O jogo da consagração
Após tantos altos e baixos, no dia 13 de setembro Atlético e Seleto realizavam a última partida do Campeonato Paranaense, em Paranaguá. A equipe jogou tudo o que sabia e deu certo. O Estádio Orlando Mattos foi invadido quatro minutos antes do término da partida, pela nação atleticana que agora podia gritar sem medo: “É Campeão! É Campeão!” .
Antes de o jogo começar, por volta das 14 horas, o estádio já estava lotado pela nação atleticana. Esta, composta na sua maioria por jovens, extravasava uma alegria incomum, ensaiando para a festa final. Para o Atlético, só a vitória lhe daria o título. Porém, foi o Seleto que começou atacando, logo aos dois minutos, com Macaé. O jogador recebeu a bola na entrada da área e chutou forte, passando à esquerda do gol de Vanderlei. A resposta do Atlético veio aos quatro minutos com o jogador Toninho, que aproveitou um rebote e chutou para o goleiro Expedito fazer boa defesa. Foi o suficiente para despertar a nação atleticana, que estava silenciosa até então. Enquanto isso, o Seleto demonstrava-se melhor no meio-campo, com Macaé e Lori ganhando as ações de Reinando e Toninho, que tinham suas tarefas dificultadas pela intervenção no setor de Juquinha.
O bloco defensivo do Atlético começou instável. Zico e Alfredo permitiam o avanço de Luis Antônio, que despontava com grande atuação. Com o decorrer dos minutos, o miolo da área rubro-negra melhorou, tranqüilizando o restante do time. Finalmente aos seis minutos o torcedor do Atlético experimentou a primeira grande emoção no campo do Orlando Mattos. Nelsinho fez tabela com Sicupira e a defesa seletense falhou, permitindo a Liminha um toque rápido para Nilson, que estava em excelente posicionamento. Era a euforia para a nação atleticana, que começava a ver a equipe desenhar o sucesso final do Atlético.
Mas o Seleto não se impressionou muito com o placar aberto pelo rubro-negro. Continuou forçando a linha da zaga adversária e aos 10 minutos, Reinaldo derrubou Juquinha na entrada da área. Luis Antônio fez a cobrança da falta perigosa, mas não teve sucesso. Em seguida, o Atlético começou a mostrar ainda mais autoridade em campo. Nilson auxiliava o meio-campo, Sicupira pegava as sobras e lançava de primeira para Nelsinho, que mostrava sua extrema velocidade. Aos 13 minutos do segundo tempo, Nelsinho recebeu um lançamento forte, matou no peito e buscou a área seletense. O goleiro Expedito saiu da meta e levou o segundo gol, fazendo a torcida atleticana vibrar. O Seleto tentou correr atrás do prejuízo. Juquinha chutou forte com o pé esquerdo na entrada da área, fazendo com que o goleiro Vanderlei realizasse uma grande defesa. E não demorou para a equipe diminuir. O zagueiro Zico devolveu mal um lançamento vindo da direita e Juquinha aproveitou, aos 24 minutos, chutando a bola no ângulo direito do goleiro atleticano, que nada pôde fazer.
Mas o gol seletense não intimidou os comandados do técnico Alfredo Ramos, que pedia a todo momento muita calma, principalmente para o jogador Reinaldo, que estava errando muitos lançamentos. A partida atingiu os 30 minutos e era notado um equilíbrio entre as equipes na partida, que revezavam-se nas jogadas de área. Zico despontava com grande segurança ao lado de Alfredo, com a zaga rubro-negra completada pela presença de Djalma Santos e Julio, nas laterais. Mesmo com vantagem o Atlético não mostrava superioridade, com seu ataque contido pela zaga seletense. E aos 35 minutos que aconteceu o terceiro sucesso do rubro-negro da Baixada. Nilson cobrou uma falta pelo lado esquerdo do campo e a bola passou por todos da zaga do Seleto, inclusive por Nelsinho e Sicupira. Liminha, trabalhando em silêncio, pegou a sobra e chutou rasteiro, para os fundos da rede do goleiro Expedito.
