Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 44 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

A escolha de Dagoberto

24/10/2006


O entrave judicial teve seu desfecho: o Juiz determinou a prorrogação do contrato de Dagoberto com o Atlético até março de 2008. O jogador pode até recorrer da decisão, mas o julgamento certamente demorará, e seus empresários não poderão vendê-lo de imediato com a multa reduzida, como pretendiam.

Dagoberto tem mostrado uma personalidade bastante complicada. Colocou sua vida nas mãos de empresários, bateu de frente com o Clube que o formou, veste camisetas verdes pra provocar os atleticanos, chama todo mundo de "traíra"... E em cada entrevista se mostra mais arrogante. Hoje, por exemplo, na Tribuna, refere-se ao seu atual preparador físico como "um cara lá que contrataram", como se não soubesse o nome de um profissional com quem vem trabalhando diariamente.

O pior é que mostra profundo desconhecimento sobre as coisas que fala, o que coloca em dúvida a qualidade das pessoas que o assessoram. Primeiramente, também na entrevista de hoje, o atacante ironiza a decisão judicial dizendo que "os jogadores terão que pensar duas vezes antes de ir numa jogada, para não se machucar e ter que renovar depois." Bom, talvez os advogados coxas contratados pelo jogador não tenham informado-o de que um dos fundamentos que orientou esta decisão foi uma legislação já revogada, e que só valeu para o seu caso pois o seu contrato foi assinado em 2002. Ou seja, se é que a jurisprudência vai ser seguida (o que não é nenhuma regra), será apenas para pouquíssimos casos, e por pouquíssimo tempo.

Ademais, não se pode deixar de considerar que, no caso de Dagoberto, ficou claro que o jogador e seus procuradores pretendiam se valer da multa reduzida para o último ano de contrato, o que acabou sendo considerado pelo Juiz para proferir a decisão pela sua prorrogação.

Na mesma entrevista, não sei se por desconhecimento ou por querer se fazer de vítima, diz "não ser bandido pra receber intimação judicial". Um intimação nada mais é do que a comunicação de um ato processual. E figurar em processo judicial é algo a que todo e qualquer cidadão está sujeito. No caso, o jogador figura no pólo passivo porque em um momento decidiu não negociar mais sua renovação, contrariando os interesses do Clube. Nada mais.

O que ficou provado com essa discussão toda é que o Atlético, sem Dagoberto, continuou sendo o Atlético. Livrou-se praticamente do rebaixamento e brilha na Sulamericana, lotando a Baixada e dando alegrias à torcida. Já Dagoberto, envolvido nesta pendenga, ficou sem treinar, sem jogar e sem encantar ninguém. Agora tem que decidir seu futuro.

O atacante pode volta a negociar com o Atlético, retornar aos gramados e tentar se reconciliar com a torcida. Pode contar com a habilidade negocial de Petraglia para vendê-lo para o exterior (vale lembrar do êxito com Kleberson, Lucas e diversos outros). Ou, ao invés disso, pode optar por continuar com comportamentos escusos, para esperar que, em março, algum clube brasileiro se disponha a investir R$ 5,4 milhões à vista, em cash, para comprar um jogador "bad boy" que nem está atuando, e cuja última série de atuações boas foi em 2004 - o que me parece um tanto quanto ilusório. Fosse assim, o São Paulo, o Santos ou o Corinthians teriam contratado o jogador consensualmente ainda este ano.

Se optar por este último plano, e ele não der certo, vai ter que esperar ainda mais um ano, para enfim perder seu vínculo com o Atlético e procurar outro Clube. Terá então 25 anos, não será mais nenhum menino, e terá desperdiçado (mais alguns) preciosos anos de sua carreira. E o Atlético continuará inteiro, crescente, quem quer que esteja jogando em seu ataque.


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