Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 45 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

Dá pra escapar?

17/08/2006


O Atlético já mostrou que, pelo time que tem, é sério candidato ao rebaixamento. Inclusive, adentramos a zona de rebaixamento ontem. A diretoria também não ensaia a busca de reforços, e quando chegar o dia 31 de agosto, não poderá ser contratado mais nenhum jogador para o Brasileiro. Pode ser a sentença de morte para o Atlético.

Bom, se o Atlético não se ajuda, será que os adversários na briga pelo rebaixamento ajudam? Muita gente diz que tem times piores que o nosso neste Brasileirão. Eu também achava isso no comecinho do campeonato. A coisa foi complicando quando estes times que eu achava piores que o nosso começaram a vencer o Atlético, alguns com facilidade. Vamos analisá-los.

Times como Grêmio e Vasco, que antes eram vistos como concorrentes, já estão distantes, na parte de cima na tabela. Inclusive, ambos nos venceram com facilidade. Os tradicionais Corinthians e Flamengo, embora rondem a zona de rebaixamento, também não me convencem de que podem cair. O Corinthians por ter um elenco forte, e por ter contratado Émerson Leão, que certamente levará o time para cima. E o Flamengo porque, apesar de ter um time nivelado com o nosso (ganhamos na Baixada com dificuldade, tendo em Cléber o melhor em campo), sempre que precisa conta com a ajudinha da arbitragem para escapar. Podem ter certeza que Wilson de Souza Mendonça vai apitar alguns jogos do rubro-negro carioca.

Sobraram aqueles do rabo da tabela mesmo: Ponte Preta, Botafogo, Fortaleza e Santa Cruz. O tricolor pernambucano parece realmente ter maiores limitações, dificilmente escapa da degola - e aí uma constatação assustadora: o Santa está apenas 1 ponto atrás do Atlético. Fortaleza também vem tropeçando bastante, mas ontem venceu um importante jogo fora de casa - ademais, não podemos esquecer que, dentro da Baixada, e com um jogador a mais, não conseguimos vencer os cearenses.

Sobraram ainda o Botafogo, com uma campanha tortuosa, e a Ponte Preta que também está dando mostras de que é candidata a frequentar a segundona no ano que vem.

Portanto, provavelmente nossos concorrentes são (apenas) quatro: Fortaleza, Santa Cruz, Botafogo e Ponte Preta. O que assusta: se um destes times se ajeitar e começar a vencer, sobra para nós. É claro que poderia ser o Atlético este time a se ajeitar e começar a vencer. Mas pelo rendimento que temos visto em campo, e pela tradição da diretoria em não trazer reforços caros (ou seja, que resolvam), sabemos que é bem dificil isto ocorrer.

Histórico

Outra coisa a se analisar diante do risco de rebaixamento é o histórico. Em 2003 e 2005, o Atlético também ensaiou o rebaixamento, e acabou escapando. Será, contudo, que a comparação dos times procede?

Em 2003, com Vadão no comando, o Atlético também definhava. Mário Sérgio foi o homem que acabou extraindo um pouco mais do time. Vale lembrar, contudo, que tínhamos um craque naquele elenco: Adriano. Além de Ilan e Alex Mineiro, infinitamente melhores que nossos atuais atacantes. E outra: tínhamos Dagoberto a fim de jogo.

Dizem também que nosso time de 2006 é pouca coisa melhor que o do ano passado, vice-campeão da Libertadores. Primeira observação minha: aquele time não era nenhuma maravilha. A primeira fase da Libertadores foi bastante complicada, e não fosse o gol de "De Vaca", do eliminado Libertad, contra o América na última rodada, sequer chegaríamos nas oitavas-de-final.

Nas outras fases, e aqui vai minha segunda observação, brilharam exatamente jogadores que não estão mais no elenco: Lima e Aloísio. Quanto ao Brasileiro de 2005, a arrancada que deixou o Atlético em 6º lugar ao final da competição não pode ser dissociada das atuações de Dagoberto na reta de chegada. E se tem algo de que eu já me convenci, é que Dagoberto com a camisa do Atlético não existe mais.

Em relação a 2005, não temos mais Lima, Aloísio e Dagoberto, além de Marcão e Fernandinho. Acho que é simples perceber o quanto este time de 2006 é mais fraco em relação ao de 2005.

Segundona

O que me espanta é o fato de alguns atleticanos trataram a segundona como se fosse uma coisa "não tão ruim assim, que ninguém vai deixar de ser atleticano". Ora, é claro que não vamos abandonar o Clube. Se os coxas não abandonaram, não seríamos nós a fazê-lo. Mas a questão é: por quê deixar o Atlético cair?

Em 98, o Atlético fez um péssimo brasileiro e chegou a ser cotado pra cair. Porém, entendíamos a situação, pois o Clube estava empenhado na construção da Arena e não dispunha de recursos para investir no time. Tudo bem. Mas e atualmente? Atualmente que temos patrimônio, que temos recursos (vendas milionárias de Jadson e Fernandinho), qual o motivo para deixar o time nesta situação lamentável e se conformar com um possível rebaixamento?

Eu gostaria muito de ajudar o Atlético. Mas a verdade é que neste momento, a minha ajuda não basta ao Atlético. O Atlético é que precisa SE ajudar. Eu vou à Baixada torcer, de qualquer jeito. Só temo que isto de nada adiante. E não me venham tachar isto de pessimismo. Isto é uma preocupação (amplamente fundamentada) com a minha paixão, só isto.


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.