Opinião | terça-feira, 25 de dezembro de 2001, 14h51
Leia a coluna especial de Sérgio Tavares Filho
Hoje é fácil! Ainda bem
Era só sair de Curitiba - não precisava ir muito longe, bastavam alguns quilômetros - com a camisa do Atlético para ser confundido com um flamenguista. Mesmo com as listras na vertical, as cores vermelho e preto confundiam-se com o time carioca.
Mesmo com pouco reconhecimento fora da capital paranaense, eu ostentava com orgulho, o manto do Atlético. Não foram poucas as vezes que me humilharam e escracharam o meu amor pelo Furacão.
Tenho apenas 22 anos, mas sou do tempo em que ia assistir Atlético (já eliminado do campeonato estadual) contra o Cascavel, na antiga Baixada. Tempo em que ia protestar contra a diretoria e treinadores no alambrado. Não me deixa nenhuma saudade a época em que o Atlético era um eterno balcão de negócios, com mais de 200 jogadores por temporada.
Não sou da "geração Arena", que só está vendo alegrias. (Na realidade os invejo. Essa nova geração não sabe que muitos jogadores foram negociados com outros clubes tendo jogos de toalhas como moeda de troca). Sou sofredor do Pinheirão. Quantas vezes peguei o ônibus na Carlos Gomes, com 10º numa noite chuvosa, para assistir Atlético e Maringá?
Não aprendi a ser atleticano. Isso não é aprendizado, se nasce. Nasci vermelho e preto e morrerei assim. É claro que tive meus "alter-egos". Graças a minha famÃlia por parte de pai (e muitos membros da famÃlia de minha mãe), meu orgulho pelo Atlético ultrapassou as barreiras da normalidade. E os agradeço por isso.
Qual explicação para alguém ser enterrada com a bandeira do Atlético? Seria amor ou paixão? Fico com a segunda opção. Já faz quase cinco anos que minha querida avó, Hilda Fantinatto Tavares, nos deixou. E o seu último pedido foi levar para o túmulo, o manto vermelho e preto. "Ser atleticano não é para qualquer um. Tem que ter dom", dizia ela quando os "coxas" falavam do campeonato de 1985.
O que será que ela responderia agora, meu Deus? Não sei. Sinceramente não sei. Quem sabe ela não está gritando, lá de cima: "hoje está sendo fácil torcer para o Atlético. Ainda bem".
Um natal estrelado e um ótimo ano novo.
Sérgio Tavares Filho
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