Cavalcante analisou a passagem de Fernandes pelo Náutico [foto: GLOBOESPORTE.COM]
Roberto Fernandes pode ser considerado um fenômeno do futebol brasileiro. Ele é um dos poucos (ou seria o único?) que saiu da arquibancada - sempre foi torcedor apaixonado pelo Náutico - para assumir o comando técnico de uma equipe. Nunca foi jogador profissional. Mas o seu espÃrito de lÃder o fez ganhar respeito nos clubes por onde passou. Acompanhei de longe o seu trabalho em alguns clubes do interior de São Paulo e, principalmente, no Brasiliense, onde foi campeão estadual. Então, não me surpreendi quando ele foi anunciado como técnico do Náutico no ano passado. Roberto Fernandes é jovem, está atualizado com o que acontece no futebol brasileiro e mundial e, podem ficar certos, torcedores do Furacão, gosta de trabalhar. Ele não sossega em dias de folga. No Náutico, porém, ele encontrou algumas dificuldades no inÃcio de trabalho. Primeiro, foi o de separar o profissional do torcedor. Em certos momentos, Fernandes deixou claro que não esqueceu a sua paixão clubÃstica. Mostrava, facilmente, irritação quando ouvia crÃticas sobre a escalação do time alvirrubro.
E sobre escalação do time... Ah, amigos rubro-negros, Roberto Fernandes pode quebrar a cuca de vocês. No Náutico, o treinador perdeu alguns jogos porque fez algumas invenções que ninguém, até hoje, conseguiu compreender. No clássico contra o rival Sport, nos Aflitos, pelo Estadual, Fernandes tirou o meia Mercelinho, o melhor do time até então, e escalou o volante Paulo Almeida. Na lateral-esquerda, escalou Alessandro, que estava afastado do elenco por conta de uma contusão. Como o time não jogou bola, ele mudou no segundo tempo: tirou Alessandro e colocou o meia Laborde. Jogou o zagueiro Everaldo na lateral-esquerda e deslocou Paulo Almeida na zaga. Ou seja, virou um samba do crioulo doido e o Náutico não venceu. O pior, no entanto, é que Roberto Fernandes não aceitou as crÃticas da imprensa. Questionado sobre essa formação, que teria deixado o meia Geraldo sobrecarregado para criar as jogadas, ele respondeu irritado: "Por que vocês não perguntam a Nelsinho (técnico do Sport) se Romerito também não estava sobrecarregado?". Parecia um torcedor revoltado com a derrota.
Bom, isso foi apenas um exemplo. Roberto Fernandes também ganhou alguns jogos, mesmo fazendo das suas invenções. O Náutico sempre foi ofensivo. Nunca teve medo de atacar. O time corre por ele. Fernandes diz que faz as mudanças no time de acordo com o adversário que vai enfrentar. No entanto, no caso do Náutico, que tem um elenco reduzido, fica complicado tomar tal filosofia.
Na orla do gramado, o treinador não pára de berrar. Às vezes, se faz necessária tal atitude. Às vezes, parece exagero, pura exibição. Mas, pelo o que li na comunidade do Furacão no Orkut, esse perfil vai satisfazer a maioria.
Bom, não é possÃvel fazer uma previsão se Roberto Fernandes vai dar certo ou não no Atlético. Acho que ele tem um potencial para crescer na profissão. E ele está encarando a ida para o Furacão como a grande chance de sua vida. Portanto, isso é um ótimo prenúncio.
PS: muitos torcedores associaram a contratação de Roberto Fernandes à contratação de Givanildo Oliveira, em 2006. Essa associação só acontece porque os dois são conterrâneos. Mas o estilo de trabalho é completamente diferente.
Marcelo Cavalcante, 34 anos, é jornalista e integrante da equipe de Esportes do Jornal do Commercio, de Pernambuco. Mantém, desde 2006, o Blog do Torcedor, um dos mais respeitados blogs esportivos do paÃs.
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