Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Os realistas

09/08/2006


A quantidade de sujeitos auto-intitulados realistas é impressionante. Eles se multiplicam a cada fase difícil do time. Com a bandeira da razão nas mãos, saem rotulando a tudo e a todos. Se você pensa de uma forma diferente, vê luz no caminho, é imediatamente taxado de otimista, iludido, desinformado, perdido, et cetera. Não estou generalizando, mas alguns fazem exatamente isso.

São sujeitos interessantes. Se erram seus negros prognósticos de futuro, têm sempre na ponta da língua a razão para que as coisas tenham dado certo: sorte. Eu não sei onde me encaixo. A minha leitura da realidade é feita por um prisma positivo, o que não significa que eu seja um otimista, um iludido. Talvez eu não seja otimista, eu seja positivo. E o positivo consegue enxergar a sua própria realidade sem precisar fazer comparações com histórias de outrem, consegue ver que a realidade do Atlético é singular, pois nosso clube é singular. O positivo tenta captar o que houve de evolução num todo, analisar o presente sem projetar o pior. Eu vi evolução no time com a chegada do Vadão, senti uma melhora de ambiente e por isso acho que é possível uma melhora. Me chamem de otimista iludido por isso, se assim quiserem.

Mas estes caras, os realistas, são os proprietários da verdade. Dizem que pessoas como eu não estão cumprindo seu papel de atleticano se não saírem detonando tudo, criticando de forma pesada. Isto é ser realista? Para mim, ver a realidade é entender que o Atlético não vai, com a chegada do Vadão, disparar como uma locomotiva vencedora de uma hora para outra. Que não iria, em apenas dois jogos, apresentar o futebol que não apresentou o ano inteiro, para satisfazer alguns realistas. Ver a realidade é entender que o time está pegando confiança, que a grande maioria dos elencos no campeonato se equivalem e que a gente pode, sim, crescer. É entender que tivemos e estamos tendo alguns problemas além-campo que atrasaram e muito o nosso lado. É lembrar que nossa história nos dá motivos de sobra para ter fé, acreditar, pensar no melhor. Ver a realidade é entender que posturas extremamente críticas fazem sobressair apenas os erros, em detrimento dos acertos. Eu vejo as coisas assim, me chamem de iludido se quiserem.

O medo-mor de muita gente é a queda à segunda divisão. Principalmente porque os coxas estão lá. Eu não quero ir pra lá, e acho que não iremos. Opinião. Tem outros times para isso. Mas se isto acontecer, não será uma tragédia. Estarei lá com o Atlético como sempre, seja lá quem jogue, seja lá quem dirija. Mas nós não iremos. Mas aí vem alguém e fala: "muitos coxas ficaram se iludindo que não cairiam e veja o que aconteceu". Sei que é difícil não pensar nos coxas, mas eles tinham à frente um dirigente trapalhão, um imitador fanfarrão, de um clube falido. Nós temos Mario Celso Petraglia, o líder de uma grande revolução. Eles tinham uma torcida auto destrutiva, chata, inconveniente, com mania de grandeza. Nós temos uma torcida que levanta até defunto, sempre vibrante, sempre com fé, sempre unida, que não se entrega nunca. Ou será que não temos mais?Nós temos a Kyocera Arena, o estádio mais moderno da América Latina, orgulho Rubro-negro, que, quando bem quisermos, transforma-se no fervente Caldeirão do Diabo.

Temos dois bons reforços que ainda nem estrearam, temos um treinador que conhece o clube, tem o Marcos Aurélio, que fez uma boa estréia. Prefiro ir acompanhando o que irá acontecer antes de sair simplesmente detonando tudo. Infelizmente temos uma laranja podre que estraga o ambiente do clube, mas desta o destino se encarrega. Eu sinceramente não tenho mais nenhum prazer em ver o Dagoberto jogando com a camisa Rubro-negra. Mas aí é outra história. No final dessa semana teremos mais um capítulo nos tribunais e depois disso me manifesto a respeito desse rapaz e da gangue que move seus passos. Mas na realidade, tenho sim motivos para continuar acreditando na volta por cima. Deve ter gente que pensa como eu, deve ter gente que vai me xingar, mas o mundo é feito dessas diferenças.

Com coragem e determinação, vamos vencer os jogos que precisamos vencer. É preciso ter coragem para acreditar. E não tem nada de místico nisso. A história mostra que muitos times quando reencontraram o compromisso com a vitória, a união, aquela força a mais, saíram de posições desconfortáveis. Eu lembro, por exemplo, do Goiás de 2003, que ficou em último até o final do primeiro turno. Um time com atletas até então desconhecidos, que hoje disputam a final da Libertadores deste ano. E o Atlético de 2005, mesmo, que todos achavam que ia para o buraco? Não venham me dizer que o time era melhor e blá-blá-blá. Naquela época os realistas taxavam o time de fracasso, Lima era um coxa-branca desengonçado, Aloísio era um velho que não saía do DM e coisas assim. A leitura da realidade para muitos era o fundo do poço.

Acredito que alguns jogadores possam mostrar mais do que o visto até agora à medida que o time começar a se acertar. O futebol é surpreendente e alguns jogadores despertam do nada. Isto é recorrente na história. Temos que deixar o Vadão, que é um bom profissional, trabalhar, acertar o time. Me chamem do que quiserem. Otimista, iludido, ignorante. Se alguma coisa der errado, descontem em mim, venham me falar que avisaram o tempo todo. Mas se esse time sair dessa, eu não vou falar "eu disse". Vou apenas ficar feliz com este grande e imortal Atlético, um clube que eu sei respeitar seja lá como esteja. E a vida segue.


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