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Entrevista | quinta-feira, 01 de agosto de 2002, 20h22

Valdir Espinosa abre o jogo

Por: Furacao.com

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Completando 25 anos de carreira, Espinosa trabalhará no Atlético pela primeira vez

Buscando trazer as mais completas informações ao torcedor atleticano, a Furacao.com fez questão de ouvir a palavra do técnico Valdir Espinosa, que assumiu o comando do rubro-negro na última semana. Depois de entrevistar o auxiliar Rivelino Serpa e o preparador físico Solivan Dalla Valle, o site conversou com Espinosa, que comandará a comissão técnica atleticana no Campeonato Brasileiro. O novo treinador falou sobre seu método de trabalho e demonstrou grande sintonia em relação às novidades do futebol mundial. Discorreu sobre tática, sobre o lado psicológico da preparação de uma equipe e falou que o Atlético precisará de reforços caso perca algum jogador importante. Por fim, Espinosa esclareceu que seu nome deve ser grafado "Valdir" e não "Valdyr". Há alguns anos, uma numeróloga aconselhou-o a adotar a grafia com y, mas ele retomou o nome de batismo. "É momento", brincou ele. Confira a entrevista:

Antes de acertar com o Atlético, você teve propostas do Flamengo e de um clube turco. Por que razões as negociações não deram certo?
Eu tive um contato com o Flamengo, mas não houve acerto financeiro devido ao momento que vive o Flamengo. A Turquia também. Houve uma sondagem, mas a coisa não foi totalmente definida. Mas aí surgiu a proposta do Atlético, campeão brasileiro e dono de estrutura de primeiro mundo. A gente conhece os jogadores devido às suas qualidades. É um desafio bom de se enfrentar.

Você está próximo de completar 25 anos de carreira como técnico. Em que essa experiência pode ajudar ao Atlético, um clube de torcida muito exigente e que ganhou o principal título de sua história no ano passado?
É, eu completo 25 anos de carreira nessa temporada. Eu acho que a experiência é importante, mas não adianta ela ser usada individualment. Ela é importante se for usada dentro de um trabalho coletivo. Eu sempre digo que o que leva a vencer é a estrutura, o acerto de idéias, o trabalho, enfim, vários fatores que, somados, levam à vitória. Então, eu trago essa experiência de 25 anos, com um grande aprendizado durante dentro desse período, para me juntar a todos aqueles outros que trabalham juntos para tentarmos um bicampeonato.

Além da estrutura física, com o CT e o estádio mais modernos do país, o Atlético vem desenvolvendo um trabalho pioneiro no Brasil, que é o da aplicação da ciência ao futebol. Apesar de ser um técnico experiente, você está disposto a encarar esse tipo de experiência?
Eu tenho experiência, mas procurei não parar no tempo. Eu acho que o importante é você aprender e o dia-a-dia nos leva a aumentar nosso conhecimento. Então, esse trabalho do Atlético foi um das outras coisas que me chamou atenção. Tal qual a estrutura física, o Atlético apresenta também uma organização. Algumas idéias inovadoras a gente traz, outras a gente viu aqui e continuamos a aplicá-las. Acho que é importante, cada vez que você encontra pessoas de capacidade, levar e assimilar idéias. Não se deve apenas levar suas idéias e não aceitar outras propostas. Acho que você deve aceitar aquelas que façam com que você cresça ainda mais. O importante, ao juntar essas idéias, é o crescimento do Atlético.

Apesar disso, você aboliu o sistema de técnicos para cada área do campo. Quais os motivos dessa atitude?
O futebol brasileiro ainda não está preparado para isso. É exatamente o que conversávamos. Cada um traz suas idéias e busca-se chegar a um consenso. Muitas vezes é importante que as idéias sejam colocadas em prática para que você veja se elas podem ser implantadas novamente ou se tem que se dar um tempinho de novo, fazer alguns ajustes e melhorá-las. O futebol brasileiro hoje não está preparado para esse tipo de situação, mas isso não significa dizer que aqueles que estavam lá trabalhando, nos casos específicos do Vinícius e do Nilson, vão ser deixados de lado. Eles vão trabalhar junto conosco, mas mediante um ajuste que a gente fez.

