Jones Rossi

Jones Rossi, 46 anos, é repórter do Jornal da Tarde, em São Paulo, e um dos fundadores do blog De Primeira. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2008.

 

 

Tempo de sobra

01/08/2006


Revoltada com a minha última coluna aqui no Furacao.com, parte da torcida do São Paulo mandou centenas de e-mails comentando o texto. Foram mais de seiscentos. A maioria com a educação típica de quem foi criado comendo capim (confirmando a parte em que falo que os invasores do jogo contra o Estudiantes pastaram em campo), alguns com um pouco de educação (0,001%) e outros até concordaram que é uma bagunça comprar ingressos para ver jogos no Morumbi. O que ninguém mesmo fez foi contestar a invasão, assunto principal da coluna.

Sério, ninguém. Falaram da capacidade do Morumbi, defenderam um monte de bobagens, destruíram a língua portuguesa (teve gente que escreveu você com cedilha), xingaram o colunista e mostraram que o analfabetismo funcional que acomete 70% da população brasileira é de 100% entre os bobocas são-paulinos que têm tempo de sobra. Para não generalizar, pode ser que alguém tenha mandado um texto que preste, mas, diferente da massa sem o que fazer que passa o dia inteiro no Orkut, eu não tenho tempo para ler todos os e-mails.

Mesmo assim vou responder em termos gerais. Muita gente escreveu que eu sou invejoso. Como repórter do Jornal da Tarde, mesmo sendo da editoria de Cultura, já cobri o São Paulo em algumas ocasiões, fui a treinos, falei com o presidente Marcelo Portugal Gouvêa, conheci o CT. Muito bom, do mesmo nível do Atlético. O estádio, motivo de tanto orgulho (com razão, pela ousadia de criar um estádio do zero, como o Atlético fez), não é nem de longe comparável à Kyocera Arena. Muitos exaltaram o tamanho do estádio, mas a tendência é a construção de estádios menores, porém confortáveis. Para a cidade de São Paulo até que é um bom tamanho, embora nos jogos do Campeonato Brasileiro dificilmente atinja a metade da capacidade. Quem não concordar com a minha opinião (e nem estou pedindo que concorde) é só pegar a pesquisa de estádios feita pela revista Placar. O Morumbi não é sequer o segundo melhor estádio no País.

Portanto, do que eu teria inveja? Dos títulos? Ora, o São Paulo não sabe o que é ser campeão brasileiro há muito mais tempo que o Atlético. E ganhou a Libertadores daquele jeito. Dos jogadores? Pelo jeito quem tem inveja é o São Paulo. Há vários anos contrata revelações do Atlético e do Goiás (Josué, Grafite, Aloísio, Lima, André Dias, Alex Dias). Não estou afirmando que o São Paulo tenha inveja. Afinal tem a liberdade de contratar quem quiser. Mas não venham me acusar de escrever motivado pela inveja.

Explicitei algo simples no texto, que até os são-paulinos mal-intencionados (os bem-intencionados entenderam o texto) podem entender: torcedores invadiram o campo. Isso é errado e merece punição. Ponto. Qualquer outra especulação em cima do meu texto é isso. Especulação e nada mais. Imagino que muitos são-paulinos tenham desaprovado a invasão, assim como devem ter desaprovado o quebra-quebra na Paulista depois da final da Libertadores ano passado. Se fosse a torcida do Corinthians ou do Palmeiras tenho certeza que fariam coro e também pediriam a mesma punição que agora consideram injusta.

Eu não voltarei ao assunto. Primeiro porque o São Paulo não será punido, embora qualquer um sabe que se o mesmo ocorresse na Kyocera Arena a imprensa paulista não daria folga. E também porque, como já disse George Bernard Shaw, "não se briga com porcos. Eles gostam e você ainda fica sujo."


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