Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 45 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

Os atleticanos

10/08/2006


Novamente, entrou em enfoque, nas últimas colunas deste e de outros sites, e nas conversas entre atleticanos, a postura dos torcedores em relação ao Clube. Postura de uma forma geral - como encaram as perspectivas do Atlético e como reagem diante das fases que o Rubro-Negro atravessa.

Desde que freqüentei a lista de discussões do Atlético, ainda nos anos 90, existiam dois pólos, com os rótulos mais variados. Lembro de antigos colunistas do site que costumavam criticar sempre o trabalho da diretoria atleticana. De outro lado, havia os que viam no presidente Petraglia uma espécie de Deus, alguém intocável e impassível de qualquer crítica.

Natural que haja este tipo de dicotomia. Mas há um problema intrínseco a ela. Muitos que assumem uma posição inicial acabam assumindo um compromisso com ela, e tornam-se incapazes de reconhecer razão do outro lado. Gera-se, aí, um extremismo e, em primeiro momento empobrece-se o debate, e acaba-se prejudicando o próprio Atlético.

Muita gente mudou de lado, outros se mantêm fiéis a seus pensamentos da década passada quanto à nossa diretoria. E eis que em 2006, numa fase ruim do Atlético, o assunto acaba vindo à tona. Nesta semana, o amigo Juarez Villela escreveu um texto corajoso, admitindo estar perdendo o encanto com o Atlético. Admitir isto em um site voltado aos atleticanos é perigoso. É como o sujeito, em uma mesa de bar, admitir uma broxada - é algo que lhe expõe diante dos demais. Tal coluna foi comentada, no Fórum Furacao.com, por Helton Gabardo, inteligente colunista do RubroNegro.net, que, embora reconhecendo a fase ruim atleticana, contesta a perda do "tesão" em torcer pelo time. Finalmente, o colega Juliano Ribas, num texto bastante qualificado, criticou a turma dos pessimistas, que se auto-intitulam "realistas". Sem falar que, nas últimas semanas, vimos tendo debates de altíssima qualidade no e-mail interno da Furacao.com, com a presença dos também amigos Marcel Costa e Rogério Andrade.

Vejo razão, em parte, para todos. Por isso, talvez, nunca consegui assumir uma postura radical em relação à diretoria. No fim dos anos 90, defendia fortemente a administração, apesar de muitos, à época, pregarem que o Clube não emplacaria definitivamente em âmbito nacional. Depois, vieram as atitudes chamadas "elitistas", e passei a ver com grandes reservas o pensamento da turma do Petraglia. E, nos últimos anos, tenho discordado mais do que concordado com as decisões tomadas por eles.

O assunto que estou abordando é quase filosofia. Perspectivas, forma de encarar a vida (o Atlético). Por isso peço desculpas pela extensão da coluna. E vou defender, como um bom argumentador deve fazer, o meu ponto de vista. Ponto de vista que está mais próximo do ostentado pelo Juarez e pelo Marcel. Para mim, um mero colunista, o Atlético de 2006 trilha um caminho errado.

O torcedor está cada vez mais distante do Clube, e isso não é retórica do Juarez, não. Ingresso caro, imprensa fora do CT, isto é só a ponta do iceberg. Hoje, o que afasta mais o torcedor do Atlético é a falta de ídolos. A política pecuarista, de comprar jogadores em quantidade, lucrar com negociações, não nos permite ter uma identificação com jogadores (de qualidade). Os jogadores que se destacam têm saído cada vez mais rápido, o Clube enche os cofres e a vida segue, com cada vez mais investimento em patrimônio e só. Que há reflexos destes investimentos a longo prazo, não há dúvidas. Mas nós estamos carentes de movimentação no futebol, que é o que verdadeiramente nos motiva. Ninguém vai comprar o pacote pra assistir a piscina do CT, o hotel novo para os coreanos. Queremos abrir os jornais e ver que o Atlético contratou jogadores bons, que vai brigar por títulos ou pelo menos que quer brigar por títulos. É esta alegria que está faltando, deixando um vazio em nosso peito.

Concordo que a aposta em desconhecidos ou desacreditados às vezes dá certo, e aí o lucro é alto. Mas lucro só não basta, nós torcedores precisamos também de outro tipo de alegria. Esta passividade da diretoria em relação ao time é preocupante. E também não concordo com a passividade que alguns colegas torcedores mostram. Não foi o próprio Petraglia que nos ensinou que é preciso ambicionar, lutar, questionar? Quando, segundo o mito, o Atlético levava de 5 a 1 dos coxas e a torcida cantava o hino, o comportamento do atual presidente foi de inconformismo. "Mudar de vez", como diria Fernando Vanucci. E a torcida foi no embalo dele, ao invés de achar que o Clube estava bem, tinha voltado ao Joaquim Américo e havia quase subido para a primeira divisão em 1994 (não fosse um jogo roubado contra o Juventude, na Baixada e outro em Caxias).

É por isto que eu questiono. Que o Juarez questiona. Que o Marcel está questionando. E isto não é um negativismo, um pessimismo mórbido, é simplesmente ver que o Atlético não está num caminho legal. E ver a nossa paixão num caminho ruim é de chatear pra valer qualquer um. Por isso nossos alertas. Porque queremos que as coisas mudem, só por isto. Claro que há exagero da parte do Juarez quando se diz desencantado por completo. Ele ainda se arrepia de olhar a camisa atleticana, e em qualquer jogo mais disputado vai ter o coração batendo alucinado, como todos nós. Mas que há uma desilusão, uma broxada mesmo do torcedor com a atual postura do Clube, isto é fato.

Vou ficando por aqui e propondo reflexões. Para mim foi legal escrever este texto, ao longo dele refleti muito. E espero que tenha valido em alguma coisa para quem me acompanhou até aqui. Este é o sentimento de um atleticano que estará sempre apaixonado pelo Furacão, e que espera que nossos diretores mudem alguns conceitos, que o Atlético volte a trilhar um caminho que nos encante mais. Se, para isto, precise mudar os dirigentes, que mude. O meu amor é pelo Atlético.


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