Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Professores da apatia

02/07/2006


Dois homens com imensa responsabilidade de comandar duas seleções sul-americanas, protagonizaram nestes dois últimos dias, as cenas mais apáticas do futebol mundial. José Pekerman e Carlos Alberto Parreira mostraram qual é a maneira mais difícil de se fazer futebol e a maneira mais fácil de se perder um jogo. Não desmereço aqui, em hipótese alguma, as apresentações e a raça de Alemanha e França, mas a lógica da bola nem sempre prevalece, e na maioria das vezes, os treinadores são os grandes responsáveis pela queda do óbvio.

Pekerman, em atitude covarde, se amedrontou diante de uma Alemanha inteira e resolveu esconder o belíssimo futebol argentino, retirando de campo dois grandes centros de segurança do futebol gringo: Riquelme e Crespo. Jogou a sorte para o alto e os alemães, comendo pelas beiradas, venceram com justiça. Do outro lado, com as maiores estrelas do mundo, Parreira deixou de lado as evidências e preferiu “sortear” a seleção. Em cinco jogos, ainda não havia definido a formação ideal, e diante da primeira seleção que ofereceu uma maior pressão, o professor ficou intacto, pálido, com cara e jeito de fracassado. Me refiro às duas seleções, pois eram as minhas francas favoritas ao título mundial.

Pois bem, deixemos os gringos de lado e falemos da importância de uma liderança em campo. Onde estava o líder da seleção brasileira dentro de campo? E fora dele, existia algum líder? Alguém que “chutasse o pau da barraca” e, pelo menos, oferecesse alguma reação para tentar reverter um resultado negativo? Não, o Brasil não tinha um líder, ou melhor, a seleção brasileira desfilou em saltos altos, em seu último jogo da copa do mundo, com a cara de seu “suposto” líder. Repito que não desmereço o futebol do adversário e saliento ainda a evolução do futebol francês. A França, com sede de vencer o Brasil, não tinha no técnico Domenech a vibração de um treinador, mas era regida dentro de campo pelo maestro Zinédine Zidane. E a França passeou, deitou e rolou diante de um Brasil velho e estragado, um Brasil assustado e em silêncio. O povo brasileiro não sente tanto a dor da derrota, mas a dor de uma seleção que se entregou e desistiu da batalha.

Agora vamos trazer este alerta ao nosso Atlético. De cara, pergunto: quem é, dentro de campo, o líder do Atlético? Fora de campo, na beira do gramado, ao comando da equipe, continuo torcendo por Givanildo, mas ainda temo. Afinal, Giva pode ser considerado um líder? Ou é necessário que ele consulte o Dr. Mário para obter a resposta? E se nós, humildes torcedores, que sempre alertamos que o time tem a “cara do técnico”, nunca fomos ouvidos, que as imagens das quartas de finais da copa do mundo sirvam de exemplo para toda a diretoria do clube. Não estou escrevendo em forma de crítica, nem querendo “azarar” o decorrer do trabalho de Givanildo e sua equipe, mas quero dizer que estamos todos de olhos bem abertos, não apenas neste aspecto, mas também no que diz respeito ao desmanche e as novas contratações. Tudo bem, dinheiro é importante para o futebol, e futebol é importante para o povo, e para o povo atleticano, importância é resultado dentro de campo.

Fora de campo, a diretoria do Atlético é a grande responsável pela evolução do clube. E dentro de campo, como se faz futebol? A resposta não é tão simples, mas é óbvia. Olhem para o ano passado e lembrem-se do líder Marcão, do líder Diego e da vibração da equipe quando olhava para o banco e observava Antonio Lopes enlouquecido. Lembrem-se da superação e da energia que se retirava sabe-se lá de onde para vencer os jogos e estarem exaustos ao final de cada partida, as quais mais pareciam batalhas. O Atlético tinha líderes, tinha referências, tinha planejamento tático, tinha objetivos. Hoje o Atlético possui funcionários, alguns que são aprovados em período de experiência, outros não.

Para nós, lá se foi a copa do mundo. Então, está mais do que na hora de voltar os olhos ao CT do Caju, voltar aos planos de vencer e convencer no campeonato brasileiro e não deixar que o Atlético se torne um time triste e sem referência como se tornaram as seleções da Argentina e do Brasil. Para a Argentina, faltou o simples, o certo e o que eles mais sabiam fazer: jogar e ousar. Para o Brasil, faltou Luiz Felipe Scolari.


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