O PREÇO DA COPA
A pretensão brasileira de sediar eventos esportivos mundiais é válida. Mas o histórico de corrupção e má gestão não inspira confiança alguma
por Phydia de Athayde, da CartaCapital
Outro ponto é o temor de não haver investidores para bancar os estádios, justificado pela experiência mundial. Só se consegue dinheiro privado para arenas esportivas associadas a times e com previsão de receitas constantes. Na situação atual do futebol brasileiro, os clubes não oferecem segurança jurídica nem financeira para investidores.
Contam-se em uma mão os clubes brasileiros de alguma forma interessados em profissionalizar sua administração. Entre eles estão o São Paulo F.C., o Internacional de Porto Alegre, o Botafogo e o Atlético Paranaense. Esse último é o único no País a ter optado por demolir seu antigo estádio para construir uma arena nos moldes da experiência internacional.
Inaugurada em 1999, na capital paranaense, a Kyocera Arena é o mais moderno estádio da América Latina. Está dentro das normas da Fifa e, dentro dele, funciona um centro integrado de serviços, entretenimento e lazer. Desde 2004, a multinacional coreana repassa cerca de 4 milhões de reais por ano ao clube para ter seu nome associado ao estádio.
Para efeito comparativo, o estádio do Atlético Paranaense está mais perto do exemplo positivo a ser seguido, enquanto o Maracanã é o exato oposto. No estádio mais tradicional do País e um dos principais palcos dos Jogos Pan-Americanos a situação é de abandono e descaso. Parte da infra-estrutura construída para o Pan já está em ruínas. Vândalos têm destruído sistematicamente as cadeiras de plástico antichamas e roubado peças de metal, madeira e até fios elétricos. O prejuízo está em cerca de 800 mil reais. Pano rápido.
Na arena paranaense, o problema é de outra esfera. Ocorre que a estratégia chamada naming rights não surte o efeito desejado, já que a palavra “Kyocera” não é mencionada nas referências ao estádio durante as transmissões da Rede Globo. Os locutores dizem “Arena da Baixada”, e não “Kyocera Arena”, porque a multinacional não comprou cotas de patrocínio. A mesma atitude da emissora repete-se nas transmissões da Fórmula 1, nas quais as duas escuderias da Red Bull (também sem cotas na Globo) são tratadas por “RBR” e “STR”.
Robert Fernandes, professor de pós-graduação na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), de São Paulo, considera esse um problema vital a ser enfrentado pelos clubes que desejam fazer do futebol e de seus estádios um investimento viável.
A questão do monopólio e poderio da tevê ante a fragilidade dos clubes é apontada por Walter de Mattos, do Lance!, como um problema estrutural do futebol:
– Hoje, a principal fonte de renda dos times vem dos direitos para a televisão. Tanto a CBF como a Globo lucram com os times fracos. Se eles tivessem uma gestão melhor, se tornariam negociadores mais competentes, e isso não interessa.
Matéria do site Furacao.com:
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