Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Como fazer o errado

23/05/2006


Qualquer um de nós sabe como é difícil conquistar algo na vida. Um carro por exemplo. Algum tempo de economias, aquela ajuda maneira do pai, da mãe, quem sabe do padrinho abastado, e mais um tempo depois se empenhando para pagar as prestações. E ainda tem o seguro, o IPVA e o combustível. Ter um carro hoje em dia não é tão difícil como outrora, porém mantê-lo é complicado.

E conquistar a mulher amada? Tempo, conversa, mudança de hábitos, flores, lugares bacanas para impressionar a moça, jantar fora, enfim, um sem número de coisas que fazemos para provar que somos bons, merecedores de uma chance.

Mas reparou que para perder é fácil?

Uns drinques a mais, uma leve desatenção e o bólido foi-se. Por vezes até mesmo sem sua própria culpa, mas a gente fica sem o veículo do mesmo jeito e para recuperá-lo nos custa mais do que para adquiri-lo, além de termos que ter aquela dose extra de paciência. E uma mentira á toa, um deslize que por menor que seja pode afastar a pessoa que tanto lutamos para conquistar. Também aí, por vezes sem ter culpa alguma, mas até provar que focinho de porco não é tomada, a coisa já desandou.

Esta, friso, competente diretoria faz tudo certo. Não tem como competir financeiramente com times como o poderoso São Paulo, o milionário Corinthians ou o popularíssimo Flamengo ou mesmo o Vasco que só de camisas vendem mais do que conseguimos com alguns atletas. Não adianta dar murro na mesa, ficar bravo e fazer bico se a Rede Globo prefere passar jogos desses times sempre, pois nós também gostamos de ver o Real Madrid, mesmo mal, do que o emergente Valencia na tv.

Esta competente diretoria consegue fazer dinheiro onde ninguém consegue. Os naming rights são o maior exemplo: nos pagam para não fazermos nada. Ninguém é obrigado a chegar no Joaquim Américo pilotando sua moto Sundown e nem precisa falar ao telefone com seu celular Kyocera e nem pode tirar fotos com um aparelho dessa marca. Está lá, eles nos pagam para exibir seus nomes e pronto, ganhamos dinheiro.

Esta competente diretoria, que sabe tudo de marketing e negócios, consegue negociar muito bem seus jogadores. Os negocia tão bem, que muitos deles mal chegam ao Furacão e já estão pensando em ir embora, outros insistem em não jogar futebol, mas são vistos nos pagodes por aí e até jogando tênis e não parecem sentir dor.

Quem comanda o Atlético, com o olho firme e atento nas finanças, com uma administração impecável que nos fez o clube que mais cresceu na última década, sabe lidar com um orçamento, só de dinheiro da tv, quase 8 vezes menor que os clubes mais populares do Brasil. Esse pessoal, repito, muito competente do marketing, esta travando uma batalha heróica no interior do Estado, tentando com todas as forças superar a hegemonia gaúcha no sudoeste e oeste do Paraná e paulista no norte de nosso querido Estado. Promoções, quiosques do clube, enfim, uma gama de recursos que são usados para seduzir o torcedor-consumidor, público alvo da administração atleticana, que o Atlético compensa, que vale a pena torcer por um time assim.

Só tem uma coisa, um detalhe que está escapando entre os dedos de quem manda: o futebol. O tal do esporte bretão trazido por Charles Miller em 1895, juntamente com o rugby (minha outra paixão), mania nacional no país pentacampeão mundial (Oxalá hexa em breve), coqueluche dos jovens, um dos poucos orgulhos que temos em nossa país tropical, bonito por natureza. Não há marketing que faça alguém gostar de ser saco de pancadas, motivo de chacota ou posar de grande e sequer vencer em casa.

Nem nos tempos da Baixada de tijolinho, do Farinhaquão, do enorme pinheiro atrás daquele tobogã que chegava a dar medo, vi um time tão medroso dentro de casa. Aqui já vi o Grêmio de Felipão segurar um empate levando duas bolas na trave, vi o Palmeiras de Djalminha, Cleber, César Sampaio sucumbir em menos de 15 minutos, aqui eu vi o Vasco de Edmundo e Evair levar um banho da chuva intermitente e de Oséas e Paulo Rink. Vi o poderoso Corinthians de Dida, Gamarra, Ricardinho e Rincón segurar empate, enquanto Lucas se apresentava para o então goleiro flamenguista Clemer, dizendo "eu sou o Lucas".

Hoje temos um bando em campo, uns zumbis que mal sabem o que significa o Atlético. Temos um capitão que joga futebol de Zambiasi, mas se acha um Baresi. Aliás, nunca um capitão combinou, foi tão imagem e semelhança do treinador como Danilo o é para Givanildo.

Senhores, tudo que foi conquistado com muito suor e sangue, com muita raça, abnegação de dezenas de atleticanos, está sendo colocado abaixo. Não queiram reinventar a roda. Futebol é simples, basta alguém que saiba comandar os atletas, alguém que contrate para o time, não para uma futura venda, que vai se concretizar, mas tudo dentro do seu tempo. O que os homens de negócios da década passada gostavam de falar deveria entrar em voga no atual estágio do Atlético: re engenharia. Fazer de conta que está tudo bem, ou ficar torcendo para o que não vem dando certo há tempos, de repente, como que num passe de mágica venha a funcionar, não cola.

Desde o empate no Xingu contra o J. Maluceli venho batendo na tecla que o time é fraco e que Vinicius Eutrópio não servia. Não bastaram as derrotas e eliminações para os times da ADAP e do Voltaço, nem as duas derrotas seguidas em casa para que abrissem os olhos. Só finanças não resolvem, basta ver nosso rival verde, se batendo na segundona, com saldo expressivo de quase R$ 18 milhões em 2005. Ou seja, finanças entrando em equilíbrio e o time lá embaixo, compensa?

Tudo o que fizeram certo, estão fazendo de errado agora. Ainda há tempo, mas quanto mais tempo demorarem para mudar o rumo, mais longe o navio estará do porto, dificultando o resgate dessa nau à deriva que se tornou o atual Atlético.

Desculpem pelo longo texto. Sequer fui ao jogo sábado, mas sexta comprei duas camisas oficiais e comprei ingresso que dei a um conhecido pois sabia que não iria ao jogo. Procurei cumprir meu dever de atleticano. Isso não é uma coluna, é um desabafo de quem ainda é apaixonado. Ainda!


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.