1940

Papelão do adversário

Não houve final no Campeonato Paranaense de 1940. Não porque a fórmula não previa uma decisão, mas simplesmente pelo fato de o Ferroviário ter desistido da competição. Portanto, a última partida do rubro-negro foi um jogo do segundo turno, justamente contra o Ferroviário.

A equipe colorada, vice-campeã estadual de 1939, venceu o primeiro turno com cinco vitórias e apenas uma derrota (para o Juventus). O jogo decisivo aconteceu no dia 30 de junho: vitória por 1 a 0 sobre o Atlético.

Esse desempenho credenciou o Ferroviário como um dos favoritos ao título. Mas o Atlético iniciou o turno final de maneira arrasadora. Depois da campanha razoável no primeiro turno (duas vitórias, dois empates e duas derrotas), o rubro-negro obteve uma seqüência de quatro vitórias no segundo.

O último confronto atleticano no segundo turno seria contra o Ferroviário, que lutava para conquistar o título de forma antecipada, precisando também vencer o Britânia. O Atlético precisava apenas de um empate para garantir sua vaga na final, contra o próprio Ferroviário.

A partida foi cercada de muitas expectativas. A imprensa anunciou o jogo como o “maior choque do ano”, destacando a força de ambos os times. O Atlético contava com o ótimo goleiro Caju e uma linha de defesa entrosada, que vinha atuando junto há mais de um ano. O ataque estava equilibrado, sem um grande destaque individual. Pinto já havia marcado 6 gols no segundo turno, enquanto que Sardinha havia feito 5 e Érico, 3.

Chegado o dia do grande embate, no Joaquim Américo, e a torcida compareceu em peso: foi o maior público do campeonato. Dentro de campo, os times fizeram exatamente o que deles se esperava: um jogo equilibrado e muito disputado. Com gols dos atacantes Érico e Renato, o Atlético ia garantindo o empate por 2 a 2 até os 35 minutos do segundo tempo. Faltavam somente dez minutos para garantir a conquista do segundo turno e a vaga na grande decisão.

Nesse momento, aconteceu o lance mais polêmico do jogo. O centroavante Mosquito disputou bola aérea com Anjolilo e tocou de cabeça para o meia-esquerda Ari Carneiro. Em completo impedimento, Ari mandou para o fundo das redes de Caju. Antes mesmo do gol, o árbitro Canhoto (ex-jogador do Palestra Itália) anulou o lance, assinalando a irregularidade.

Porém, os colorados não se conformaram. Por orientação dos diretores, o capitão do time ordenou que seus companheiros deixassem o gramado. No dia seguinte, o Ferroviário fez circular nota oficial explicando que a decisão foi tomada para que os jogadores “não servissem de atores de uma palhaçada”.

Para justificar a fuga, a direção enviou ofício para a Federação Paranaense de Futebol explicando a desistência do jogo e pedindo a marcação de uma nova partida. Além do gol anulado, o Ferroviário reclamou do segundo gol atleticano, marcado por Renato e da postura do árbitro Canhoto, que supostamente não teria prestado atenção às reclamações do capitão do time durante todo o jogo.

Além de manchar a história do Ferroviário, a atitude acabou por estragar a festa da torcida atleticana, que não pôde comemorar propriamente o título com uma vitória dentro de campo, como todos queriam.

O Atlético foi oficialmente declarado campeão paranaense de 1940 no dia 7 de novembro, através do Boletim Oficial n° 9, da Federação Paranaense de Futebol. Além disso, o Ferroviário foi punido com suspensão de dezoito meses e com pagamento de multa indenizatória ao Atlético e à FPF.

Arrependido, o Ferroviário tentou de todo jeito voltar atrás. Para tentar resolver o conflito com a Federação, a direção do clube pediu ao presidente do Atlético, Claro Américo Guimarães, que mediasse a tentativa de cancelamento da suspensão, feito que foi alcançado.

Porém, mesmo sem ter disputado a final, a festa atleticana foi grande, afinal o clube conquistou o campeonato estadual pela sexta vez em sua história.

Ficha: 06/10/1940
Atlético 2 x 2 Ferroviário

Local: Baixada
Arbitragem: Pedro Pereira do Nascimento (Canhoto)
Renda: 5.619.000,00
Gols: Érico, Renato, Pivo e Bonato
Atlético: Caju; Gotardo e Anjolilo; Pizatto, Bibe e Bortolotti; Renato, Sardinha, Levoratto, Oscar e Érico
Ferroviário: Luiz; Alfeu e Tatinha; Baiano, Bananeiro e Alexandre; Bonato, Ari Carneiro, Mosquito, Pivo e Rubens

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