Sergio Surugi

Sergio Surugi de Siqueira, 66 anos, é Atleticano desde que nasceu. Neto de um dos fundadores, filho de um ex-presidente do Atlético, pai e avô de Atleticanos apaixonados, é doutor em Fisiologia e professor. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Perseverança e teimosia

13/05/2006


Perseverança e teimosia são coisas diferentes, mas que possuem um ponto fundamental em comum. O teimoso, na realidade é um perseverante que escolhe o caminho errado, não percebe o equívoco e por causa disso, erra reiteradamente. Como o julgamento só pode ser feito no final de um processo e como nem sempre fica claro que algo já se esgotou, é difícil diferenciar o perseverante-visionário, do teimoso.

Tanto um como o outro, vêem o mundo de modo diferente. O visionário insiste em determinado comportamento porque vê coisas que existem e que os outros são incapazes de perceber, já o teimoso também enxerga as coisas de uma maneira distinta, porém sua ignorância o impede de discernir, levando ao erro contumaz e ao desastre.

Um exemplo claro de como é difícil separar estes dois conceitos é exatamente quando tentamos julgar o comportamento do Atlético quando escolhe o treinador para início de temporada. Reiteradamente, nossa diretoria tem optado por gente de menor visibilidade, treinadores que não fazem parte daquele grupo que circula pelos times mais conhecidos.

É fácil de compreender e até de concordar com estas opções quando a gente leva em conta o desgaste do discurso dos treinadores que costumam atuar nas principais equipes do Brasil. Realmente não é fácil acreditar na capacidade e até no profissionalismo de grande parte deles e por causa disso, nossos diretores têm procurado insistentemente a novidade.

No passado recente, tivemos mais decepções do que surpresas agradáveis. Vieram Heriberto e Mior, como exemplo de apostas mal sucedidas, porém também apareceram Abel Braga e Vadão, que de quase desconhecidos, despontaram no Atlético e daqui decolaram para comandar outros times com sucesso.

No presente, estamos insistindo com Givanildo. Um destes treinadores que estava fora do circuito da primeira divisão, que já havia tentado a sorte em equipes fora do Nordeste e que acabou tendo algum sucesso como treinador em um time da região que o projetou para o futebol, ainda como jogador.

Infelizmente não acredito que Givanildo consiga fazer frente às expectativas que a torcida e a diretoria têm em relação a ele e ao que o Atlético pode fazer nesta temporada. Não o conheço, mas não estou sendo leviano. Minha opinião pessoal está fundamentada por aquilo que Givanildo mostra publicamente. Nas entrevistas, eu não ouço de Givanildo uma (sequer umazinha) análise sobre o comportamento tático, tanto do Atlético como do adversário. Algo que possa explicar ou até justificar os seus erros na armação do time. No gramado, durante o jogo, ele alterna os braços cruzados, com as mãos nos bolsos da calça, algumas vezes balançando a cabeça em sinal de desaprovação. Gritar, gesticular, orientar, passar energia? Isso eu ainda não vi. São estes sinais exteriorizados por aquele que devia comandar os destinos do Atlético nesse ano que me fazem desconfiar, agora talvez de modo leviano, que Givanildo não é treinador para o Atlético.

Se isso se confirmar, logo ele já não estará mais por aqui e toda a nossa preocupação será com o perfil de seu substituto. Será alguém cuja competência e discurso já sejam conhecidos, ou será que virá mais uma novidade?

Vamos esperar que desta vez a gente acerte em cheio, mas se não acertarmos, com certeza vai ficar mais fácil de perceber o momento exato em que a perseverança se transforma em teimosia.


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