Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Na goela da imprensa

16/10/2006


O empate em dois tentos com o Atlético Paranaense foi comemorado com entusiasmo, não só pela torcida porca, mas também pela imprensa de São Paulo. As principais manchetes paulistas exaltavam a raça do time palestrino, que arrancou heroicamente um empate do Atlético em seus próprios domínios.

Isto mostra um direcionamento diametralmente oposto ao da imprensa paranaense, que, por hábito, espinafraria o Atlético na situação inversa, como fez e faz em diversas vezes. Se há algum protecionismo de seu autofagismo contumaz, seria em relação ao decadente time turmalino da capital paranaense, aquele de grafia anglo-saxônica. Mas voltemos aos times da Série A. Quando vejo abordagens como as da imprensa paulista sobre os "feitos" dos seus times, percebo que o que eles fazem é também um trabalho pró-classe. Não o julgo correto. Em teoria, o jornalismo teria que ser por essência, imparcial. Mas quem é ingênuo o bastante para acreditar em "imparcialidade" da imprensa? No jornalismo esportivo, então, a parcialidade fica exacerbada, pois é onde as paixões são da mesma forma infladas. E a imprensa bandeirante trabalha em bloco e apaixonadamente a favor de seus clubes. Claro, vivendo bem seus clubes, melhor vivem aqueles que co-existem, nisto inclui-se a imprensa esportiva.

Bastou o Atlético Paranaense tornar-se o único representante brasileiro na Copa Nissan Sulamericana, que uma porção de bobagens puderam ser ouvidas na mídia oriunda do estado mais rico da nação. Começaram a desprezar a Copa, o que não aconteceria se seus times tivessem permanecido. O fraco e de poucas luzes jornalista Flávio Prado, da Gazeta Esportiva, com ódio e ressentimento nas palavras, disse que nas quartas de final da Sulamericana só sobrou a "raspa do tacho" do futebol do continente. Na CBN, ouvi um energúmeno dizer que a Copa Nissan era uma chance de "internacionalização" do Atlético, coisa que Santos, Corinthians e Fluminense já tinham. O Santos, tudo bem, mas Corinthians e principalmente Fluminense times internacionais? O Corinthians nunca passou da semifinal em Libertadores e tem um título mundial fictício e o Fluminense pouco avança os limites da Guanabara há décadas, sem falar nos acessos artificiais que o trouxeram de volta a elite do futebol nacional.

Eu poderia citar outros exemplos das grandes bobagens que venho lendo e escutando sobre este assunto, mas o que fica é que a principal maneira dos paulistas exaltarem as suas coisas, é diminuindo as conquistas e feitos de gente de fora do seu estado e bem a sua maneira: com desinformação, ódio e muita falta de classe. A maneira de se expressar dos paulistas é tosca e usa o seu poder de alcance para doutrinar como um rolo compressor as mentes com menos senso crítico. A maneira como os paulistas se referem ao resto do Brasil é com ar de superioridade, como se fossem suíços cercados por gente da África sub-saahariana. Mas até aí tudo bem, cada um usa o seu poder como quer. Mas triste é ver que a maioria da imprensa paranaense, não consegue sair do esquema lanchinho-no-CT-jantar-no-Madalosso. Não consegue exercer um senso crítico que não seja o de diminuir aquilo que sua terra tem de melhor e, no caso, o melhor nos últimos anos vem sendo sempre o Atlético. Sem o Atlético, o povo da latinha e das tintas não faria excursões por toda América para cobrir o melhor do futebol paranaense no México, Peru, Equador, Bolívia, Colômbia, Paraguai, Uruguai e Argentina.

Antes do primeiro jogo contra o River Plate, a Gazeta do Povo gastou mais tempo falando do "desconhecimento" dos argentinos em relação ao Atlético Paranaense, o famoso "El Paranaense", do que das possibilidades do jogo em si. Não se furtou em repetir a cada linha que o River jogaria com o time "reserva", mesmo sendo esta uma informação, parcialmente certa, porque o time do River era parcialmente reserva. Nos segundos tempos das duas partidas, o time do River jogou completo, incusive com o craque Higuaín arrepiando pra cima da nossa defesa. E um time do naipe do River, nunca tem jogadores que se possam considerar reservas. Creio que, na hipotética e remota, para não dizer impossível, chance do Coritiba "Foot Ball Club" enfrentar o River, a abordagem seria diferente. Mas é uma pena para a majoritária parte verde da imprensa paranaense, que o CFC está mais perto do River do Piauí, do que do grande River da Argentina.

A grande resposta a todo o mar de estupidez que o grande avanço do Atlético nas competições internacionais faz algumas pessoas do Paraná e de outros estados dizerem, é o título da Copa Nissan Sulamericana. Isto aumentaria ainda mais o desconforto de pessoas que não conseguem engolir o sucesso do Atlético, um clube que sempre surpreende e avança. Mas para a galera atleticana esta evolução já era mais do que esperada, pois só nós sabemos realmente do que o Atlético é capaz. Um clube que sempre renasce e ganha forças todo o dia. Este título é muito importante para todos nós e ele virá se assim acreditarmos. Temos amplas condições de trazer este título internacional para nosso estado, que seria o primeiro internacional de um time paranaense e o primeiro de um clube brasileiro na Sulamericana. A mensagem é bem clara e o recado da torcida atleticana é um só: nunca subestimem "El Paranaense".


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