Fernanda Romagnoli

Fernanda Romagnoli, 51 anos, é atleticana de coração, casada com um atleticano e mãe de dois atleticanos. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Um estatuto: Paixão!

28/05/2006


Depois de discutir a relação a gente fica assim: dá um tempo para ver se as coisas melhoram. Fica ali a espreita, transitando entre a fúria de lembranças desconstrutivas (que geralmente acabam com um “eu te disse”) e a compaixão de compreender que todos temos defeitos, ninguém é perfeito, existem tentativas de melhora e que, enfim, não se escolhe quem se ama. Isso nunca acaba.

Este exercício mental é bacana. Pensamos qual a razão das coisas, a origem das boas e ruins. E então, tive mais um “insigth” : está tudo muito racional, planejado, programado, cheio de defesas.

Está certo que temos muito o que agradecer e louvar, mas não se pode esperar do torcedor que ele veja seu time jogar sistematicamente mal; ver um técnico que apesar de bom, não tem absolutamente nada do espírito atleticano e pior de tudo, ver nossa casa que sempre amedrontou todo mundo, virar lugar comum.

Não podemos nos esquecer qual é o objetivo social do Clube Atlético Paranaense. Melhor. Qual o objetivo social de um clube de futebol? É ser um time de futebol. Com time, gol e ser imbatível em casa. Se tomarmos por base a constante lembrança do quão boa é a estrutura do CAP, temos ainda mais responsabilidade de sermos imbatíveis em casa.

Então, agradeço e reconheço tudo o que a diretoria, sob o comando forte do Sr. Petráglia, tem feito por nosso time. Não sou e nunca fui oposição a ele, mas tenho o direito de cobrar dele o que me foi vendido há onze anos. Eu acredito no que ele expôs em sua coluna (?) no site oficial do Atlético. Para quem não lembra, transcrevo abaixo:

“Sempre estive junto da grande nação atleticana, embora, vez ou outra, possa ter dado a impressão de estar isolado e afastado da grande razão do Atlético existir, os mais de um milhão de amigos rubro-negros. Se dei esta impressão, humildemente, peço o seu perdão e a sua compreensão. Meu sangue é atleticano, nas minhas veias corre o mesmo sangue fervente que esquenta a alma de todos os rubro-negros.”

Sei também que promessas de títulos no início de temporada, feitas por qualquer dirigente são no mínimo uma demonstração de arrogância. Mas sou uma das representantes dos 51% da torcida rubro-negra e pode ter certeza que vou cobrar a promessa que nos foi feita na mesma coluna.

“Estamos passando por um momento turbulento, mas acredite, vamos sair dessa. Estou sofrendo como você, mas buscando a saída. Prometo que não nos afundaremos no mesmo buraco em que se encontram aqueles que um dia rivalizaram com a gente.”

Ah, mas ganhamos ontem - alguém pode dizer. Sim ganhamos, sabemos como, mas ganhamos. Jogamos melhor que em outras vezes, mas ainda falta muita grama para sairmos dessa situação incômoda. Não ficamos nervosos antes de uma partida neste brasileiro, ficamos angustiados. E angústia é para quem está inseguro.

Nesse momento, quero lembrar o Artigo 10º do Estatuto do Clube Atlético Paranaense onde diz “O Clube Atlético Paranaense adota como legenda oficial ‘A camisa rubro-negra só se veste por amor’”. Isso é o oficial, o jurídico, a razão como quer um estatuto. Acontece que o amor não é só uma legenda, é uma lei! A lei que rege todos nós que vamos ao estádio, e que se não podemos ir, ficamos grudados no radinho. A lei que rege a todos que no atual momento, defendem seu time só pela sua estrutura e não pelo time em si, pelos seus resultados. O amor, a nossa paixão pelo CAP é o único artigo de nosso estatuto.

Mas esse amor que nos habilita a vestir essa camisa deveria valer para todos os participantes, independente da relação que têm com o Atlético. Explico: nós, torcedores atleticanos, amamos nosso clube e fazemos nossa parte – só nós sabemos a que preço. Mas dependemos de pessoas que hoje podem estar no CAP, mas até ontem eram Santa Cruz, Paulista ou outra agremiação. Dependemos de técnicos e jogadores que amam sua carreira, o bem estar de sua família, um carro novo. Dependemos de dirigentes que muitas vezes vêem o Atlético como uma empresa que tem de dar certo. Tecnicamente isso não tem nada a ver com o TIME Atlético, com a paixão atleticana. Para estas pessoas eu tenho um apelo a fazer:

Respeitem a paixão que sentimos pelo nosso time e que nos fazem elevá-los a categoria de heróis, mesmo quando vocês não são tão merecedores assim. O Atlético, como qualquer grande time deste planeta, pode ser uma grande vitrine para que vocês ganhem destaque dentro do mercado. O Dagoberto pode falar sobre isso para vocês. Mas eu peço que vocês paguem um pouco mais por uma ligação telefônica e liguem para o Washington. Ele pode falar para vocês de respeito, futebol e paixão. É o que a gente quer!


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