Em sua passagem por Curitiba, Matthäus deu autógrafos na Boca [foto: REUTERS/Valterci Santos]
Na última quarta-feira à tarde, a diretoria do Clube Atlético Paranaense oficializou a contratação do técnico alemão Lothar Matthäus. A notícia repercutiu em todo o mundo - clique
aqui para conferir. Matthäus está na Cidade do Cabo, na África do Sul, ajudando a promover a Copa do Mundo ao lado de Franz Beckenbauer, presidente do Comitê Organizador do Mundial e de Berti Vogts, ex-técnico da seleção alemã.
Logo após o anúncio de sua vinda para o Atlético, Matthäus concedeu uma entrevista ao editor do jornal
"Die Welt" ("O Mundo", em português), Lars Gartenschläger. A conversa com o treinador tratou especificamente das negociações com o Atlético e da expectativa dele sobre seu trabalho no clube. A entrevista foi publicada em alemão no site do jornal - clique
aqui para ler a versão original.
Confira abaixo a tradução da entrevista elaborada pelo torcedor atleticano Pedro Henrique Guimarães, que gentilmente colaborou com a Furacao.com:
DIE WELT: Sr. Matthäus, O que o levou a aceitar esta oferta?
Lothar Matthäus: Esta oferta é uma chance única. Estou indo para o Brasil, país dos campeões mundiais, onde jamais um europeu trabalhou como técnico de um clube – eu serei o primeiro (sic). Sinto-me verdadeiramente lisonjeado, mas ao mesmo tempo confirmou o reconhecimento por tudo o que alcancei em meu trabalho como treinador. Sempre busquei um desafio como esse em toda minha carreira. Enfim, estou muito feliz com este novo desafio.
DIE WELT: Mas existe algo mais por trás desta decisão, algo que o levou a desistir de treinar a seleção húngara?
Matthäus: Passei pelo mais profundo caos por aproximadamente cinco meses, na Hungria. Acabei ficando no meio do conflito e das mentiras entre a Federação e a Liga. Assim, perdi o desejo de treinar a equipe, principalmente após ter visto que as coisas não melhoravam. E então, após alguns meses, senti o quanto os negócios do dia-a-dia regrediam.
DIE WELT: O senhor sabia, após as negociações terem sido trazidas ao seu conhecimento, a razão pela qual um clube brasileiro optou diretamente pelo senhor?
Matthäus: Eu não imaginava o que pensavam os dirigentes do clube, mas acreditei inicialmente tratar-se de uma estratégia de marketing no país. No entanto, eles mostraram conhecer-me muito bem, pois tinham acompanhado todo o meu trabalho nos clubes de Viena e Belgrado. Sabiam também que havia trabalhado junto com jogadores jovens, e também que pude ajudá-los a conseguir bons contratos com outras equipes.
DIE WELT: Você sabe o que exatamente lhe espera?
Matthäus: É um clube muito bem administrado, que deseja se sobressair. Por isso fui resoluto em minha decisão. Fiquei surpreso de forma muito positiva, com tudo que vi, com o quão moderno é o centro de treinamentos. Uma enorme área com muitos lugares e construções. O clube tem mais de 150 empregados, estruturas perfeitas, um excelente sistema de uso de olheiros e ainda um arquivo sobre o clube e seus jogadores, além de jogadores profissionais de todo o mundo. Em meu trabalho diário eu irei comandar principalmente jogadores jovens, os quais tentarei adaptar especialmente durante o campeonato.
DIE WELT: A Hungria fica bem próxima da Alemanha, o Brasil não. O senhor não sente receio de ter que percorrer um caminho tão longo?
Matthäus: Eu devo admitir que senti medo de tomar essa decisão, mas não pela distância. Se fosse uma oferta de algum clube espanhol, eu teria aceitado no ato. Mas nesse caso, eu precisei refletir muito. Mas como eu já disse, tudo o que encontrei lá me impressionou muito.
DIE WELT: Sua esposa, que trouxe três filhos para o casamento, disse recentemente: "Sigo meu marido onde ele quiser ir". Ela irá também ao Brasil?
Matthäus: Nos primeiros quatro meses eles irão me visitar algumas vezes, então veremos como tudo se desenvolverá e tomaremos uma decisão. Ainda é muito cedo para isso.
DIE WELT: E como será a comunicação num país onde o idioma falado é o português?
Matthäus: Jogadores de futebol têm seu próprio idioma, e há também alguns termos em inglês. Além disso, terei um intérprete ao meu lado. Isto não representa problema algum. Tentarei também aprender o idioma português.
DIE WELT: Seu sonho sempre foi trabalhar como técnico na Alemanha. Esse desejo ainda existe?
Matthäus: Agora penso unicamente em minha tarefa no Brasil. Mas eu sei que no futuro ainda há muita coisa para acontecer. Mas não faço segredo algum que me agrada muito a idéia de trabalhar como técnico na Alemanha.
Colaboração: Pedro Henrique Guimarães e Wagner Ribas
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