Eduardo Aguiar

Eduardo Aguiar, 51 anos, é jornalista e filho de um coxa-branca (ainda bem que existe a Teoria de Darwin, sobre a Evolução das Espécies!). Foi colunista da Furacao.com entre 2002 e 2006.

 

 

Vergonha

18/10/2002


Esta coluna deveria ter sido escrita logo após a partida contra a Ponte Preta. Já se passaram alguns dias, mas o sentimento continua o mesmo. Além do mais, de cabeça mais fria evito fazer análises passionais. Aquela quarta-feira será inesquecível para mim. Pela primeira vez na Baixada eu fiquei envergonhado. Sofri silenciosamente, e aos poucos a vergonha foi se transformando em resignação.

O problema é que, por pior que o time estivesse em campo, não foram os jogadores ­ que pareciam um amontoado sem tesão de jogar bola ­ ou o técnico ­ que graças a Deus já foi embora ­ que me causaram esse sentimento. A vergonha que senti, pasmo, boquiaberto, foi desencadeada pela própria torcida rubro-negra.

Há algum tempo o povo atleticano não é mais o mesmo. A velha Nação, que sempre estava ao lado do time, por mais fracos ­ às vezes até bizarros ­ que fossem os jogadores.

Tenho visto os jogos do Atlético no "retão", embaixo das cadeiras. A cada jogo a tortura aumenta. Os jogadores ­ muitos deles promessas, como o Dagoberto ­ são xingados antes mesmo de tocar na bola. Começa o jogo, começam as críticas.

Mas a gota d¹água foi contra a Ponte. Quando os pseudo-torcedores aplaudiram e vibraram com o gol do Macedo, me vi, por um momento, rodeado de "coxas".

Quem costuma fazer isso não é a nossa torcida; é a "deles". Quem causa um clima desfavorável dentro da própria casa não somos nós; são "eles".

Há algum tempo eu critiquei duramente nossas torcidas organizadas - na época estavam brigando entre si, etc. Mas, hoje, Os Fanáticos são os únicos que podem ­ como já estão fazendo ­ criticar ou cobrar alguma coisa dos jogadores. Porque eles estavam gritando "ATLÉTICO" durante todo o jogo, incentivando até o apito final. Enquanto a bola rola, estão ajudando o time.

Depois, podem cobrar o quanto quiserem.

Aliás, essa será minha primeira providência: a partir da próxima partida eu abandono o retão. Vou assistir do lado dos Fanáticos; quem sabe assim meus ouvidos serão poupados de tanta abobrinha.

Lembro da reportagem da Placar sobre a final do Brasileirão, contra o São Caetano: "A torcida é que ganhou o jogo"; "O mais argentino dos estádios brasileiros" eram alguns dos trechos da matéria. Nosso belo estádio ultimamente não está mais merecendo nossa torcida reclamona. Que de "argentina", está cada vez mais "coxa".

* * *

Não sou o fã número 1 do Abel Braga. Mas uma coisa é evidente: mexer com os brios dos jogadores, motivar a equipe e botar a turma para correr é sua especialidade. Se ele for confirmado mesmo, podemos nos classificar. Isso se a torcida colaborar. Temos cinco jogos em casa. O momento é de união.


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