Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Sobre a surra

30/10/2006


O técnico do maior time de bairro do Brasil, Caio Júnior, era o retrato de um homem esmigalhado. Tentava, com a garganta amarrada pela opressão, dar o seu retrato do jogo contra o Atlético Paranaense. Na sua visão, os gols do Atlético foram lances ocasionais em uma partida bastante equilibrada. Entende-se a idiossincrasia delirante, não é fácil explicar tamanho baile. Porém, na seqüência da entrevista, usou a verdade como indulgência: o Atlético é maior que o Paraná Clube e por isso venceu.

Caio, num misto de raiva e abatimento, falou que temos maior torcida, maior receita, maior número de cotas e que, diferente do Paraná Clube, o Atlético é integrante do Clube dos Treze. Endossou a alcunha de "Paranazinho", a qual muitos usam para se referir ao time vileiro. Diminuiu ainda mais o já diminuto Paranazinho, encolhido mais ainda depois da tritura sofrida, para explicar seu insucesso pessoal. Mas, sem querer, disse, subliminarmente, que a surra que o Paranazinho tomou do Atlético simplesmente colocou as coisas em ordem no estado.

Despachante

Dênis Marques quer concorrer com o Detran. Uma frenética emissão de placas, uma por jogo. O despachante oficial do futebol arte. Não existe mais doce resposta aos críticos do que o trabalho. Não existe frustração que não seja esquecida com a glória. Nada é mais redentor que a ovação depois dos ovos. Quem, como eu, acreditava em Dênis também está redimido. Quem não, morde a língua gostoso, com prazer, sem dor, sem afta. Para mim, não é só boa fase, Dênis Marques é craque. Está aí mais uma afirmação que pode causar polêmica. Mas é assim mesmo, os grandes jogadores causam este tipo de efeito, controvérsia, polêmica, admiração e raiva. Dênis Marques causa tudo isso, sem dizer quase nada, introvertido nas palavras, fala a língua da bola. E o quarto gol do Furacão foi poesia, declamada no último sarau da bola promovido pelo Atlético Paranaense.

Razões

Chama a atenção de muita gente a maneira como o Atlético vem jogando. Em alguns causa estranheza, até. Mas fato estranho, era a maneira como o Atlético vinha se comportando até meses atrás, aquele não era o verdadeiro Atlético. Fica mais claro agora que o Atlético sofria com muitos problemas de ordem interna e isso estorvava o rendimento do clube com um todo. Desde a saída do alemão maluco o Atlético bagunçou-se. As expectativas de muitos jogadores foram frustradas. O elenco, enorme, fechou-se em panelas. Uma delas chefiada pelo Dagoberto, achava-se dona do CT. Muitos atletas esqueceram que eram profissionais pagos em dia. Chamou-se um treinador que não era o certo para aquele momento e aquele ambiente. Além de tudo isso, muitos problemas judiciais para atrapalhar.

Dia desses vi Alan Bahia dando entrevista na TV. Magrinho, rosto sem queixo-duplo, aparência saudável, brilho no olho. O oposto da figura inchada que já vimos neste ano. Este mesmo atleta, que vem jogando muita bola, este mesmo elenco, que está mais unido do que nunca, mostra que, mais do que a contratação de jogadores com currículo, o que faz um time vencedor é todos os setores do clube estarem em harmonia, funcionando como uma perfeita engrenagem. Mostra que nutrição, fisiologia, motivação, ciência, preparação física, boa administração e comando, repercutem diretamente no time. O Atlético vem bem porque conta com uma retaguarda de excelência em sua gestão. Marcos Teixeira e Vadão, chegaram para fazer tudo acontecer, resolver os problemas, administrar egos, dar diretrizes claras de trabalho. O Atlético conseguiu resolver seus problemas porque tem o que um clube vencedor precisa, só faltava azeitar a máquina. Times que investiram muito mais em elenco que o Atlético, não conseguiram.

Antônio Carlos Gomes disse antes de toda essa fase esplêndida, bem no meio da tempestade, que viria coisa boa para a torcida ainda este ano. Científico e objetivo como os fatos, estava certo. A surra no Paranazinho veio confirmar sua afirmação. Foi bom demais.

Vadão e jogadores

Pouco mais a dizer. Apenas pedir que continuem assim, com essa humildade e essa vontade de trabalhar e honrar seus ofícios. Assim honram toda uma nação. Os jogadores mostraram que são homens, de brios e orgulho e caráter. Vadão mostrou que é o homem certo para estar no comando técnico do Atlético, com seu trabalho parcimonioso, porém eficiente. Gente como essa, jamais deixa subir à cabeça a glória, quer mais e melhor sempre. Só quem passou pelo inferno sabe valorizar o céu.


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.