Fernanda Romagnoli

Fernanda Romagnoli, 51 anos, é atleticana de coração, casada com um atleticano e mãe de dois atleticanos. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Recomeçar de novo, outra vez

23/07/2006


Pleonasmo brabo, eu sei. Entretanto, se considerarmos a história do Atlético nessa temporada de 2006, tal figura de linguagem é pouco para representar essa recorrência de começos na - ou da - mesma história.

Acabamos de passar a 13 ª rodada, e ainda estamos começando. Outro técnico e alguns outros jogadores. Enfim, tudo começando praticamente do zero. “Nunca é tarde para recomeçar”, diz a filosofia de auto-ajuda, mas que bom que estamos recomeçando agora ao invés de ser na 27ª rodada! E vamos torcer para que não recomecemos novamente (pleonasmo, de novo) neste campeonato.

Não se trata de ser comentarista de resultado, mas todos nós já sabíamos que Givanildo não era o cara. Nem ele, nem Lothar, nem Eutrópio. Quanto ao novo, o Vadão, posso recorrer às estatísticas de suas duas passagens anteriores. Ele foi bem na Seletiva, na Libertadores, no Paranaense contra o coxa. Mas ia mal fora de casa, e foi demitido depois de uma derrota para o Vasco. É isso mesmo, o Vasco. Aquele que enfrentamos hoje, fora de casa. E por favor, sem essa de superstição, até porque o homem nem assumiu os trabalhos ainda.

O problema do Atlético não é outro senão liderança. Não exatamente analisando existência ou falta, mas sim do emprego de liderança em todas as suas esferas. Vamos combinar que às vezes ela é confundida com tirania, mas isso é outra história.

Nossa diretoria tem um líder, daqueles em que a gente confia plenamente. Largamos as coisas completamente em suas mãos porque sentimos, ou sentíamos, que ninguém poderá fazer, ou poderia ter feito, coisa melhor com o Atlético. Muitas vezes tentamos retomar algum controle, mas nestas oportunidades, infelizmente o grupo dos coerentes misturou-se com o grupo dos inconseqüentes e descabidos.

E não venham aqueles que freqüentemente me enviam e-mails “educadíssimos” como se eu fosse uma desmemoriada ensandecida querendo acabar com o poder vigente, “depois de tudo que eles fizeram”. Acontece que o fato de admirarmos, confiarmos e respeitarmos alguém não nos faz subservientes a idéias que não concordamos só porque existe tal admiração, confiança e respeito. Desculpem-me o jeito cheer leader de ser, mas eu gostava do líder que entrava no vestiário e botava fogo na galera, mostrava sua paixão, mandava embora na hora jogador que não tinha dado o seu sangue e por aí foi. Sinto falta desse líder.

A liderança que falta em campo pode ser dividida entre várias figuras. A principal delas é a do treinador. É preciso que o jogador olhe para o banco e sinta arrepios quando não faz direito. Só por saber que o treinador está vendo. Quando ele olhar para o banco, deve ter seu olhar devolvido pelo treinador para enfim saber que ele tem de fazer melhor. Isto é instintivo. Não se trata de coação, trata-se de razão. Quem é pai e mãe, sabe o que estou dizendo. Não adianta dar bronquinhas eternamente porque não estamos falando somente de uma relação quase passional, estamos falando de relação de trabalho, de respeito por quem não faz nenhum favor em pagar pelo trabalho destes jogadores. O contrário também vale, só que pagamento tem, o que não está tendo é o resto. Neste caso, adianta “gancho”, reserva e coisas do tipo. Porque jogador que não joga, não é visto e não vai ser bem “passado” porque não tem qualidade. Tem jogado mal? Banco. Tem jogado displicentemente? Banco Tem faltado com respeito com seu patrão? Fora!

Ainda falando de liderança em campo, sinto falta de um cara que bata no peito e chame a responsabilidade. Parece que todos são robôs esperando comando. Não é para ser um líder em campo para os outros jogadores, mas ser líder de si próprio. Eu sei, e vocês sabem, que se o Atlético mantiver esta pegada, estaremos bem próximos de visitar a série B. Vocês também sabem que se isso acontecer, os jogadores continuam no CAP (o que não é difícil hoje em dia) ou vão para outro time. A pergunta é: Se eles querem crescer, para onde preferem ir? Para o “Dezenove de XPTO” ou para um outro time grande como o Atlético? Querem ir para um time que tem uma estrutura danada de ruim, que atrase pagamento? Eu duvido. Saibam, jogadores, que vocês determinam isso no momento em que pisam no gramado para um embate. Então por favor, liderem seus recomeços. Sejam bons profissionais e boa sorte.

Já na torcida, vemos bastante liderança. A chamada liderança invertida, ou liderança negativa. É inadmissível depredar o próprio patrimônio, e isso vai de vandalismo a ofensas pessoais à composição do Atlético. Não quer torcer? Está estressado? Fique em casa. Quer protestar? Não vá aos jogos, e se for não grite o nome do jogador que está lhe tirando do sério, escreva para o “Fala Atleticano”. Qualquer coisa que lhe tire da posição incômoda de parecer anti-atleticano e não um torcedor.

Então gente, perdendo de novo, vamos recomeçar novamente. E que não vire pleonasmo vicioso!


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