Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Relação abalada

19/07/2006


Na última vez que você entrou em nossa casa, vestia uma roupa nova, com novo design, uma beleza! Você estava realmente maravilhosa. E eu estava ali, como sempre, ansioso, te esperando, depois de mais de um mês sem te ver. Da última vez que te vi, no dia 4 de junho, demos muita risada, nos divertimos muito, e você parecia estar vendo a vida com outros olhos. A partir dali, devido a fatores que não podemos mudar, marcamos outro encontro para o dia 12 de julho. Nossa, como o tempo demorou para passar!

Quando te vi, foi um momento mágico, fiquei eufórico, exausto de tanta vibração, ainda mais te vendo com um traje todo especial. Por mais que nossa relação esteja misteriosa, e sei que temos que tomar cuidado com o que falamos, estou sempre ali, do teu lado, fielmente respirando o mesmo ar que você respira. Eu realmente sinto muita falta de você. Infelizmente, o dia 12 de julho não nos trouxe alegrias. Trocamos algumas energias, entramos em sintonia em alguns momentos, mas de bom mesmo, fica só o meu entusiasmo e o meu desejo. Eu já nem ligava mais para o novo vestuário, queria mesmo era explodir em felicidade, mas você me provou que ainda não está preparada para me dar grandes alegrias, pelo menos por enquanto.

Tudo bem, tínhamos outro encontro no dia 16 deste mês, dessa vez mais informal, e não era em nossa casa. Mais uma vez meu coração bateu acelerado quando você chegou. Estava de branco, e por um momento achei que aquilo poderia simbolizar a nossa paz. Finalmente a paz poderia chegar. Engraçado, não estávamos em nossa casa, mas você parecia estar mais à vontade. Estava mais alegre, extrovertida, parecia até mais entusiasmada com aquele momento. Ah, e eu estava como um louco! Relembrando os nossos velhos tempos, eu suava em alegria e estava tão eufórico que comecei a conversar até com quem eu não conhecia. Tudo estava tão solto, tão bonito, e mais uma vez eu pensei: puxa, por que não podemos ficar assim em nossa própria casa? Deveríamos nos sentir ainda melhor entre as nossas paredes. Estranho, essa frieza há muito tempo me incomoda.

Mas tudo bem, você estava ali tentando me convencer que podemos ter uma vida melhor, mas nada do que você fez me convenceu, exceto em alguns momentos em que você se mostrou mais esforçada. Você parecia correr atrás de um destino inatingível, pois eu não consegui enxergar em você um mínimo de força ou vontade de planejar o futuro. Tudo para mim ainda era muito incerto, e muitas dúvidas me confundiram ainda mais. Fomos embora novamente, como de costume, cada um para o seu lado, caminhando ao lado de uma tristeza que parece não querer mais nos abandonar. Como é ruim essa nossa distância, essa fraqueza que sentimos e ao mesmo tempo nos deixa inertes, impotentes perante as situações difíceis.

Incrível, às vezes me pergunto por quanto tempo teremos que aprender a conviver com este sofrimento? Mais incrível ainda é que meu amor é realmente verdadeiro e eu não consigo sequer imaginar a minha vida sem você. No próximo final de semana você seguirá viagem, e tenho medo do teu comportamento e da tua volta. Tenho medo que essa viagem seja mais uma ferida em nossas vidas, e não gostaria que você voltasse com dores ou mágoas. Infelizmente não posso ter certeza de nada disso, pois as tuas atitudes não me provam o contrário. Só temo por dias piores, veja só a que ponto chegamos! Desta vez eu estarei aqui, longe de você, apenas torcendo para que nosso futuro não seja trágico.

Caramba, quando dou uma parada para pensar, não consigo me conformar. Passamos o final do ano passado tão bem, estávamos realmente sincronizados. Parecia tudo muito maravilhoso. Fizemos até planos, muitos planos, e você, sem que eu pedisse ou implorasse, me prometeu um ano de 2006 cheio de fantasias, cheio de alegrias, cheio de ilusões. Falou ainda que iria priorizar a nossa felicidade, e que eu seria feliz ao seu lado, pois este seria “o nosso ano.” Que pena, hoje me corta o coração chegar a conclusão que você mentiu pra mim. Eu aqui, desde o início do ano te bajulando, te rasgando elogios, e você, até agora, nada fez por mim. E sempre que eu reclamo, logo tenho que calar a boca, pois você sempre vem com essa de que o que importa é o bem estar, o que importa é que não temos dívidas, o que importa é que todos nos respeitam e nossas aparências são lindas.

E sentimentos, para isso você não liga? Não se importa com o meu sofrimento? Não se importa com essa distância que foi criada entre nós? Este fantasma que nos assusta cada vez que nos encontramos dentro da nossa própria casa? Sinceramente, muitas vezes eu canso de tentar te entender. Você é muito resistente, muito orgulhosa, muito autoritária. Me desculpe os termos utilizados, mas apesar de te amar com todas as minhas forças que ainda existem, não posso deixar de ser sincero e te dizer o que penso sobre as tuas atitudes.

Independente do que acontecer, você, mais do que ninguém, sabe que estarei sempre do teu lado, nos bons e nos maus momentos. Será que isso pode te tornar tão confortável? Se realmente for isso, cuidado, pois eu sou feito de carne e osso, provido de sentimentos, e qualquer hora posso cansar. Não significa que vou deixar de te amar, não, isso não, mas posso deixar de te dar tudo do bom e do melhor e também aprender a conviver com a distância. Juro que é a última coisa que quero no mundo, mas se isso puder salvar a nossa relação, estou disposto a pelo menos tentar.

Por favor, pense bem em tudo o que está nos consumindo, pense bem em todas as coisas que estão a nossa volta. Pense em quanta gente pode sofrer com essa nossa relação abalada. Eu acredito em você, e tenho esperança que dias melhores podem surgir. E isso depende mais de você do que de mim. A minha parte, como sempre, eu continuo fazendo. Eu te amo, e não é pouco o amor que sinto. Por isso te suplico: me respeite, por favor.

** qualquer semelhança com a vida pessoal de algum atleticano, é mera coincidência. Ou não. A analogia foi utilizada para expor o difícil momento do torcedor atleticano, a mágoa, a angústia e a dor que cada coração rubro-negro sente neste momento difícil. Que o Atlético renda-se às situações óbvias, e que nos tire essa dor do peito. Está difícil de viver assim. **


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