Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Chega de saudade

08/08/2006


”Vai minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser...”


Chega de saudade, letra e música de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, imortalizada na voz de João Gilberto. Lembrei dela, porque o último livro que li, finalizado há uns 10 dias, é “Chega de Saudade – e História e as Histórias da Bossa Nova”, do excelente jornalista e talvez o melhor autor de biografias brasileiro, Ruy Castro.

Não vi o jogo contra o Corinthians. Sequer ouvi a partida e só fui ver os gols na noite de domingo. Não consigo mais me comover com o Atlético, mas sei que é passageiro. No domingo após a vitória suada sobre o frágil Flamengo, com muita transpiração e pouca inspiração, me emocionei, rezei, apertei tanto meu escapulário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro que este quase se partiu. Mas pra tudo na vida existe um limite.

Eu atingi o meu.

Esse Atlético não é o que me apaixonei. Me sinto traído, e olhem, todo mundo é “corno” do time que ama. Ao contrário da mulher amada, daquela que mexe demais contigo, te leva do céu ao inferno em segundos, sempre perdoamos as traições do time do coração. Mas tem um dado momento que não dá mais.

O que era o Clube Atlético Paranaense, já não existe mais. Aquele romantismo bobo, aquilo de encontrar seu ídolo na saída do estádio para pegar um autógrafo, não existe mais. Os jogadores se escondem no CT, mais seguro e cercado que muito presídio Brasil afora, fogem com pressa em seus carrões com vidros escuros e nem dão bola para o torcedor.

O “meu Atlético”, não existe mais.

Mudarei, prometi pra mim e acho que até vai me fazer bem à saúde. Chega de críticas, de reclamar, serei como nossa competente diretoria: inerte, insosso, sem gosto, sem tempero. Fico mal, ranzinza, chato às segundas-feiras por que? Porque um bando de maus profissionais não acertam um passe de 3 metros, um cruzamento em 10 tentativas, um cabeceio tanto ofensivo como defensivo? Por que que tenho que me preocupar, se quem manda, quem contrata parece estar contente? Eu pago para me estressar? Chega.

Perdi o tesão. A paixão não, estaria mentindo se escrevesse isso. Mas não me animo, nem me iludo. Dói. Transformaram o “meu Atlético” nisso aí, uma empresa bem gerenciada, lucrativa e bonita, mas sem conteúdo. Tentarei ser como eles, os que mandam, os que podem. Ficarei inerte, sempre vendo o lado bom, arrumando justificativas pra tudo, pois a culpa sempre é dos outros. Talvez seja mais fácil assim, talvez sofra menos assim.

Vejam as noticias do Atlético e contem quantas dizem respeito ao futebol de verdade. É briga judicial com Herrera, briga nos tribunais para ter Denis Marques, audiência com Aloísio, justiça com Dagoberto. Gosto de futebol, bola na rede, gol, TÍTULOS!

Chega de saudade de um Atlético que não existe mais. Se existe, é apenas dentro de um coração romântico, apaixonado como o meu. No mundo real, esse Atlético já não existe mais.


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