Fernanda Romagnoli

Fernanda Romagnoli, 51 anos, é atleticana de coração, casada com um atleticano e mãe de dois atleticanos. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Time ou balcão de negócios

02/07/2006


A Copa de 2006 se foi para nós brasileiros, e eu estou aqui um tanto contemplativa. Neste dias de pausa do Campeonato Brasileiro estive distante, quase que como numa tentativa de fuga, uma negação psicológica. Acompanhei os eventos do Atlético durante esta pausa a uma distância de certa forma segura, pois a medida que sabia das coisas, ficava mais assustada com o que estava vendo.

Mas que balcão de ofertas em que meu amado time se transformou !? Me sinto no meio de uma liquidação do tipo: “Só hoje! Laterais e zagueiros a preço de custo!” Dependendo da negociação pode-se levar um volante ou meia atacante se interessar, ou pode me mandar um goleiro “bem experiente” - para não ser mais grosseira em usar outra expressão. Ah! E se a negociação não der certo, pode devolver que a gente aceita.

Sei que o Atlético sempre foi um time formador e negociador de bons profissionais, mas antes, a estratégia era repor com a excelente base formada em casa ou por parceiros. Isto não está acontecendo. O que vemos é que vendemos ou trocamos, enfim, negociamos o “mais ou menos” pelo....estão me faltando adjetivos... “meia-boca”, pelo “muito mais ou menos”! Não há trabalho de longo prazo. Não há formação, não há preocupação com essa falta de traços. Não nos reconhecemos mais!

O resultado disso é tão evidente que, antes, o jogador vinha para nós (ou voltava como é o caso do Michel Bastos) com a intenção de se fazer aqui e ir para o destino de qualquer jogador bem sucedido: outro grande clube brasileiro ou um bom clube estrangeiro. Atualmente, o jogador vem ou volta (como é o caso do Michel Bastos) simplesmente com a intenção de fazer de nós a sua ponte. Indo mais além, essa ações estão refletindo no respeito pelo Atlético – vindo de atletas, cartolas, imprensa e pior, de seus próprios torcedores.

Falando dos Atletas, é possível ver em seus rostos uma certa displicência, uma coisa assim meio “vou fazer o meu trabalho, bater meu ponto e deu!” e em campo isso pode ser visto no seu modo de jogar. Para comprovar o que estou dizendo, pergunto: Há quanto tempo você, torcedor que vai ao estádio, não vibra, não se empolga de verdade? Há quanto tempo você não vê no rosto dos jogadores prazer em estar jogando futebol? Há quanto tempo você parou de olhar o nosso jogador com admiração?

Alguém pode dizer: “Ah! Mas fomos vice da Libertadores.” E eu pergunto: Há quanto tempo? No mundo de hoje, um ano e meio, dois anos é muito tempo.

Para os torcedores, isso está claro e evidente no momento em que vemos um bando de gente estressada, gritando feito loucos, reclamando de tudo, vaiando seu próprio time. Meu testemunhal é uma prova: Minha família inteira - tios, pais, irmãs e irmão - torcem por um time de outro estado. Me tornei torcedora do Atlético por causa da torcida, fiquei pelo time de 95 (eu gostava de ver a alegria com que jogavam) e pelos outros times que vieram depois. Hoje, não vejo nem uma coisa nem outra.

Sei que isso está meio recorrente no futebol, mas honestamente pouco me importa como está acontecendo dos nossos portões pra fora. Vou lhe dizer quando isso começou. Foi quando se iniciou um pensamento de transformar nosso time e nossa torcida, em algo contido, burocrático no modo de jogar e de torcer. Lembro que cheguei a escrever sobre isso há mais de um ano. Querem transformar um povo sanguíneo em um povo fleumático. Issso não vai dar certo, não está dando certo. Éramos muito mais respeitados quando jogávamos com uma raça que, desculpem-me os tradicionais “raçudos” Grêmio e Internacional, não tinha pra ninguém do Sul ao Norte desse país. Nossa torcida era invejada e nossa casa era temida. Isso não acontece mais.

Qual foi nosso “ataque dos sonhos”? Na minha opinião, dos que pude ver jogar, foi Washington e Dagoberto. Pergunto: Eles são excepcionais? Não, não são! O Dagoberto até poderia ser, mas se perdeu. Eles eram diferentes, juntos ou separados em campo. Diferentes como Rink e Oséas. Eram apaixonados (no caso do Dago a chama apagou há mais tempo). O que quero dizer é que não é necessário investir rios de dinheiro em um time, mas não se pode esperar que qualquer um faça a diferença, porque só faz a diferença quem é diferente. Quando você pega qualquer coisa, é qualquer coisa que terá.

O Clube Atlético Paranaense tornou-se uma empresa sem rumo e está se tornando um time sem identidade. Sim, pois pautar sua atuação como empresa no seu patrimônio é uma coisa, quando trata-se de uma empresa qualquer. Mas quando essa empresa é um time de futebol, a coisa fica incompleta, uma vez que centro de treinamento e estádios invejáveis não fazem gols, não ganham títulos. E mesmo como empresa, isso não trará negócios para sempre, se não houver resultados. Não se trata de uma crítica pura e simples, trata-se de um “Ei! Acorda!” (sem nenhuma referência ao folheto ridículo).

Precisamos continuar fazendo negócios? Sim, claro! Mas ao passo que temos de ser arrojados e inovadores, também temos que manter estratégias que deram certo, quando isso for possível. Desculpe-me o trocadilho, mas em time que está ganhando não se mexe.

Agora, precisamos nos provar. Diretoria, jogadores, torcida. Precisamos mostrar nosso brilho que está pra lá de apagado. Dentro de poucos dias, devemos estar prontos para responder, dentre tantas perguntas, como queremos ser lembrados, como queremos que se refiram a nós.

Time ou balcão de negócios?


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