Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Chuva de granizo

04/09/2006


A chuva de gols sofrida pelo Atlético em plena Kyocera Arena foi algo atípico. Parecia um episódio da série "O Desastre Perfeito", do Discovery Channel, que conta como grandes tragédias podem acontecer se as condições forem propícias; se, em um determinado momento, uma série de fatores fossem convergindo e dessa combinação ímpar nascesse um desastre sem precedentes.

O jogo era parelho, de duas equipes parelhas, com o mesmo número de pontos e na mesma situação pouco confortável no campeonato, mas que, com uma vitória, subiriam para um bom patamar. Uma delas, o Botafogo, mostrava um pouco mais de disposição. Até que, numa falta, que pra mim não houve, o Botafogo faz o primeiro após uma falha incomum do goleiraço Cléber. O nosso time ficou inseguro, vendo um goleiro que ainda não falhara, falhar tão bizarramente, e também afobado, se atirando ao ataque como se tivesse que empatar no minuto seguinte ou morreriam. Pareciam que estavam tentando salvar suas vidas numa enchente.

Do outro lado, tinha um time que tocou bem a bola, mostrou-se aguerrido como o Atlético vinha sendo nos quatro jogos anteriores e contou com um jogador em tarde especialmente inspirada, o lépido e bom Zé Roberto. Além dele, Reinaldo sempre bem posicionado no ataque e Ruy, deitando e rolando em cima do Ivan, pesaram a balança pro lado do Botafogo. O Atlético começou a fazer muitas faltas, e numa delas, o ponto de equilíbrio do meio campo Atleticano, Cristian, puxando de maneira inconseqüente, na lateral de campo, bem longe de qualquer perigo para a meta de Cléber, a camisa do atleta botafoguense, foi expulso pelo segundo amarelo.

A partir daí, foi mais um, mais dois mais três, mais quatro. A maior goleada da história da Arena, que eu me lembre. Uma péssima tarde para vários atletas, não cabe apontar para um ou outro, tudo, deu errado. Além do árbitro que parava o jogo por qualquer coisinha, qualquer pumzinho era falta. O Vadão, com medo, voltou para o segundo tempo mais tentando evitar tomar gols do que pensando em fazê-los. Mas entende-se, já que o dia estava esquisito. E ainda mais com o Ivan, que já é inseguro, sendo vaiado a qualquer toque na bola. Mas acho que a torcida também entendeu que a derrota de ontem foi atípica e cantou e apoiou mais do que protestou. Uma goleada sui-generis, que não veio quando o Atlético vinha mostrando um mau futebol e colecionando derrotas e apresentações abaixo da crítica, mas apareceu no momento em que todos confiavam mais no time e tinham certeza que a gente ia entrar em campo para levar os três pontos.

A gente sabe que o time do Atlético tem limitações e um time assim precisa sempre se superar e mostrar garra sempre. Ontem o Atlético não foi assim e perdeu. Mas não é um mau time e tudo o que devemos fazer é continuar apoiando e não esmorecer, porque no próximo compromisso pelo Campeonato Brasileiro vem o Inter, um time que sabemos ganhar no Beira-Rio. E na quarta, pegamos o Paranazinho, mais "inho" do que nunca, o cavalinho paraguaio amado pela imprensa esportiva paranaense, que parece que torce pelo time vileiro por dó. O pega é pela Sulamericana e os times, ao contrario do que alardeavam, são bem iguais, com uma vantagem para o Atlético, que esté num melhor momento e tem uma torcida maior do que duas Kombi.

Temos que vencer e manter o foco, a pegada e a força que tem dado orgulho ao povo atleticano. É um campeonato importante, que dá moral e que dá para ganhar. Não vamos entrar na onda dessa gente das tintas de papel jornal que parece que vibra com nosso insucesso e que credita a decadência do Paranazinho aos erros de arbitragem. Vamos esquecer momentaneamente o Brasileirão para mostrar quem manda nesse estado na quarta. Temos que continuar acreditando na nossa rapaziada e esquecer a chuva de domingo. A tempestade de ontem já era. Foi algo inesperado e atípico, como uma forte chuva de granizo. Agora, é consertar o telhado e seguir em frente.


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