Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Panfletagem: só depois do jogo, por favor

26/05/2006


Não sei o que o "Movimento Acorda Torcedor Atleticano" tem a dizer ao torcedor. Também pouco me importa. Mas seja lá o que for que a turma panfletária tem a distribuir, que seja entregue na saída. Amanhã o Atlético tem um importante compromisso, em que a vitória urge. E um clima positivo na Kyocera Arena ajudaria e muito.

Desta vez, o panfleto que anunciaram que será entregue (ou deveria dizer santinho, tamanho o teor político), vem assinado com os nomes de Renato Sozzi e Maria Lúcia Simas. Ótimo. Isto é digno. Dá legitimidade ao protesto. Deixa de ser uma coisa meio Al-Quaeda, escondida atrás de uma sigla que não diz nada. Siglas não dizem nada, o que dizem são as pessoas. E parafraseando Voltaire, posso até não concordar com o que dizem, mas lutarei até a morte pelo direito de dizerem. Portanto, vou exercer o meu direito: acho essa panfletagem uma tremenda bobagem demagógica sem propósito definido e que não levará a nada. Serve apenas para esquentar os ânimos já exaltados neste momento de crise. E crises fazem parte de um clube grande, como é o Atlético de hoje. Mas esta é apenas a minha opinião.

Segundo li na imprensa até agora, eles baseiam-se em sofismas. Sofisma, como diz no Aurélio, é "argumento aparentemente válido, mas, na realidade, não conclusivo, e que supõe má-fé por parte de quem o apresenta; falácia, engano, logro, burla, tapeação. Argumento falso formulado de propósito para induzir outrem a erro". O principal sofisma é quando o líder do movimento diz que Petraglia não ganhou nada de importante desde que "tomou o poder", em 2002. Na verdade, todos sabem, Petraglia sempre esteve no poder, nunca "tomou o poder" de ninguém.
Sempre foi o principal comandante desde a Revolução Atleticana de 1995. Tudo o que veio a seguir, foi concebido com sua chancela. Os presidentes que assumiram o cargo, respeitavam-no e não decidiam sem consultá-lo. Sua visão de futuro sempre foi fundamental no processo todo. O sucesso dos primeiros dez anos do projeto não teria sido alcançado se Mário Celso não tivesse sido irredutível mesmo quando propôs sacrifícios impopulares, contrariando alguns que estavam junto no comando. Petraglia nunca tomou o poder, sempre esteve à frente do Clube desde então.

Não é fácil ter que mandar, ter voz firme e ativa, dar a cara à tapa, assumir responsabilidades e culpas. É muito mais fácil ter uma atitude demagógica, gastar dinheiro à rodo, contratar medalhões e depois sair, deixando para trás dívidas irresponsáveis. Não é um trabalho fácil, mas alguém tem que fazê-lo. Petraglia tem razão: é o único que pode finalizar a Arena, e isso acontecerá já em 2007. É o único que não se deixaria levar pela tentação da ovação pública. Não é à toa que é a Petraglia que a torcida deseja ouvir, é dele que cobra soluções, é dele que espera realizações. Que outro comandante teria a coragem de encher o estádio de conforto, transformando-o em modelo de segurança e respeito ao cidadão, mesmo tendo que subir o preço dos ingressos? Que dirigente teria peito de domar a torcida organizada, para que esta seja atualmente modelo de torcida organizada ordeira no Brasil? Que presidente de clube conhece o Relatório Taylor (normas de segurança para torcedores implantado na Inglaterra e que revolucionou a segurança nos estádios naquele país e é seguido na maioria os países desenvolvidos) e já o coloca em prática, como na segura e moderna Kyocera Arena? Que presidente faria um acordo de "naming rights", rebatizando o estádio, em um acordo aplaudido hoje, mas apupado no início?

Sim, realmente erros ocorreram e ocorrem. Falhas acontecem porque são conseqüências de atitudes humanas. Nosso time iniciou mal o ano, e, como o Petraglia mesmo disse, a vinda de Lothar Matthaüs foi um enorme erro. Mas e se desse certo? Todos já imaginavam o que o sucesso do alemão poderia trazer ao clube. Mas não deu certo e só sobrou terra arrasada. A vinda de Givanildo ainda não teve êxito, mas Givanildo não é um mau técnico. Veio na hora errada, mas ainda pode dar certo. E, segundo dizem, é um homem de elevado caráter, algo não muito comum entre técnicos. Petraglia diz que poucas vezes conheceu um sujeito tão sério e honesto, considera uma pena que ainda não tenha dado certo. Não concordo com suas fugas, com esse medo da imprensa, mas o Atlético de hoje é uma panela de pressão, sei lá o que aconteceu, mas muitos atleticanos hoje perderam os limites do respeito ao protestar e ao exigir coisas. A maneira como se referem ao Givanildo é desrespeitosa e tosca. A maneira como se referem ao Petraglia é uma falta de respeito com a pessoa que nos trouxe até este patamar que ocupamos no futebol brasileiro. Qualquer coisa no Atlético, desde um possível acordo com uma cervejaria, já causa reações desproporcionais de eprovação.

Espero que não haja no panfletinho linguagem tosca, ofensiva, adjetivada por palavras como "imperador", "ditador", ou "balcão de negócios". Estas adjetivações pejorativas desqualificam qualquer texto na hora de convencer alguém que tenha uma razoável instrução. Insinuações de roubo, baseadas em reportagens de uma revista da ensimesmada mídia paulista, escritas sem provas ou base factual, também não colam com o torcedor atleticano que analisa as coisas com a razão. Se há insatisfação, que seja transcrita de forma séria, responsável e respeitosa, que não tenha o objetivo de criar turbulência para que osargumentos sejam digeridos na base da emoção. Frases como "devolver a paixão aos atleticanos" são bonitas, mas pouco dizem, é apenas forma, o conteúdo é zero. E alternativas, idéias, soluções, vão estar contidas no folheto? O outro, apócrifo, não tinha. Nomes para o lugar do Petraglia, vão ter? Qualquer nome. Renato Sozzi e Maria Lúcia Simas servem. São nomes. O de Renato Sozzi é até razoavelmente conhecido, pois prestou serviços ao Atlético junto à torcida no passado, está muito longe de ser atleticano de ocasião. Renato Sozzi para presidente!

Inteligência, conteúdo, verdade, soluções, respeito, justiça, responsabilidade. É isso que espero no folhetinho. Xingamentos, ofensas e vontades pessoais, não. Mas o que mais espero, é que o Atlético vença o Juventude e parta para o rumo das vitórias. Que um clima de amizade, respeito, educação e positividade contagiem a Baixada. E que, depois do jogo, seja entregue o panfletinho, para que os atleticanos de cabeça fria ou quente, dependendo do resultado, analisem o conteúdo. Mas depois do jogo, para que suas ações durante a partida não sofram influência. Será que é bom negócio entregar um folheto após uma grande vitória do Atlético? Ou será que será um ótimo negócio entregar após uma derrota para aproveitar os ânimos exaltados e ganhar aliados? Seja lá o que for que esteja escrito no folheto, não deve depender de nenhuma destas opções.


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