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Entrevista | domingo, 10 de julho de 2005, 11h49

Tudo do tubo

Por: Furacao.com

Foto Destaque

Operários terminaram as obras antes do cronograma [foto: FURACAO.COM]

A instalação de arquibancadas modulares na Kyocera Arena despertou grande atenção da imprensa e dos torcedores nos últimos dias. Há exatamente uma semana, a diretoria atleticana fechou um acordo com o Colégio Expoente e deu início às obras de ampliação da Baixada. Na sexta-feira, dia 1° de julho, foi desmontado o camarote da direção, que ficava no muro que separava o estádio do colégio. No dia seguinte, o muro foi derrubado e a empresa Orpec Engenharia iniciou a instalação das arquibancadas móveis modulares. O trabalho foi concluído em um tempo recorde de quatro dias. Funcionários trabalharam incansavelmente dia e noite, com grupos sendo substituídos a cada turno. Mesmo com a recusa da Conmebol em aceitar a realização do jogo contra o São Paulo na Baixada, o projeto foi levado adiante e as obras foram concluídas no prazo originalmente estabelecido.

Mas não foi o prazo exíguo nem a magnitude das instalações que transformaram esse trabalho em algo especial. A paixão da torcida atleticana produziu um clima diferente nas obras. Desde o final da tarde da sexta-feira, milhares de rubro-negros acompanharam as obras através de um ponto localizado na Rua Madre Maria dos Anjos e de dentro da própria Arena, em certos dias de abertura ao público. Assim, a montagem de cada lance das arquibancadas foi comemorada como gol e a queda do muro foi tão importante quanto a conquista de um título. Os funcionários receberam incentivos dos torcedores tal qual atletas do Rubro-negro.

Para saber mais sobre a montagem das arquibancadas móveis, a Furacao.com conversou com Leandro José Cruz, 28 anos, funcionário da Orpec Engenharia. A Orpec é uma empresa paranaense que atua neste mercado há 40 anos, especializada na parte de equipamentos metálicos para a construção civil e instalação de arquibancadas e palcos em shows e grandes eventos. Leandro trabalhou durante quatro dias seguidos na instalação da estrutura e conta como foi a emoção de estar envolvido neste projeto. Confira a entrevista exclusiva:

A rua lateral da Kyocera Arena virou mirante [foto: FURACAO.COM]

A principal discussão a respeito das arquibancadas móevis gira em torno da segurança proporcionada aos torcedores. Quais as garantias oferecidas pela empresa de de a estrutura é realmente segura?
Veja bem, essas arquibancadas já existem em uma série de eventos, como a Fómula 1, Copa David, Beach Soccer, Vôlei de Praia e Carnaval. Na semana que vem, a Orpec irá realizar a instalação das arquibancadas para a arena da Copa Davis, em Joinvile. Existem várias empresas que realizam esse mesmo trabalho no Brasil. O material da Orpec é fabricado segundo as normas européias, o que dá total segurança aos torcedores. A norma européia pede uma espessura de tubo de 3,20 m de parede. Esse tubo não existe no Brasil, o que nos obriga a fabricar um tubo aqui e fazemos um tubo ainda mais resistente. Além disso, nós temos os laudos da Universidade Federal do Paraná que asseguram a resistência do material. Tudo foi amplamente testado, então a segurança é absoluta.

Qual é o material utilizado nessas arquibancadas?
A nossa estrutura é constituída por tubos de metais que são fabricados na própria Orpec, na nossa fábrica em Almirante Tamandaré. Esse material foi fabricado para atender à Copa Davis e é formado por módulos. Foi isso que permitiu que a estrutura fosse montada em pouco tempo. Todos os engates são por cunhas, o que torna a instalação rápidoa. Não existem parafusos e porcas, então não há risco de soltar. Fica tudo preso, encaixado de acordo com os engates. Uma vez travado, é impossível soltar senão por meio de um instrumento específico. Não há o menor risco de isso ser soltado nem intencionalmente pelos torcedores, pois eles nem têm acesso a essas partes. As pranchas onde os torcedores ficam sentados são metálicas cobertas por chapas de madeira.

Qual o prazo normal para instalar as arquibancadas do modo como foi feito na Kyocera Arena?
Na Copa Davis, para montar com calma montando uma estrutura daquelas trabalhando apenas em um turno único e com número reduzido de pessoas demoraria cerca de uma semana. Como no Atlético exigia-se um prazo curto, foi colocado um efetivo muito grande. Eu, por exemplo, virei três noites de madrugada. Foi um ritmo alucinante. Tivemos cerca 200 funcionários se revezando nas turnos.

Quando a instalação foi concluída?
Nós entramos no Expoente no sábado pela manhã, mas não pudemos trabalhar imediatamente, pois ainda era necessário preparar o local para a instalação. Começamos a montar a partir do sábado por volta das 14 horas. A instalação foi concluída na terça-feira. Depois disso, demos apenas o arremate final. Como depois a gente dispunha de mais tempo, resolvemos fazer um acabamento, por isso realizamos uma pintura na quinta-feira.

Como será o acessos dos torcedores a essas arquibancadas?
Não sei afirmar, mas provavelmente será pelo Expoente. Na verdade, isso será decidido pelo Atlético.

Como os funcionários receberam a notícia de que o jogo contra o São Paulo não seria na Arena?
Para mim, que sou atleticano e proprietário de pacote, foi uma tristeza. Foi uma frustração grande como torcedor e também no aspecto profissional. De qualquer modo, foi uma das melhores obras que eu já presenciei. Eu desejava muito que houvesse a confirmação da Arena, pois o São Paulo não iria ganhar aquele jogo. Na terça-feira, eu sentei no primeiro degrau das arquibancadas e fiquei imaginando a pressão da torcida. O São Paulo não iria segurar a pressão.

O que vai ficar guardado na sua memória desses dias?
Sou atleticano, vou ao estádio desde 1990, desde o Atletiba do Dirceu. Então, essa obra foi especial para mim. Uma das coisas que eu vou levar para a minha vida foi a queda do muro. Outro fato marcante foi o apoio da torcida. No primeiro dia do nosso trabalho, na madrugada de sábado para domingo, não houve um momento sequer que ficou vazio o lugar onde os torcedores acompanharam as obras. Sempre tinha alguém ali. Quando chegou o material metálico, tivemos de descarregar o caminhão e, para agilizar, fazemos isso criando uma "corrente humana", ou seja uma pessoa vai passando a peça para a outra até chegar no local. Alguns torcedores vieram se oferecer para ajudar a gente e entraram nessa corrente, passando as peças e agilizando o trabalho. Também teve um dia de madrugada que a torcida começou a gritar os cantos do Atlético e deu mais força para seguirmos na montagem. Teve até um funcionário que falou para mim que mesmo sendo coxa ia lutar com muito carinho para que a obra ficasse pronta, pois havia uma vontade geral de muitas pessoas para concluir a instalação.

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