Jones Rossi

Jones Rossi, 46 anos, é repórter do Jornal da Tarde, em São Paulo, e um dos fundadores do blog De Primeira. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2008.

 

 

Chatos e vira-latas

27/06/2006


Antes do jogo, Gana parecia imbatível. "São altos, fortes e velozes", preocupava-se Galvão Bueno, como se estivéssemos disputando a São Silvestre. Falcão: "este time está mal escalado." Pois o Brasil já começou fazendo gol e deixou claro que era fácil bater os "imbatíveis" africanos.

Termina o jogo e Lédio Carmona - que eu pensava ser um cara lúcido - escreve isto em seu blog: "O Brasil venceu mas não jogou absolutamente nada. O placar foi enganador." Mais. "Vaias mornas e um clima de descontentamento geral. Alguma coisa está fora da ordem." E enquanto escrevo este texto, Casagrande, com sua voz chorosa, enumera os infinitos defeitos da Seleção na TV.

Nossa imprensa exige um futebol que não existe. Se Gana dá três chutes a gol é sinal que nossa defesa é fraca. Se o Brasil não faz um gol por segundo, se não ataca até os 49 minutos do segundo tempo é porque o ataque é lento e o meio campo não funciona.

O comportamento é sempre o mesmo: antes do jogo a imprensa passa a sensação de que o Brasil não vai ganhar, durante o jogo não está dando espetáculo e depois, com a vitória garantida, o resultado foi enganador.

Pensei que haviam aprendido a lição em 2002. Antes da Copa o prognóstico de TODA A IMPRENSA era de um fiasco brasileiro na Copa. Remontou-se aquela ladainha dos anos 50, ressuscitaram o complexo de vira-latas, começaram a citar a Europa como modelo a ser seguido. O Brasil levou fácil a Copa.

Os burros não aprendem. Nesta Copa bastou a Argentina golear para quererem moldar o Brasil à imagem e semelhança dos rivais.

Pois não é que, "mal-escalado", "sem meio-campo", com uma defesa "fraca", com "alguma coisa fora de ordem", o Brasil foi o time que passou de forma mais tranqüila pelas oitavas? Mas isso não basta para a imprensa brasileira, que teima no erro. Boa mesmo, para nossos jornalistas, é a Itália, que ganhou com pênalti duvidoso da Austrália (aquela mesmo que perdeu por 2 a 0 para a gente), é a Argentina, que levou um couro do México.

Todas, repito, todas as apostas da imprensa neste e na maioria dos outros Mundiais têm se mostrado furadas. Fizeram e fazem um papel vergonhoso. Em 98 ninguém soube do problema do Ronaldo. Parecia que estavam na França a passeio. Em 2002 só previram tragédia para uma seleção que repetiu 70 e venceu todos os jogos. Em 2006 deram Ronaldo - artilheiro do Real Madri nesta temporada, mesmo em má fase - como acabado para o futebol. Juca Kfouri, sempre mala, chegou a pedir que Parreira colocasse ele no banco como forma de "preservar a dignidade" do craque.

Não percebem que em nossa seleção, além de ser muito melhor que as outras, tem um técnico campeão que sabe mudar o time quando é necessário. São profissionais que sabem vencer. Ao contrário da nossa imprensa que só faz perder, perder e perder.

Para quem chegou até aqui e já estava se perguntando "o que raios isso tem a ver com o Atlético", obrigado pela paciência.

O problema é que a torcida atleticana, influenciada por uma imprensa que cobre mal o Atlético, e por sites ridículos dos coxas, que parecem estar mais preocupados com o Atlético com o próprio time, muitas vezes encarna o complexo de vira-lata.

Vejo torcedores escrevendo no Fala Atleticano que a Arena parece um shopping. Meu Deus, esse pessoal quer o quê? Um estádio como o do Paraná, como o do Coritiba?

Lembrem-se: não há nada no Paraná que remotamente se compare ao Atlético. Eles estão muito atrás em todos os pontos. De torcida a estádio, passando por CT, categorias de base. Em tudo o Atlético é melhor.

Ninguém quer uma massa acéfala torcendo para o Atlético, mas estamos sendo críticos além da conta com nosso próprio time, como os comentaristas de TV são com a Seleção. Exigimos um Atlético que nunca existiu e talvez nunca existirá, um Atlético que mantenha todos os jogadores e ainda contrate um Carlitos Tevez e o Ronaldinho Gaúcho.

O Atlético não cresceu criticando o que estava sendo feito. O Atlético cresceu fazendo diferente de todo mundo. Está na hora da torcida ser diferente (ou igual ao que foi há algum tempo) e simplesmente apoiar o Atlético. Afinal, que outro time paranaense nos últimos cinco anos foi uma vez campeão brasileiro, uma vez vice, chegou à final da Libertadores e ainda teve um jogador campeão mundial pela Seleção?

Pois é, não é possível que o que esteja sendo feito no Rubro-Negro seja tão errado quanto pintam. Pelo contrário, sempre estivemos no caminho certo e continuamos nele.


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