Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Nada pessoal, Dagoberto

25/10/2006


Quanto é preciso para o sustento de uma família? Quanto é necessário para prover quem se quer bem? Bem relativas, tais questões. Para o homem simples, do campo, seria terra para plantar, uma criação pra tirar um leite, uma carne? Para o homem da cidade, um trabalho e um salário? Fosse assim tão simples, o mundo e aqueles que o habitam seriam diferentes. É inerente ao ser humano a ambição, querer mais e melhor. Esta vontade orgânica move o mundo, evolui, transforma. Porém, desmedida, transforma-se em ganância, deletéria, porque pode transpor os limites da ética, do respeito e do amor para ser satisfeita.

Dagoberto e seus convivas devem estar muito insatisfeitos, hoje. Depois de tentar sugar tudo o que podiam do Atlético, viram seus desejos gananciosos naufragar. Sugiro que contenham a raiva e o ódio. O irmão do rapaz enviou-me uma mensagem ofendendo, ameaçando e praguejando, em uma linguagem tão vulgar que fica difícil descrever. É até compreensível que externem seus sentimentos de uma forma agressiva. Mas agora o melhor que podem fazer é segurar a raiva e esquecer a babilônia que buscavam. Conformem-se que a justiça decidiu assim, que estava previsto na lei vigente à época da feitura do contrato do atleta com o Atlético Paranaense. Mas é difícil para quem tem desejos assim conformar-se com a magnânima decisão da justiça.

Quem perdeu com todo o impasse foi principalmente o Dagoberto. Perdeu muito tempo na vida. Aliou-se às pessoas erradas, fez escolhas erradas e colhe o resultado delas. Não é vítima, pois acreditou em quem lhe contou fábulas. Ele tem grande participação na sua própria estagnação como profissional. Poderia ter renovado com o Atlético e conseguido uma renda mensal em torno de 100 mil reais, além dos 30% dos direitos em uma possível transferência. Ou poderia estar na Alemanha, no Hamburgo, ganhando 1,5 milhão de euros anuais. Poderia estar freqüentando a seleção do Dunga junto com os jogadores da sua geração, como Daniel Carvalho, Rafael Sóbis, Robinho, Elano, Dudu Cearense. Isso tudo não seria suficiente para manter sua família? Para qualquer pessoa com a cabeça no lugar, sim. Mas preferiu o caminho do enfrentamento, do conflito. Deu sua cartada e perdeu.

Disse aos quatro ventos que seu desejo era jogar no São Paulo, clube com o qual o Atlético tem difícil relação. Contratou o escritório de Giovani Gionédis para defendê-lo, uma atitude que também soou provocativa. Aconteceu o que é hábito, Gionédis perdeu mais um Atletiba, este na justiça. Ofendeu o presidente Fleury nas ondas do rádio, detonou seu treinador, o Givanildo. Pintou o caneco, surrou a galinha, bateu no marreco. Como diz a infantil cantiga de Vinícius de Moraes, tantas fez o moço que perdeu toda a credibilidade e a admiração que tinha da torcida do Furacão. E isso, para qualquer um que se orgulhe de ser honrado, é muito. Hoje em dia, tem gente que prefere ver o diabo a ver Dagoberto com a camisa atleticana. Dagoberto não é vítima da Massa Sports, da Marcosul, do Grupo Carlos Massa, do Ademir Adur, ou seja lá quem for. É vítima dele mesmo.

Entrou na justiça pedindo indenização por danos morais. Negada também. Afinal, se ele estava buscando o que achava seu de direito, o Atlético estava fazendo exatamente igual, buscando os seus. É a lei, rapazes, entendam. Além de acharem que eram maiores do que o Atlético, acharam também que poderiam ser maiores do que a lei? Tentaram de todo o jeito jogar o público contra o Atlético, mas em nenhum momento conseguiram convencer as pessoas com sua cantilena. Terminou, ces't fini, segue o baile. Dagoberto ainda está no CT do Caju. Um pouco de humildade para reconhecer o erro só faria bem a ele, que poderia tentar recuperar sua imagem de algum jeito, voltar a jogar e seguir, depois, o seu caminho. Hoje está difícil achar até quem deposite os 5,4 milhões da multa reduzida. Sua bola não vale mais isso, a não ser que volte a mostrar o que sabe, nenhum artista existe sem platéia. E com a bola nos pés, é um artista. Mas primeiro deve reconhecer que no Atlético há gente de bem, que defende o clube, que ninguém está lá para atacá-lo deliberadamente ou fazer-lhe represálias daqui para adiante. Nem todo mundo age da forma que você e os seus, rapaz.

No desespero, dizem até que o clube "comprou" o resultado, isso e aquilo. Está difícil de engolir, não? Toma um copo d'água, respira e reflete, que desce. Pensa nos salários pagos em dia durante todo o tempo parado. Pensa na cirurgia e no tratamento com os melhores especialistas, exatamente como você exigiu ao Atlético. Pensa no clube que lhe formou e alimentou. Você, por honra de homem, deveria ter colocado como prioridade na sua vida algum tipo de recompensa a este clube. Pensa no Rafael Sóbis agradecendo o clube que o lançou dando-lhe um título de Libertadores e carregando emocionado uma gigantesca bandeira daquele clube na comemoração. Pergunta se alguém lá no Colorado tem mágoa do Sóbis porque ele saiu logo depois do título? Pensa que o Petraglia, como fez com muitos outros jogadores, poderia ter arranjado para você uma baita negociação, melhor que qualquer coisa que as pessoas que você confiou conseguiriam. Ao invés de quebrar o mobiliário da casa, xingar o Petraglia, blasfemar contra o Atlético Paranaense, pensa em tudo o que você fez. Pensa e reflete, faz um balanço que fica mais fácil engolir, nem que seja com um Red Label na mesa.

O Atlético é uma enorme instituição, com mais de 82 anos de vida e com muita gente que ama e defende o pavilhão Rubro-negro. Ninguém tem nada pessoal com você não, Dagoberto Pelentier. Nem Mário Celso Petraglia, nem João Augusto Fleury da Rocha, nem Juliano Ribas, nem ninguém. Tudo foi feito e buscado pelo bem do Atlético Paranaense, este sempre estará acima de todos, das pessoas, dos dirigentes, dos jogadores, tudo. Nós vamos morrer e o Atlético vai continuar, porque sempre vai ter gente compromissada com esta grande paixão. Nada pessoal, Dago. Mas você perdeu.


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.