FANÁTICOS EM XEQUE
por Silvio Rauth Filho, do Jornal do Estado
As eleições para a diretoria da torcida organizada Os Fanáticos, marcada para hoje, trouxeram à tona uma série de denúncias. Um grupo de oposição, que acabou não conseguindo registrar chapa para a disputa, apresentou - com exclusividade ao Jornal do Estado - graves acusações à atual gestão.
Entre as denúncias, estão a de falsificação de documento, falta de transparência na gestão dos recursos, utilização da sede da entidade como residência para integrantes da diretoria, repressão à liberdade de expressão e agressão física. A diretoria da Fanáticos negou as acusações, exceto a referente ao uso da sede como moradia.
Um dos momentos mais tensos do período eleitoral ocorreu em outubro de 2004, quando o candidato à vice-presidente na chapa de oposição, João Ezequiel de França, foi agredido fisicamente pelo atual presidente, Julio Cesar Sobota, dentro da sede da Fanáticos. A vítima procurou a polícia e registrou boletim de ocorrência na 2º Distrito Policial.
Apesar da pressão, a oposição continuou e chegou a inscrever no dia 17 de fevereiro de 2005 uma chapa, chamada de União da Caveira. O registro, porém, não foi aceito pela diretoria, que alegou desrespeito ao prazo de 30 dias antes das eleições, previsto no estatuto da entidade. Mas, segundo o contador Silmar Zancan, candidato ao Conselho Fiscal pela oposição, o grupo de Sobota também descumpriu o estatuto. "Eles não divulgaram, não publicaram e nem colocaram em edital a convocação da eleição, o que é obrigatório. Só depois que tentamos inscrever a chapa é que eles fizeram isso, mas com data retroativa", denunciou Zancan.
A oposição, porém, desistiu de entrar na Justiça para questionar a irregularidade e conseguir o registro. Segundo Zancan, o motivo para o recuo foi o temor de muitos integrantes da chapa. "Alguns têm medo do Julio", disse.
O site do grupo - www.uniaodacaveira.cjb.net - traz um comunicado sobre o caso. No texto, eles afirmam que a atual diretoria agiu de maneira "totalmente legal" e que a recusa ao registro da chapa foi devido a um "erro e desorganização" da oposição. Na última frase do comunicado, porém, há uma promesse de reação. "Com certeza, na próxima eleição estaremos preparados". Uma nova disputa pela diretoria, porém, só poderá ocorrer em março 2007, quando terminar o mandato da situação, que vencerá hoje a eleição em chapa única.
Oposição vê indícios de fraude para alterar estatuto
O grupo de oposição retirou em cartórios toda a documentação registrada pela atual diretoria da Fanáticos. Entre a papelada, está a ata de uma assembléia para alterar o estatuto da entidade. A reportagem do Jornal do Estado teve acesso aos documentos e verificou que há indícios de uma fraude. Para validar a mudança, os dirigentes da torcida anexaram uma lista com 78 nomes digitados, mas só 32 assinaturas, e sem um cabeçalho na página, identificando que aquelas pessoas participaram da reunião.
"Aquilo é uma lista de ônibus, de excursão", confirmou Rodrigo Augusto da Silva, que tem seu nome na relação, mas afirmou nunca ter participado de qualquer assembléia. Pela legislação, a fraude pode ser caracterizada como falsidade ideológica (pena de um a três anos de prisão) ou falsificação de documento (uma a cinco anos de prisão).
Outra irregularidade, segundo denúncia do grupo de oposição, é que a convocação das assembléias nunca foi realizada conforme estabelece o estatuto, ou seja, com publicação em edital. "Nunca soubemos de nenhuma assembléia", declarou Zancan.
Recursos - Outra denúncia apresentada pela União da Caveira é a falta de transparência na gestão dos recursos da Fanáticos. "Nunca foi feito prestação de contas. A última vez que isso aconteceu foi em 99, quando o Belloto (José Carlos, ex-presidente) saiu", afirmou o contador Silmar Zancan, candidato a presidente do Conselho Fiscal pela oposição. "E a torcida não tem conta corrente. Toda movimentação é feita na conta do Juliano (Rodrigues, vice-presidente)", denunciou.
Hoje as fontes de receita da entidade são as mensalidades dos sócios, a venda de camisas, a academia e o bar, que funcionam dentro da sede.
Diretoria nega acusações e critica opositores
O vice-presidente da Fanáticos, Juliano Rodrigues, rebateu às acusações da União da Caveira e deu sua explicação para o fato do grupo nunca ter sido informado das assembléias. "Eles estão enganadaos quanto a isso. Não estão participando diariamente e nunca estiveram em dia com a torcida. Os associados em dia sabem que está tudo regular", disse.
Rodrigues garantiu ainda que a convocação para eleição foi publicada em um jornal de Curitiba e fixada em edital dentro da sede. Ele rebateu também a acusação de que uma lista de viagem foi anexada na ata da assembléia de alteração do estatudo. "Eles não estão falando a verdade. Um cartório não iria aceitar uma lista assim. Não é assim que funciona", declarou.
