Sergio Surugi

Sergio Surugi de Siqueira, 66 anos, é Atleticano desde que nasceu. Neto de um dos fundadores, filho de um ex-presidente do Atlético, pai e avô de Atleticanos apaixonados, é doutor em Fisiologia e professor. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Patrulhamento

03/06/2006


Durante esta semana, com exagerado destaque, diga-se de passagem, noticiou-se que os jogadores da Seleção Brasileira estavam numa casa noturna, aparentemente muito bem acompanhados, exatamente no período de folga da concentração. Não se viu nas fotos, nenhum excesso e muito menos se noticiou algo que extrapolasse o que se imagina de uma atividade normal de lazer de pessoas também normais. Nenhum jogador retornou ao hotel após o horário previamente determinado pela comissão técnica.

Na foto que ilustrou a reportagem sobre o acontecido, ao invés dos craques multimilionários, poderiam estar um advogado famoso, um magistrado, um cientista, um cirurgião, enfim, qualquer um que goste de se divertir daquela forma e nem por isso suas respectivas carreiras ou prestigio profissional deveriam ser colocados em cheque, mas com o craque de futebol a coisa é diferente. Seja onde for, existe sempre uma cobrança incomum sobre o que cerca a vida pessoal de um boleiro.

O mais estranho, não foi o comportamento dos canarinhos durante a noite e sim as respostas que alguns deram nas entrevistas, no dia seguinte. A maioria mentiu sobre o que havia feito e aonde tinha ido. Aparentemente estavam tão apavorados com o patrulhamento, que preferiram negar que haviam saído para descontrair e gozar um pouco dos benefícios de ser rico, bem-sucedido e famoso.

No Atlético a coisa não é muito diferente e sempre que os resultados não aparecem ou que determinado jogador entra em má fase, a galera começa a especular e logo aparecem as acusações de cachaceiro, mulherengo, etc.

Claro que atualmente, a ciência do esporte tem todas as ferramentas para recomendar esta ou aquela conduta, sempre considerando a necessidade de se tirar o máximo rendimento dos atletas e em particular dos futebolistas, porém a coisa não é tão simples assim. Jogadores de futebol não são robôs, não são máquinas e no futebol, especialmente no brasileiro, o emocional e o psicológico contam muito.

Eu, que na minha juventude tive a oportunidade de acompanhar dentro do Atlético a trajetória do Zé Roberto, um dos maiores craques da história Rubro-Negra, acabei ficando mais tolerante em relação ao que acontece nos momentos de folga de nossos jogadores.

Acho que, se bem orientados, os jogadores têm sim, direito ao divertimento que preferirem. Acho ainda que o limite é facilmente percebido e respeitado quando existe um grupo coeso, com liderança forte e positiva e principalmente comprometido com os objetivos maiores.

Neste sentido é emblemático o exemplo do grupo de 2001, que após um jogo da fase "play-off", pediu para entrar imediatamente em regime de concentração para o próximo jogo. Tenho certeza de que o motivo da reclusão voluntária não era evitar que alguém caísse em tentação, mas sim o de concentrar as energias na busca pelo título, com a consciência de que atingir o objetivo era algo que dependia da colaboração e da união de todos.

Deste modo, antes de nos preocuparmos com a maneira com a qual os nossos jogadores gastam o seu dinheiro e o seu tempo livre, vamos centralizar o foco na análise do ambiente que existe entre eles, quais as suas expectativas para a temporada e principalmente se há orientação e liderança adequada para que os objetivos sejam atingidos.

Quando houver a certeza de que o grupo tem a postura de vitorioso, estou certo que uma ou outra escapadinha não fará nenhuma diferença.

Que os caros leitores divirtam-se no fim de semana e que não se preocupem em ter muito juízo. Tenham só o necessário para que na segunda-feira as lembranças sejam nada mais do que um grande estímulo para alcançar uma semana vitoriosa.


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