Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 44 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

Fundamentalismo

29/06/2006


A coluna do colega Jones Rossi foi uma grata surpresa na terça-feira, após o jogo do Brasil. Há tempos sem escrever, Jones acertou na veia ao falar da maneira como a imprensa trata a Seleção Brasileira. Um fundamentalismo paira sobre a cabeça da maioria dos jornalistas, tornando insuportável a cobertura do escrete nacional na Copa.

Criou-se um conceito de que o Parreira é horrível, e tudo o que ele fizer é ruim. Tudo do Brasil é ruim. A validação de um gol em impedimento já vira uma "arbitragem tendenciosa que ajudou o Brasil em um momento crucial" - esquecendo-se que, quando o jogo estava 0 x 0, marcou-se um impedimento inexistente de Ronaldo, que sairia na cara do gol. Carrinhos violentos dos ganeses viram "faltas insignificantes", desmerecedoras de cartão. A bela pedalada de Ronaldo em frente ao goleiro vira um lance normal - "num lance cara a cara com o goleiro, o gol é mera obrigação".

É muito fácil escalar uma Seleção quando não se tem nenhuma responsabilidade. Claro, é só colocar o time inteiro no ataque, sob a justificativa de que "o Brasil tem sempre que dar show". Se der errado, quem vai pagar o pato não são os corneteiros, mesmo. É fácil dizer que o Cicinho joga mais que o Cafu, chega mais na linha de fundo, e ignorar o vão que fica na defesa - isso em um time que joga praticamente com quatro atacantes, e apenas um jogador de marcação no meio.

Trazendo a situação para o caso do Atlético, concordo em partes com o colega Jones. Sempre fui contra o fundamentalismo de que tudo no Atlético está errado, o que, de fato, é apregoado por uma imprensa mesquinha e desqualificada, e às vezes seguido pelo torcedor. Mas também sou contra o fundamentalismo pró-Petraglia, seguido por alguns, que vêem no passado atleticano uma carta branca para fazer o que bem quiser do Atlético. Mesmo nas decisões mais absurdas da diretoria - como o aumento de 100% no valor do ingresso em 2004 - teve quem a defendesse com unhas e dentes (não me refiro a ninguém em específico), sendo que depois de toda a reviravolta a própria diretoria reconheceu o erro.

Nossa diretoria é muito boa. Mas é humana, também erra. E quando erra, acho que é papel de nós colunistas, e do toredor em geral, apontar o que consideramos erros. Não com o fundamentalismo da imprensa verde invejosa, claro, mas também sem correr o risco de se assemelhar à imprensa do jabá.

O debate de idéias não prejudica. Ninguém vai deixar de apoiar o Atlético por considerar, por exemplo, que o Clube está se fazendo de alguns de seus principais jogadores a despeito da campanha pífia no Brasileirão. Ou que contrataram um jogador de 40 anos para a posição em que menos precisamos.

Ninguém vai deixar de apoiar ou torcer pro Atlético, por nada neste mundo. Este fundamentalismo é comum a todos.


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