Sobre as contas da entidade, Rodrigues afirmou que as prestações de contas são feitas. "Todos associado pode ter acessoa a hora que quiser. Ele nunca estiveram em dia e, por isso, nunca tiveram esse direito", argumentou ele, garantindo que a torcida tem um conta própria e negando a acusação de que a movimentação é feita na sua conta particular.
Em relação ao regimento interno, o vice-presidente explicou que nunca recebeu um pedido para entregar cópia desse documento. E que é preciso estar em dia com a torcida - a mensalidade é de R$ 10 - para solicitar.
A única acusação admitida por Rodrigues foi sobre o uso da sede como moradia por três integrantes da torcida. "Um é responsável pela limpeza, outro ajuda com manutenção e cuida do bar. Não vejo problema nisso", afirmou.
Sobre a briga entre um integrante da oposição e o presidente Julio César Sobota, Rodrigues preferiu não comentar. "Os dois tiveram um bate-boca. Mas nem preocupo com isso. Me preocupo com quem vai lá para ajudar e seria mehor eles pensarem em ajudar a torcida, pagar a mensalidade, para depois reclamar", disse.
Sede funciona como residência
A sede da Fanáticos tem sido a casa de três diretores da entidade, segundo denúncia de integrantes da chapa de oposição União da Caveira. O presidente da torcida, Julio Cesar Sobota, e dois outros integrantes, conhecidos por Touro e Cesinha, estariam dormindo dentro do imóvel, situado no bairro Água Verde.
No local, há também uma criação de pássaros, que conforme denúncia da União da Caveira, pertence a Sobota. O presidente da Fanáticos teria até proibido os ensaios da bateria da torcida no local para o barulho não "assustar" os animais.Tirania - O grupo de oposição apresentou cópia de um ofício assinado pelo presidente da Fanáticos, Julio Cesar Sobota, mostrando a face ditatorial da atual gestão. O documento, que recusa o registro da chapa União da Caveira, ordena ainda que os integrantes do grupo retirem do ar o site www.chapauniaodacaveira. cjb.net. A decisão se baseia em um "regimento interno", que proíbe qualquer filiado de "distribuir folhetos" ou "realizar reuniões paralelas com finalidades alheias aos propósitos da diretoria". Ou seja, o direito de liberdade de expressão, garantido pela Constituição, não vale nas "leis" da Fanáticos. "E o pior é que nunca ninguém viu esse tal de regimento interno. Já pedi para eles, mas nunca entregaram", reclamou Silmar Zancan.
Sob a alegação de "traição", alguns integrantes da chapa de oposição também receberam uma punição da diretoria da torcida. "Eles nos suspenderam e ficamos proibidos de ir em excursões e na festa de aniversário da Fanáticos (em 2004)", contou Zancan.
Ameaça de abandono incentivou o grupo
O candidato a presidente da oposição, Rodrigo Augusto da Silva, contou que o movimento para organizar uma chapa surgiu no final de 2004, quando Julio Cesar Sobota, que hoje comanda a torcida, ameaçou abandonar o cargo. "Ele disse que ia largar tudo e que planejava se mudar para uma chácara", contou Silva. "Então, a gente começou a se organizar", disse.
O discurso de despedida de Julio, porém, não se confirmou. "Quando ele soube que a gente estava se reunindo, nos chamou de traídores e colocou em edital um texto nos xingando", relatou Silmar Zancan, candidato ao conselho fiscal. A divulgação do ofício, na sede da entidade, foi o motivo da agressão física. Segundo os relatos, João Ezequiel de França estava no local e começou a rir do documento da diretoria, com ofensas aos integrantes da oposição. "O Julio não gostou e deu um tapa na cara do João", afirmou Zancan.Amizade - O candidato a presidente da chapa União da Caveira, Rodrigo Augusto da Silva, disse que não tem problemas pessoais com o presidente da Fanáticos, Julio Cesar Sobota. "Não tenho nada contra a pessoa dele e me considero amigo dele. Mas não concordo com algumas atitudes", afirmou Silva, 29 anos e filiado à torcida desde 1990. Silmar Zancan, sócio desde 1989, também explicou que não há motivos pessoais para organizar uma oposição. "O Julio sempre foi meu amigo", comentou.
União da Caveira propõe diálogo com o clube
O grupo de oposição União da Caveira chegou a elaborar um documento com propostas para mudar o rumo da Fanáticos. Uma delas é retomar o diálogo com a diretoria do Atlético e buscar uma solução para o impasse envolvendo a bateria, proibida na Arena desde abril de 2004. Desde a decisão, parte da torcida organizada passou a hostilizar os presidentes João Augusto Fleury da Rocha (conselho gestor) e Mário Celso Petraglia (conselho deliberativo) e as relações foram rompidas.
Outras propostas do grupo são abrir subsedes em outras cidades, manter o site atualizado (o que não ocorre hoje), proibir o consumo de drogas na sede, informatizar a secretaria da entidade e realizar a prestação de contas a cada três meses.
Matéria do site Furacao.com:
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