Para a segunda etapa, os times voltaram iguais e o Seleto mostrou nas primeiras movimentações que não iria desanimar tão cedo, mesmo com o placar desfavorável. Aos 2 minutos, Lori recebeu um rebote na entrada da área e com um chute longo, quase anotou o segundo gol para o Seleto. Já o Atlético respondeu com Sicupira, que proporcionou um lance de perigo para Expedito. O artilheiro rubro-negro viu Liminha em alta velocidade e fez um lançamento longo, que na hora de finalizar, acabou sendo cortado por Pardal. Passados cinco minutos de jogo, a experiência de Zico se fez valer. O zagueiro simulou uma contusão a fim de esfriar o ânimo dos comandados pelo técnico Hélio Alves. Além disso, Sicupira aterrorizava com seus lançamentos em profundidade buscando a velocidade de Nelsinho pelo comando, e Liminha pela direita.
Aos 13 minutos, Pardal cobrou uma infração da intermediária do Atlético e a bola foi ao encontro do peito de Vanderlei. Luis Antônio subiu para tentar de cabeça, mas chegou tarde demais, atingindo o goleiro atleticano. Em seguida, o técnico do Seleto substituiu Moacir por Bonin, que pouco produziu. Aproveitando o bom momento, o Atlético quase marcou o quarto gol. Sicupira ganhou uma bola na intermediária, evoluiu na saída do goleiro seletense e acabou na marcação de Dinei. Sentindo que Nelsinho estava cansado, o técnico Alfredo Ramos resolveu substituí-lo por Zezé, que entrou com muita vontade, mas não foi feliz logo após seus primeiros toques na bola, sentindo uma contusão no joelho esquerdo. Enquanto isso, a torcida aguardava com entusiasmo os minutos finais da partida para então explodir.
Nos minutos finais, a torcida já não agüentava mais a espera e começou a cantar: “ Está chegando a hora...” Dentro de campo, os jogadores eram tomados por uma expectativa fora do comum, à espera do apito final. Aos 41 minutos, Toninho foi o autor do gol mais vibrante da partida. Após tabelar com Sicupira, Zezé lançou Toninho, que entrou na pequena párea e chutou forte para vencer o goleiro Expedito mais uma vez. E foi nessa hora, que a torcida invadiu o gramado para abraçar os jogadores, que foi provocada a queda de uma arquibancada improvisada, ferindo algumas pessoas, mas sem gravidade. Após o trabalho da Polícia Militar na retirada do público, o árbitro Eraldo Palmerine finalmente levantou os braços e encerrou um grande espetáculo. A torcida, ordenadamente, sem estragar o patrimônio alheio, tomou conta do campo e foi festejar mais uma conquista para a história do Atlético. Curiosamente, o placar, de 4 a 1, foi o mesmo da conquista do Tri Campeonato do Brasil, na Copa do Mundo de 1970, ao enfrentar a Itália no México.
Muitos não sabem, mas a conquista do Atlético chegou a ser ameaçada pelo rival Coritiba, que havia apresentado um recurso no Tribunal de Justiça Desportiva, alegando que o rubro-negro tinha colocado em campo o jogador Nilson, sem condições (ele teria sido expulso na partida anterior, que teve o Atlético como vencedor, em cima do União Bandeirante). Nem a chuva atrapalhou a festa atleticana, na volta a Curitiba. Do alto da serra, a festa era ouvida de longe pelo toque estridente das buzinas enfatizavam a comemoração de uma multidão que parecia não ter mais fim. Em Curitiba, uma enorme festa aconteceu nas principais avenidas da cidade, nas ruas, bares e carros, mesmo com a chuva forte que caía naquele dia. E então os jornais puderam noticiar a grande conquista do rubro negro, após tantas crises e desencontros: “Era o Furacão, que voltava mais vibrante do que nunca, após vencer o Seleto e liquidar o Coritiba”.
Final - Paranaense - (13/09/1970) - Seleto 1 x 4 Atlético
L: Orlando Mattos; A: Eraldo Palmerini; R: 35.929,00; G: Nilson Borges, aos 6 do 1°; Nelsinho, aos 13, Juquinha, aos 24, Liminha, aos 35, e Toninho, aos 41 do 2°.
SELETO: Expedito; Calé, Diney, Vivi e Pardal; Macaé e Lori (Fábio); Josemar, Juquinha, Luis Antônio e Moacir (Bonin). T: Hélio Alves.
ATLÉTICO: Vanderlei; Djalma Santos, Zico, Alfredo e Júlio; Reinaldo e Toninho; Liminha (Gildo), Sicupira, Nelsinho (Zezé) e Nilson Borges. T: Alfredo Ramos.
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