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Juliano Ribas
Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.
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Uma implosão à frente
03/07/2006
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Haja dinamite. Se o Brasil quiser mesmo sediar uma Copa do Mundo, tem muito concreto armado para colocar abaixo. Acho pouco provável que nosso paÃs tenha condições de sediar um evento desses, já que não são apenas os estádios que o Brasil tem que melhorar. Mas no quesito estádio, o único que não precisa ser derrubado é a Kyocera Arena. Estamos uma implosão à frente dos demais.
Vendo os estádios da Copa da Alemanha, percebo o tamanho do atraso brasileiro. Em mentalidade, inclusive. Os estádios da Copa privilegiam o conforto e a segurança, em detrimento da capacidade. Lugares marcados, proximidade do gramado, facilidade de evacuação, alta tecnologia para transmissões de imprensa. Isso é colocado como prioridade. Entupir os estádios de gente, em paquidermes monstruosos de cimento, é algo considerado positivo apenas no terceiro mundo, mais precisamente no Brasil. Pessoas sentadas nas escadas de acesso, vários torcedores dividindo o mesmo metro quadrado, assistir apertado sem sequer poder ir ao banheiro, no Brasil é perfeitamente normal, não só normal, como tem gente que diz que este é o "estilo brasileiro". Ou seja, brasileiro gosta mesmo é de tranqueira.
Não, a gente se acostuma com a tranqueira assim como a gente se acostuma com a qualidade. Depois de alguns anos vivendo em outro patamar de estrutura, o atleticano já está plenamente adaptado ao conforto do mais moderno e seguro estádio do paÃs. Quando vai ver jogos em estádios à moda antiga, como Couto Pereira, Morumbi, Beira-rio, Vila Belmiro, Pacaembu, Maracanã, entre outros, o atleticano percebe a colossal diferença e como o nosso estádio vale o quanto se paga. E não só os atleticanos estão percebendo isso. Enquanto a revista Istoé enaltece a qualidade do estádio atleticano, colocando-o como o único em condições de sediar jogos Copa do Mundo, os jornais de São Paulo admitem a deterioração de seus estádios, como o Morumbi, recentemente interditado pelo Contru - órgão que verifica a segurança das edificações em São Paulo - por defeitos na estrutura de concreto, que pode ruir; problemas de eletricidade que podem causar um incêndio a qualquer momento (o que já ocorreu); e falta de saÃdas de emergência apropriadas.
Por incrÃvel que pareça, foi o Morumbi que teve a permissão para sediar a última final de Libertadores, não a Kyocera Arena. A leitura subliminar deste absurdo é: a vida humana não vale nada. Mas, em Copa do Mundo é diferente. Estes conceitos considerados "frescuras" no Brasil, na Kyocera Arena e nos paÃses desenvolvidos são prioridade total. Enquanto aqui no paÃs as gangues organizadas mandam no ambiente dos clubes e promovem a violência em cantorias e atitudes, a Inglaterra acabou com os hooligans de clubes e brigas entre torcidas de times ingleses são hoje tão raras como um dia de sol em Londres. Isto mostra que quando há vontade, é possÃvel fazer. O Atlético fez e continua fazendo, é uma pena que o resto do Brasil não acompanhe. Dentro da Kyocera Arena, valorizamos a vida, o espetáculo, o esporte e a civilidade. Pena que tem gente que ache isto supérfluo.
Se o Brasil quer a Copa de 2014, que comece já a se preparar. Não adianta dar um banho de loja como fizeram no Maracanã. Este deve ser derrubado e que dos escombros nasça algo moderno. Os ingleses não tiveram a menor dó de destruir o velho Wembley para fazer um novo espetacular estádio. Nós não tivemos pena de destruir a pequena e aconchegante Baixada e fizemos o sacrifÃcio de ficar mais dois anos no fétido Pinheirão só para ter a nossa Arena. As pedrinhas que guardo até hoje das ruÃnas da velha Baixada mostram que o atleticano não tem medo de renascer e de se reinventar. Nós colocamos abaixo o passado, mas isto não significa que nós o esquecemos. Ele é a base para continuarmos a construir este Atlético que tanto nos orgulha.
Se formos mesmo sediar a Copa de 2014, as implosões têm que começar. Os estádios vão cair um a um, para darem lugar a algo novo. Com algum patrocÃnio de sei lá quem, não vai faltar dinheiro para isso. Só a Kyocera Arena ficará em pé, nos enchendo de orgulho porque fomos nós mesmos que levantamos a nossa fantástica casa, com nossas mãos, lágrimas, suor, dedicação e fé. Que venha 2007, para a etapa final do nosso sonho: a finalização da Kyocera Arena. Mais uma vez, todos os atleticanos têm um compromisso marcado com sua paixão. Mãos à obra.
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