir para ele ficar. Vá pedir para ele e para o procurador esperar algo melhor, pedir pra ele ficar. Não fica. O exemplo que você citou, o Paulo André. Vai pedir para ele ficar, a proposta chega e o procurador já chega junto e aí ficam pressionando, pressionando, você não tem como segurar. Se você segura, o sujeito vem, deposita em juízo e vai embora, do mesmo jeito. Tem ene casos, nós tivemos o Dagoberto que brigou ainda com contrato, mas o São Paulo mesmo tentou segurar o Grafite, o que ele fez? Depositou em juízo e foi para um time aí, nem sei onde está. Não adianta, hoje isso é bobeira. Se tem proposta, não for especulação, o procurador já chega junto e negociam mesmo. Nós não conseguimos segurar o Claiton. Mas não era o Claiton o ídolo, se identificava com a torcida, amava o Atlético? Ficou? Não ficou, recebeu uma proposta e ele era o único jogador que tinha no contrato que se surgisse uma proposta do exterior, vantajosa, a gente liberaria. Não costumamos fazer isso, mas este foi um caso especial. Lembrem que ele chegou aqui e não foi essas coisas, ele estreou e a gente perdeu lá pro América de Natal. Hoje não adianta, não segura mesmo, não dá para se iludir. Uma coisa é ver de fora, ouvindo criticando e não ter idéia, outra coisa e lá dentro. Ou você acha que a gente ia cometer a bobagem de vender o Paulo André por US$ 3 milhões sabendo que dali a pouco ele pode valer US$ 6 milhões? Não, mas não tem como segurar, não dá tempo, tem que fazer a venda da melhor maneira. O próprio jogador não quer mais, complica, hoje todo jogador está jogando em um clube pensando para onde ela vai ganhar mais dinheiro.
Acontece em todos os clubes ou ainda há exceções no Brasil?
Veja, os únicos dois que todo mundo lembra são o Rogério Ceni e o Marcos
(goleiros do São Paulo e Palmeiras, respectivamente). Mas mesmo eles queriam sair, o Rogério teve até um problema quanto a uma suposta proposta e o Marcos só não saiu porque se machucou depois da Copa, senão teria ido. Então veja, mesmo naqueles que a gente cita como exceção fazem parte da regra. Vejam aí que nem é o fato de ser goleiro, o Renan jogou a Olimpíada e já foi negociado, o Rubinho está jogando na Série A da Itália.
ELEIÇÕES
Quais as perspectivas nas eleições de dezembro, o senhor acha que o resultado dentro de campo terá uma relação direta com as eleições do novo conselho administrativo?
Não, diretamente não. Não se pode avaliar uma administração como a do Mário Celso
(Petraglia) por um resultado de um campeonato em 13, 14 anos que disputamos. É claro que isso vai influenciar, evidente, tudo influencia no momento porque pouca gente quer saber da história, mas no dia, mas não diretamente, não vai ser essa a causa que vai fazer o Mário Celso ficar ou sair, de ganhar ou de perder uma eleição. Agora, que tem influência, é claro que tem uma influência. Um resultado tem influência na tua vida pessoal no dia seguinte a um jogo, veja, se o Atlético perde domingo você na segunda está chateado, está triste, então ganhou está tudo ótimo, não ganhou....
E sobre uma possível chapa de oposição?
Pelo jeito vai ter oposição e é bom que tenha, um clube de futebol, qualquer direção que não tenha oposição, é ruim. Torna-se uma coisa viciada e um clube como o Atlético tem que ter oposição. Vejam que temos cerca de 19 mil sócios, mas não sei quantos terão condições de votar em dezembro.
(Existe a estimativa de que cerca de quatro mil sócios estejam em condições de votar no pleito de dezembro próximo, mas este número não é oficial). Mas vejam se tivermos cinco mil sócios para votar e 30% comparecerem, são 1.500 sócios votantes, algo que o Atlético talvez nunca tenha tido na sua história. Já participei de mesa eleitoral no Atlético onde tinham 200 pessoas para votar. Nesse ponto nós já inovamos.
De toda forma o senhor acha positivo então?
Claro! É sempre bom ter outras e novas idéias.
O senhor continua com a mesma chapa?
Se o Mário Celso
(Petraglia) for candidato eu voto nele. Não sei nem quem seria da oposição, eu voto nele. Eu acho o Mário Celso ainda indispensável na condução administrativa da vida do clube. Colocaria alguém no Departamento de Futebol, mas a administração do clube, a parte institucional, relacionamento com Clube dos 13, relacionamento com os órgãos governamentais com vistas à vinda da Copa do Mundo, eu não abriria mão do trabalho do Mário Celso no Atlético. Nós não temos no Atlético uma pessoa para isso, com essa visão, com essa entrada política. Mas no futebol, colocaria outra pessoa.
Permanecendo o mesmo grupo, o senhor continuaria no Departamento de Futebol?
Não gostaria. Eu estou ali agora porque foi emergencial, ajudando, porque vi que a situação estava grave e o Mário
(Celso Petraglia) e o Fleury me pediram muito, estavam realmente no limite do estresse deles, e eu assumi, mas gostaria de colocar alguém lá para se dedicar integralmente.
Um diretor remunerado?
Sim, um diretor de futebol remunerado, coisa que eu não sou, não sou remunerado nem para ser diretor de futebol e nem para ser coordenador jurídico, não tem remuneração nenhuma. O meu escritório que presta serviços para o Atlético sim, mas isso desde 2001. Desde a época do Marcus Coelho. Acho que deve sim ser remunerado, mas jamais começaria essa prática pelo meu mandato. Assim como era o Maculan, acho que deve se dedicar integralmente, mas como eu posso me dedicar integralmente se o que me sustenta é meu escritório? Daí eu vou ficar o dia inteiro no CT e quem vai cuidar do meu escritório? E precisa sim de um diretor 24 horas. Precisa sim, não é só o CT, nem só o futebol profissional, eu acho até que tem que dividir um diretor para o futebol profissional e outro para o amador. Cada categoria dessas do Atlético tem uma comissão técnica, é treinador, preparador, tudo, é muita gente, é muita coisa só para um diretor tomar conta. É um problema aqui, uma viagem aqui, um acerto ali, dinheiro ali, vocês não imaginam o que é, muita coisa, coisinhas, desde os juniores, empresários reclamando, vendo se tem proposta, é muita coisa.
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