Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

A volta da alma

31/07/2006


A vitória contra o campeão da Copa do Brasil não marcou a volta do futebol intenso, veloz e matador que caracteriza o Atlético. Ainda não. Mais importante do que isso, a vitória com placar mínimo determinou a volta da alma atleticana em campo. Este foi o retorno mais importante.

O Atlético não foi brilhante, mas também a vitória está longe de ser fruto de uma jornada burocrática, de futebol de resultado. Porque foi uma vitória do Atlético como um todo, sublimando os limites do campo de jogo, da tática, das atuações individuais. A instituição Atlético Paranaense venceu, foi sua grandiosidade, sua tradição, sua mística que nos levou à vitória, usando como instrumentos todos os mortais que vergam a camisa Rubro-negra. Um ambiente de vitória foi criado, simplesmente porque esta é a vocação do Atlético, um time que, custe o que custar, tem que triunfar, sempre. Era hora de vencer e vencemos.

Neste capítulo, foi contado o retorno de Oswaldo Alvarez ao seio rubro-negro. E a diferença pôde ser sentida. Os jogadores entenderam a mensagem do Vadão e honraram seus empregos. Jogaram dentro do que o treinador solicitou. Mesmo que tenhamos ficado sem meio campo no primeiro tempo, presos na marcação do Flamengo, no segundo tempo o time jogou mais pelos lados do campo e foi mais perigoso. Cristian, que não jogava uma boa partida desde o ano passado voltou a ter uma atuação convincente e ajudou muito o time na defesa e no ataque. Danilo voltou a ser seguro, André Rocha voltou de contusão, e voltou bem.

O jogador Dagoberto voltou. Sem o garbo de outras épocas, mas estava lá em campo, novamente. Talvez finalmente tenha entendido que para jogar no Atlético talento apenas não basta. Aqui é preciso raça, humildade, respeito, sentir-se uma peça de um todo, não alguém mais importante que os outros. Senti um lampejo de humildade, posso estar enganado, já que este rapaz já nos enganou tantas vezes, mas vi um Dagoberto diferente. Lutou, teve coragem e ajudou o Atlético num dia importante. A reação da torcida foi excelente. Aplausos sim, ovação, não. A torcida deu uma aula a todos os que estavam em campo e a lição foi a de que o Atlético está acima de tudo e de todos. Faça o que o Atlético precisa e terá o respeito e o aplauso. Nada mais, nada menos do que isso.

Falando nisso, o retorno da torcida atleticana como ela é de verdade foi bonito de se ver. Incentivo, presença, alegria, fé na vitória. Vimos que criar este ambiente positivo, esta freqüência contagiante de amor incondicional ao Furacão, pode sim ajudar o time a vencer. O ar parecia estar carregado de atleticanismo. Um atleticanismo que, se exercido da maneira certa, sem auto destruição, sem xingar o time da maneira vil que vinha acontecendo, pode nos levar mais longe. Pode transformar os jogadores em gigantes, pode descobrir escondida em cada um deles a centelha de faz acontecer o melhor de cada um. O time não é uma, desculpem, vou ter que dizer, "uma bosta". E assim que a confiança e o atleticanismo puro e simples voltarem totalmente, ficará provado.

Mas vamos ter calma. Há muito trabalho para o Vadão, ainda. O time não foi tão bem, o adversário não era uma equipe de grande futebol. Algumas coisas precisam ser arrumadas, como a falta de companheirismo explícita em alguns momentos em que um passe para o companheiro poderia ter se transformado em gol. Denis que não tocou para Dagoberto livre, no primeiro tempo. No segundo, Dagoberto, após jogada individual, poderia ter passado para Denis, sem marcação na área. Ferreira que tinha Alan Bahia à sua esquerda entrando livre na área e preferiu chutar e perder o gol. Para o time arrancar de vez, falta só mais solidariedade.

Beira-Rio

Quero fazer um comentário rápido sobre a selvageria ocorrida no estádio Colorado. Cada vez que vejo coisas assim acontecendo, gosto mais da nossa Arena. Arquibancadas de cimento, toscas grades de ferro, falta de cobertura contra chuva para os torcedores, banheiros químicos (!) e a falta de segurança explícita. Aqueles que gostam de usar o Internacional como referência na venda de pacotes para sócios, talvez cheguem à constatação do abismo que separa uma venda de pacotes a trinta dinheiros para jogos no Beira Rio e a venda de pacotes a preços justos na confortável, Kyocera Arena, o estádio mais moderno e seguro da América latina. Não há termos de comparação. As coisas valem o quanto pesam. O Inter consegue fazer pacotes baratos porque a manutenção do Beira Rio não tem o custo de um setor sequer da Kyocera Arena, um estádio com permanente aparência de novo. Estamos a anos luz de distância neste quesito. Poucas coisas marcam tanto o improviso quanto um banheiro químico. Poucas coisas marcam tanto o profissionalismo a modernidade como a Kyocera Arena. Por favor, chega de comparação com os sócios do Inter. São dois mundos diferentes.


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