Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Compromisso

05/09/2006


A melhor torcida organizada do Brasil atualmente é a Os Fanáticos. Não falo isso pela empolgação e vibração que a caracterizam. Mas simplesmente porque ela oferece hoje uma alternativa perante a extinção das organizadas em geral no Brasil. Um dia elas irão acabar se continuarem a seguir o caminho usual de luta, confronto e afronta. A Fanáticos mostra que é possível uma torcida se adaptar aos novos tempos de modernidade do Atlético e às regras de uma sociedade que está tentando se organizar e ter leis.

Tinha que ser em Curitiba e tinha que ser no Atlético o exemplo. Me surpreenderia se viesse de alguma torcida e de algum clube de São Paulo, por exemplo, onde os clubes estão entregues às vontades de gangues organizadas e a sociedade à mercê de marginais travestidos de torcedores, que matam e ferem livremente. Torcida organizada não pode formar um poder paralelo de pressão e intimidação. Achar que a torcida deve ter este tipo de poder é endossar um raciocínio tosco, baseado na mesma permissividade que fez com que grupo de bandidos crescesse a ponto de intimidar o estado da São Paulo e o Brasil e hoje pratica terrorismo, explode bancos, queima ônibus e mata pessoas de maneira livre. Tudo porque se deixou que as coisas chegassem a esse ponto. É a cultura da violência arraigada na sociedade brasileira.

Por incrível que pareça, a atitude louvável da "TOF", como muitos a chamam, de apoiar o clube incondicionalmente e continuar a cantar mesmo com o time tomando 5 gols no lombo, foi duramente criticada por algumas pessoas. Andam dizendo que "a TOF se vendeu". Não, ela uniu forças em prol do Atlético. Mas alguns acham que ela tem que proferir xingamentos ao time, aos jogadores e à diretoria. Acham que este é o papel. Só que este papel pode ser prejudicial, pois raiva e frustração são sentimentos que são facilmente levados para o lado da irracionalidade, é difícil controlá-los individualmente, imagine em grupo. A raiva é contagiante e cresce com facilidade na massa e nem todo mundo tem bom senso de segurá-la para não prejudicar o Atlético. E aí é copo de cerveja dentro de campo, invasão de gramado, quebra de cadeiras e de banheiros, coisas que só prejudicam o Atlético e muito já aconteceram na belíssima Kyocera Arena, que deveria ser um lugar de nosso extremo zelo.

Diretoria do clube e torcidas organizadas hoje são parceiros e lutam por uma mesma causa, o Atlético. Cada um fazendo a sua parte, um administrando e o outro promovendo o sentimento de atleticanismo em forma de músicas e festa. Estes são os papéis de cada um. A diretoria, por exemplo, tem que tomar decisões, que algumas vezes não dão certo como muitas este ano e outras que são bem sucedidas, como a maioria delas nestes últimos onze anos. É o ônus do cargo, as pessoas estão lá para fazer exatamente isso, só erra e só acerta quem está lá. Mas, há o lado bom dessa história toda. A torcida e os comandantes do clube sentaram para conversar, na mesma mesa, e se entenderam, como gente civilizada. Mas, tem gente que quer que se conquiste as coisas na base da intimidação. Um raciocínio ao nível de um australopitecus.

Aplaudo a Fanáticos, a mais vibrante torcida que há, agora em consonância com valores importantes como entendimento, respeito, paz, alegria e parceria, valores que são a base para a construção de uma sociedade melhor. Aplaudo a diretoria e o Mauro Holzmann, pela aproximação e pela criação de alternativas simples, mas que melhoram e muito o ambiente do clube. O Atlético será sempre grande e melhor que os demais se a gente continuar a buscar a inovação e aliá-la ao coração. Inovamos mais uma vez e ultrapassamos a todos transformando uma relação que parecia que nunca daria certo em uma extremamente profícua. Baseada na cooperação, na união de objetivos e principalmente no respeito ao compromisso firmado. Quando homens de caráter sentam a uma mesa e firmam compromissos, os honram com se essa fosse a coisa mais importante de suas vidas. Ver a torcida apoiando o time num momento tão difícil como o de domingo, foi muito bonito. São pessoas que sabem honrar suas palavras e a camisa que vestem.

Ficam no passado os modelos de torcida organizada como as outras do Brasil, nasce um modelo que deixa de lado a valentia, a irracionalidade e ímpetos pré-adolescentes e que opta pelo crescimento baseado no amor incondicional ao clube. Espero não me decepcionar. Agora, da mesma forma que ganharam espaço, aumentou e muito a sua responsabilidade. Ia ser triste, depois de vislumbrar um novo tempo entre as torcidas organizadas, voltar a pensar que não fazem falta nenhuma. Ia ser triste voltar a ver o povo xingando nosso Atlético da maneira vil e escatológica como fizeram a pouco tempo atrás, ou desrespeitando novamente de maneira chula o Petraglia, mentor da grande virada atleticana. Torcidas organizadas como as nossas são atualmente fazem falta no país. Como são as outras, não precisam nem existir.


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