Sergio Surugi

Sergio Surugi de Siqueira, 66 anos, é Atleticano desde que nasceu. Neto de um dos fundadores, filho de um ex-presidente do Atlético, pai e avô de Atleticanos apaixonados, é doutor em Fisiologia e professor. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Um edifício chamado fracasso

05/09/2006


Não quero tumultuar o ambiente, nem acreditar que estamos condenados ao pior dos mundos, mas ao contrário da maioria dos meus colegas comentaristas, de alguns jogadores e até do nosso técnico, tenho que dizer que não considero o resultado de 5x0, contra o Botafogo, um acidente. Os fracassos nunca são obra do acaso, eles são cuidadosamente produzidos e construídos, pedacinho por pedacinho. O de domingo começou a ser planejado na escalação dos titulares absolutos (Vadão teria se inspirado em Parreira?) Alan Bahia e Ferreira. Com isso o time perdeu a inédita (no ano) velocidade mostrada no jogo contra o Santos, apenas quatro dias antes. O edifício passou a ser erigido com a falha do inseguro goleiro Cléber, que tem um futuro enorme e já mostra que será um arqueiro de primeiríssima linha, mas no momento não consegue me convencer e pior, tenho o palpite que não convence também aos nossos zagueiros. A construção do desastre foi seguindo com a expulsão justa do Cristian e logo com o Vadão contrariando uma praxe tão antiga como a que ele respeitou ao manter os "titulares" que estão mal, ou seja, a de sacrificar um ala (antes era um ponta) para reforçar a marcação, quando se perde por expulsão um zagueiro ou um meia. Vadão não fez o óbvio e até a ficha cair, passaram-se "só" três golzinhos. Para consolidar o vexame, as substituições no vestiário, em dose tripla, trocando seis por meia-dúzia, exceto no caso da saída de Marcos Aurélio, autor do único arremate a gol até então, para a entrada do já provado e reprovado William.

O acabamento final da obra foi estarrecedor. Um time sendo humilhado no seu próprio estádio, diante de sua torcida e jogando como se estivesse ganhando. Sem brio e sem vergonha de dar toquinhos para trás.

Não estou mais tão otimista, principalmente porque esperava uma atitude mais indignada de nossos diretores. Como ela aparentemente não veio, manifesto a minha inquietação, certo de que represento boa parte da torcida do Atlético.

Como já escrevi no início, não quero tumultuar e muito menos quero ser injusto. Ainda confio nos comandantes do Atlético e tenho alguma esperança de que aqueles que vem errando ou se omitindo de maneira contumaz, serão punidos. Quem sabe até as providências já tenham sido tomadas por trás do que se divulga no site oficial e por causa disso, pouca gente saiba, mas eu, um simples torcedor, já não me sinto confortável com o silêncio. Entendo que negligenciar nesse momento não é ajudar ao meu tão querido Atlético. É colocar mais um tijolinho na construção deste horroroso edifício chamado fracasso.


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