Você mencionou o Vinícius Eutrópio e o Nílson Borges, auxiliares-técnicos do Atlético. Além deles, também está trabalhando no clube o Rivelino Serpa, seu filho. Quais serão exatamente as funções deles?
No dia-a-dia, nós dividimos as tarefas. Durante essa semana, eu e o Nilson cuidamos de um tipo de trabalho e o Rivelino e Vinícius dando atenção a outro tipo de treinamento. Agora, para o jogo, aí tem as observações dos adversários, que serão feitas pelo Vinícius e pelo Nilson e no dia do jogo propriamente dito, através da comunicação por rádio, o trabalho será direto entre mim e o Rivelino. A partir daí é que se diz que eu posso ter a condição de acompanhar a bola e ele acompanhar o lance indireto do jogo, me dando uma visão ampla da partida.

Em 99, você adotou o sistema de trabalhar com o rádio durante os jogos. Você mantém esse método de trabalho no Atlético?
Continuamos com esse sistema. Eu acho que ele é importante para o desenvolvimento de jogo, para que você tenha uma visão melhor de campo. Eu acho que no futebol você deve buscar situações diferentes e criar soluções, até para que não haja uma acomodação. Nada pode ser melhorado se nós formos parar no tempo. E, parando no tempo, fatalmente a qualidade diminui.

Houve alguma inovação tática na Copa do Mundo 2002?
Eu acho que nós tivemos variações táticas. Grande parte das seleções jogou com um atacante só. Nós tivemos seleções jogando com três zagueiros, mas acho que o que se deve analisar não é o sistema tático em si: 4-4-2, 3-5-2...Eu acho que são as variações é que são importantes no desenvolvimento de um jogo. O Brasil foi o que melhor trabalhou as variações. Nós começamos com três zagueiros, depois tivemos o Edmilson mais adiantado, o Rivaldo e o Ronaldinho partindo do meio e um atacante só, o Ronaldo. Essas variações é que foram muito importantes. Nós tivemos, teoricamente, Edmilson, Gilberto e Kleberson, que seriam, se olhássemos sem uma análise mais profunda, três homens de defesa, mas pela movimentação se viu o Kleberson participando de jogadas de ataque.

Nesse sentido, o Atlético possui um elenco capacitado para realizar essas variações táticas?
Acho que o Atlético tem qualidades. Você tem, por exemplo, um Cocito, a manutenção de um Kleberson, um Adriano, jogadores que estão subindo agora, como o Rodriguinho. Enfim, você tem jogadores de muita qualidade e pode variar esses quatro em determinado momento. O Kleberson e o Adriano são jogadores que têm força de ataque e podem ocupar um espaço no sistema defensivo. Avaliando essas situações nos treinamentos, você pode fazer as variações nos jogos e é importante que se faça.

A diretoria ainda não confirmou as permanências de Kleberson, Adriano, Cocito e Gustavo. Você acha que se eles não ficarem, o Atlético precisará de reforços?
O importante é você ter as peças e no futebol há a necessidade de reposição. O Atlético foi campeão brasileiro e passa a ter uma responsabilidade da manutenção desse título. Se antes era uma novidade ganhar um Campeonato Brasileiro, hoje é uma afirmação da grandeza do Atlético. Ou seja, se você perder peças importantes, você tem de buscar reforço.

Como você analisa a derrota do São Caetano na final da Libertadores, mesmo tendo ampla vantagem para ser campeão?
Para fazer uma análise profunda, você tem de viver o dia-a-dia. Da análise que você faz de fora, eu acho que a equipe do Olimpia foi mais competitiva, teve mais presença dentro de campo e anulou as jogadas de meio-campo do São Caetano. Ou seja, não deixou o São Caetano sair jogando. Esse foi o aspecto tático. No aspecto psicológico, o presidente do Olimpia deu uma carta excepcional e eu o conheço porque trabalhei muitos anos no Paraguai. Ele deu uma cartada espetacular porque tenho certeza que na chegada dos jogadores, tenho certeza que o primeiro a recebê-los no desembarque, abrançando-os, foi ele. Isso mexeu com os jogadores e pegou fogo durante o jogo. Quando o São Caetano fez 1 a 0, ele acreditou um pouco que poderia conquistar o título. No momento em que sofreu o empate e levou o 2 a 1, aí o filme do passado voltou: a perda de dois títulos brasileiros. Nas penalidades, aí sim, acho que o time já entrou derrotado. Então, há vários aspectos que levam você a perder.

No ano passado, o Atlético trabalhou com a psicóloga Suzy Fleury. Você pretende indicar algum profissional para trabalhar nessa área de motivação?
Eu tive a oportunidade de abrir as portas para a Suzy Fleury quando ainda estava no Corinthians. Depois, trabalhei com ela em várias equipes e tenho uma amizade muito grande com ela. Mas por enquanto não vamos trazer ninguém. É uma área que vamos deixar em aberto para uma análise mais profunda.

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