Jones Rossi

Jones Rossi, 46 anos, é repórter do Jornal da Tarde, em São Paulo, e um dos fundadores do blog De Primeira. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2008.

 

 

São Paulo em fuga

20/07/2006


A cena foi emblemática. Ontem, logo depois do árbitro apitar o final de São Paulo x Estudiantes, os jogadores do time paulista tiveram que sair correndo de campo com medo dos próprios torcedores que haviam invadido o gramado. Rogério Ceni quase não parou para falar com os repórteres. Quando viu que estava tudo bem voltou se gabando do tamanho da mesma torcida que o pusera para correr momentos antes.

A arrogância dos são-paulinos é justificada. Lideram o campeonato brasileiro, são campeões mundiais e da Libertadores, da qual estão próximos de levantar o caneco novamente, embora este ano seja difícil arranjar nova desculpa para desalojar o adversário de seu estádio. "Não pode entrar no campo assim. Causa problemas. Mas é assim, o torcedor extravasa nas comemorações", amenizou Rogério Ceni, para logo depois se gabar de seu time, que segundo ele "é o único que tem uma torcida que pode encher o Morumbi, e o único time que tem um estádio desse tamanho."

Embora hoje em programas como o Globo Esporte não tenham nem mostrado a torcida, motivo de tanto orgulho para Ceni, pastando no gramado do Morumbi, o goleiro se esquece que a torcida do São Paulo, pelo propalado tamanho que possui, enche o Morumbi umas duas vezes por ano – só em Libertadores e olhe lá. E não adianta ter um grande estádio se o torcedor sempre sofre para freqüentar jogos que levam 10 mil pessoas, imagine 60 mil. Ano passado, no Campeonato Brasileiro, um amigo meu são-paulino teve de voltar para casa pois não conseguiu escapar da bagunça para comprar ingresso num mísero São Paulo x Juventude. Já eu não enfrentei problema nenhum na Arena mesmo chegando a dez minutos de começar o jogo contra o Palmeiras, no qual foram 19 mil pessoas.

Enquanto a Arena foi interditada para receber a final da Libertadores do ano passado, o Morumbi segue livre mesmo tendo instalações precárias. Da sala de imprensa mal se vê o jogo. Na parte destinada ao visitantes também. Além de que não há cadeiras e sim bancos de charrete para o torcedor se sentar. A torcida do River arrancou a madeira e atacou a polícia ano passado.

Podia ter acontecido algo grave, bem como ontem. Os mesmos burocratas que fecham Arenas liberam Morumbis e Pacaembus. Não há problema. Está no regulamento.


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